Por a 23 Dezembro 2020

A arquiteta de interiores, Paula Matos Santos, abriu-nos a porta do seu duplex de Lisboa e gostámos (muito) do que vimos. Rapidamente reconhecemos, neste ambiente despreconceituoso, o seu cunho tão característico na mistura de estilos, com toque industrial, e cruzamento de peças nascidas em épocas assumidamente distintas.

Fotografia: Paulo Lima I Produção: Amparo Santa-Clara

Texto: Mafalda Galamas

Texto: Por Mafalda Galamas

O antigo prédio, hoje convertido numa propriedade unifamiliar, é agora residência de uma alma criativa. Viver no centro da cidade numa casa de “alma antiga”, com a independência de uma moradia, mesmo sem o ser (ainda por cima com área exterior!), é uma característica rara. Esta foi apenas uma das causas para que entre esta habitação e a arquiteta nascesse um amor à primeira vista.

Ao entrarmos, somos recebidos pelas antigas escadas do prédio, íngremes e estreitas, que atravessam agora a sala juntamente com a gaiola pombalina. O espaço foi totalmente remodelado e as antigas zonas comuns do prédio fundem-se com o resto, como se sempre assim tivessem estado.

A sala de estar é a que primeiro recebe os que por aqui passam. O eficaz sistema de construção antissísmica, que se adotou após o terramoto de 1755 e que põe a descoberto a estrutura de madeira incorporada nas paredes de alvenaria, foi descascado e permite que a sala areje de forma mais fluída. Também o pavimento original em pinho foi tratado e recuperado.

Em termos decorativos, o móvel alto de madeira foi o ponto de partida para o resto. Transitou da antiga casa da proprietária, mas aqui as peças vivem de uma outra maneira, assume a arquiteta e decoradora.

A consola preta encostada à parede e a mesa de centro foram desenhadas e executadas por Euclides de Barros, da loja Pátria. O sofá e cadeirão são Area, assim como a cadeira castanha de cabedal. Pela primeira vez, Paula Santos introduziu o cobre nas suas decorações, como, por exemplo, nos candeeiros nas mesinhas de apoio, ou almofadas.

Muitas das peças da proprietária são antigas e de família, sendo umas recuperadas e outras orgulhosamente mantidas na mesma. As molduras, os frascos art deco, as garrafas, a máquina de filmar assente no chão, os candelabros de pé, os espelhos… Existem também as que foram adquiridas em lojas antigas, ou antiquários, como as caixas em pele debaixo das mesinhas, que guardam as fotografias de família.

Nas paredes, encontramos obras de Paulo Velez e, por cima do sofá, uma fotografia captada em Londres, da autoria da proprietária. Foi tratada e repartida em duas, dando a ideia de se tratar de uma ilustração.

A sala é comum e na zona de jantar a mesa veio de Bali, tendo sido personalizada por Paula Santos. São, na verdade, duas mesas de restaurante que a decoradora uniu com uma placa grande de mdf e aplicou cimento por cima. Ao centro, a peça decorativa é Rita Roquette Interiores. E as cadeiras são diferentes entre si propositadamente. 

Ao lado, destaque para outra peça personalizada pela proprietária: o armário de escritório foi pintado de cobre, e aplicado um tampo de cimento, fazendo a ligação com os tons da sala de estar. Os dois candeeiros em cima são, também, Rita Roquette Interiores, e na parede vemos uma combinação aleatória de cerâmica com pratos brancos.

É igualmente aqui que percebemos uma das paixões de Paula Santos… A coleção de bules que convive harmoniosamente no carrinho de chá dos avós da proprietária. Ao canto, também a secretária foi herança do avô e combina inesperadamente com o banco que veio de Bali. Ambos usufruem do calor e luminosidade privilegiada vindos do jardim.

Lá fora, nas traseiras da casa, um inesperado espaço exterior lembra o campo na cidade, com área para tratamento de roupas, zona lounge e de refeição.

No piso de cima estão reservados os quartos. A suite da decoradora mantém algumas características originais da construção, como o teto em ripas de madeira pintadas de branco. A parede em antracite ganha destaque na paleta de cores do quarto.

As mesas-de-cabeceira são antigos bancos de escritório, adquiridos num depósito de velharias no Alentejo. E a mesa ao fundo da cama era um antigo aparador, ao qual a decoradora cortou as pernas, transformando-o numa mesinha mais baixa. A máquina de costura é meramente decorativa e o arquivador antigo, encostado à parede, foi comprado numa loja de antiguidades na Rua de Santa Marta, em Lisboa. Está enquadrado com a inicial da proprietária: “P”.

Em frente, o quarto da filha tem um mood mais leve e jovial, com um cacifo personalizado pela decoradora em tons de bege e destaque para a Iluminação de parede Ask doc”, numa referência aos profissionais de medicina dentária.

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