Por a 2 Fevereiro 2023

Os arquitetos Filipe Pina e David Bilo assinam o projeto de arquitetura desta casa concluída em 2022, rodeada pela paisagem serrana, não muito distante da freguesia de Gonçalo, na Guarda.

Projeto: Filipe Pina e David Bilo / Fotografia: Ivo Tavares Studio / segundo memória descritiva

Com um área total de 320m2, localizada num abrigo natural no vale do sopé da Serra da Estrela, e próximo da freguesia de Gonçalo, numa zona igualmente conhecida pelo nome de Mora, a propriedade agrícola, com aproximadamente 18 hectáres, rodeada de uma densa floresta de espécies pináceas, apresenta-se cuidada e preservada, nomeadamente através da atividade agrícola nela desenvolvida.

No centro, destaca-se uma pequena pré-existência de granito construída em meados do século XX, a qual foi tomada como ponto de partida para este novo projeto. A necessidade de um novo programa habitacional não deveria descurar a atividade desenvolvida na quinta, pelo que, num primeiro gesto, optou-se por separar o antigo do novo.

Contudo, as condicionantes e a morfologia do terreno, fortemente marcada por vários socalcos, conjugados com as exigências e a ideologia do programa, encaminharam os arquitetos para a solução de ampliação da habitação.

De forma natural, surgem dois novos volumes de betão aparente, implantados num socalco existente, que ‘namoram’ com a pré-existência, permitindo o desenrolar fluído do programa habitacional e agrícola vivido nesta quinta beirã.

Assim, na zona vulgarmente conhecida por Mora, nasceu a casa NaMora, onde a massa de betão que contém o novo programa ‘namora’ formalmente com o corpo de granito existente, em total harmonia com a paisagem envolvente.

O programa foi claramente divido em dois momentos: arrumos, zona técnica, instalação sanitária de serviço e cozinha, localizados na pré-existência, inteiramente dedicada à memória e vivência da quinta. Sala de estar, quartos, suíte e espaço exterior de lazer integram a parte nova da habitação.

No interior, procurou-se a neutralidade, simplicidade e pureza dada pelos materiais e pela ilusão da ausência de detalhe. A ideia de interioridade traduz-se no controlo das aberturas para vistas e enquadramentos selecionados e pátios estrategicamente localizados.

A escala da intervenção e a identidade natural do sítio estiveram sempre presentes, quer na escolha do sistema construtivo, quer na materialidade introduzida: pedra, betão, aço e madeira. No interior, o branco e o conforto da madeira equilibram a presença crua e austera do betão aparente. No exterior, pedra e betão são esculpidos da mesma forma, numa reinterpretação da arquitectura vernacular desta região.

Em memória do Sr. António da Costa Gonçalves.

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