Por a 23 Setembro 2020

Não é decorador nem arquiteto. Não gosta de “títulos” e assume-se como um autodidata. É empresário e – acrescentamos nós – alguém com um talento inato. Frederico Oliveira Santos é o proprietário da República das Flores, uma loja fora da caixa, referência no ramo da decoração com flores, que encontrou no Chiado espaço para se afirmar. Entre os vários projetos de interiores que surgem no seu percurso – quando amigos o desafiam – está o loft onde viveu até há relativamente pouco tempo.

Fotografia: Revista Urbana / Texto: Mafalda Galamas

Habituámo-nos a ver as casas a invadirem os armazéns industriais nos filmes americanos, porém, na nossa realidade esta dinâmica tem poucos anos. É, no entanto, cada vez mais comum, a procura por estes espaços amplos, com as suas estruturas expostas e combinadas com uma decoração pensada ao detalhe. O open space que hoje partilhamos, situado na Av. 24 de Julho, em Lisboa, com cerca de 200 m2, distribuídos por dois pisos, é um desses casos.

Além da localização, o que mais cativou Frederico Oliveira Santos foram os (quase) seis metros de pé-direito da habitação com mezzanine. A imensa luminosidade, em contraste com a presença do ferro das vigas existentes, foi a combinação perfeita para uma decoração assumidamente masculina.

A parte de qualquer casa, habitualmente, mais recatada e reservada à intimidade dos proprietários, é, neste caso, bem visível. A ausência de paredes ou outro tipo de estrutura rígida deixa a descoberto parte do quarto, situado na mezzanine, podendo assim ser admirado no piso inferior da habitação.

A cama ao centro ganha, forçosamente, o maior destaque da divisão. Está encostada a uma cabeceira em ferro que se trata, na realidade, de uma estante encomendada para esse propósito. As mesas-de-cabeceira em bambu e ferro servem de apoio aos candeeiros de latão. Não são os únicos no quarto, podemos observar outros dois, de pé, que quase tocam o teto. Os quatro abajures de seda natural são, aliás, dos poucos elementos com cor, ou padrão, estrategicamente selecionados para aquecer o quarto.

As vigas no teto e a alvenaria “ondulada” ajudam à criação de uma atmosfera urbana. O contraste com a manta pele de coelho sobre a cama ou o tapete persa junto à cómoda romântica, de madeira, fazem parte do truque para equilibrar o peso do metal em evidência. Ao fundo, as portas em antracite, a imitar o zinco, escondem os armários, tão essenciais em qualquer quarto de dormir. Mas, são também, a passagem para o closet.

Ao fundo dos pés da cama existe um varandim, junto ao qual o proprietário colocou uma mesa de trabalho usada, inclusive, para tomar o pequeno-almoço. O cadeirão foi comprado num leilão e a mesa preta, a imitar Luís XV, veio da República das Flores. Na imagem percebemos ainda um biombo em veludo encarnado, com pregos dourados, mandado fazer propositadamente para este local.

Dirigimo-nos ao quarto de banho. Daqui, observamos o closet, com papel de parede encarnado de textura a imitar pele de crocodilo. Já as paredes da casa de banho são de pastilha, cor preta, misturada com elementos improváveis, como a cadeira de madeira ou mesinha de cabeceira debaixo da bancada.

É em baixo que encontramos as áreas comuns. Da zona de estar, à de jantar ou cozinha, todos são espaços amplos e integrados, facilitadores do convívio e da funcionalidade. Junto às janelas encontra-se a sala de estar, com um sofá modelo chesterfield, de pele, em capitonê. Tem vista privilegiada para todo o apartamento. A estante de módulos individuais, adquiridos no Ikea, que foram pintados e transformados de forma a funcionarem como um todo. Suporta livros, pinturas, obras de arte, etc. Ao centro, uma banqueta de tecido serve de mesa de centro. As cadeiras de madeira crua, a poltrona adquirida num leilão ou o sofá encarnado, encostado à parede lateral, são outros dos elementos desta sala, onde cabe sempre mais um em momentos de convívio.

Os jantares entre amigos acontecem em torno da mesa de madeira, nórdica, sentados numa tulip chair. A pintura de parede tem autoria de Nuno Amaro, as peças de porcelana decorativas são italianas, e a chamada “rocha”, que está sobre a mesa, é uma escultura feita em lã, de João Bruno, que pode, na verdade, ser um objeto decorativo ou funcionar como assento.

Um pouco mais atrás vemos um louceiro, que foi em tempos um armário de quarto, mas agora conhece outra funcionalidade. É atrás deste que se situa a cozinha, aberta, sem portas ou janelas. Apenas as estantes de ferro funcionam como biombo de separação. Um antigo estirador de arquitetos, em ferro e madeira, é agora uma mesa de apoio, e o improvável sofá de veludo roxo e talha dourada serve de convite a que se faça companhia ao chef!

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