Por a 10 Outubro 2023

O projeto de interiores, numa casa georgiana, em Marylebone, tem a assinatura do CFK Interiors Design Studio, fundado em 2010 pela portuguesa Claudia Kalur.     

Projeto: CFK Interiors Design Studio / Fotografia: Cláudia Rocha / Texto: Isabel Figueiredo 

Os clientes, uma família de quatro, constituída pelo casal e as duas filhas adolescentes, habitam a maior parte do ano em Nova Iorque e a outra parte entre Londres e Paris, onde também têm casa. Ligados ao mundo da música, mas igualmente colecionadores de arte e peças de design, queriam uma casa onde as peças vintage dialogassem com a arquitetura de época

Nascida, criada e educada em Portugal, Claudia Kalur, a viver em Connecticut, nos Estados Unidos, fez a sua formação na KLC School of Design em Londres. Apaixonada por interiores e design, Claudia começou a sua carreira em Nova Iorque, colaborou com um gabinete de arquitetura com sede em Connecticut, onde esteve envolvida na decoração de vários projetos residenciais, e mais tarde trabalhou para um conceituado designer de interiores. Para este projeto, a designer de interiores reimaginou, em conjunto com o construtor, Robert Bozek (“cuja assistência e trabalho foram fundamentais)”, e os seus clientes, todo o espaço por forma a atender aos desejos e necessidades daquela família.  

“Para o efeito, partiu-se da completa reabilitação interior. Fomos até ao tijolo”, diz-nos. 

A habitação, que hoje se divide em sala, dois quartos-suíte, um escritório, cozinha, sala de jantar, e uma casa-de-banho social, totalizando 136 m2, é o rés-do-chão de uma moradia localizada numa praça tranquila, em Marylebone. “A casa foi construída entre 1810 e 1815, no estilo Georgiano”, prossegue. “Inicialmente construída como uma residência só, foi dividida em quatro apartamentos (um por andar) nos anos 1950. Este apartamento em particular estava em boas condições, mas os seus antigos donos fizeram obras na cozinha e na parte de trás do apartamento, que não eram originais, e na verdade nada atraentes”. 

Todo o espaço foi repensado de modo que os dois quartos tivessem casas de banho ‘ensuite’, foi ainda criado um escritório e adicionadas soluções de arrumação, “muito importante, e em falta!”, e ainda foi possível fazer uma casa-de-banho social, evitando que os convidados tenham de entrar num dos quartos. 

“O apartamento era espaçoso, mas o aproveitamento do espaço existente era deficiente, a vários níveis. O objetivo, desde o início, foi, a nível espacial, maximizar o uso da área quadrada, adicionar casas de banho e arrumação para uma família de quatro, sem sacrificar as zonas sociais, como a sala de estar e a de jantar, já que a família gosta de receber amigos”. A nível estético, por seu turno, era desejado devolver ao apartamento elementos do período georgiano, entretanto perdidos nas renovações anteriores. “O chão é todo novo, mas é chão antigo, de carvalho, proveniente de um palacete do século XIX, em França; na entrada, o piso é um xadrez de mármore, preto e branco, da Fired Earth, num estilo muito usado em arquitetura durante o reinado de George III. Adicionámos ainda os painéis de madeira nas paredes, as cornijas com ornamentos do mesmo período, as portas de vidro na sala, com bandeira arredonda, elemento igualmente característico do período georgiano, mantendo a lareira de mármore, original.” A cozinha, que Claudia destaca, é “fantástica”, e foi desenhada e realizada pela empresa Plain English Designs, de Londres. 

Os clientes, colecionadores de arte e de mobiliário, queriam para a sua nova casa, em linha com os elementos estruturais e a arquitetura de época, uma decoração que usasse o máximo de peças vintage ou antigas. E tal foi conseguido praticamente na totalidade. “À exceção dos pendentes na cozinha, dos candeeiros de parede na sala e do sofá azul — não conseguimos encontrar um modelo vintage com o tamanho certo —, tudo o que comprámos, dos candeeiros, à mobília, arte e acessórios, tem, pelo menos, 50 anos”!  

O projeto demorou mais de um ano a realizar, “quase dois, se incluirmos a demolição” e durante esse período, o atelier CFK empreendeu uma aturada pesquisa de peças em mercados e lojas de antiguidades e leilões, um pouco por várias cidades: Nova Iorque, Connecticut, Amsterdão, Paris, Cotswolds e, claro, Londres. 

Quando lhe perguntamos que peças destacaria, Claudia refere o candeeiro ‘mid-century’ na sala, comprado numa loja de antiguidades em Amesterdão, e a estante inglesa do século XIX com os vidros originais, encontrada em Greenwich, também numa loja de antiguidades. “Gosto imenso do relógio no hall de entrada, mas há mais peças que adoro, nomeadamente o pavão (comprado em Paris pela cliente, e originalmente destinado ao apartamento de Nova Iorque, acabando por ficar na sua casa de Londres) e os retratos na cozinha, comprados na galeria Titan Fine Art, em Londres”. Estes representam Edmund Lloyd e Catherine Lloyd, casal escocês, e são assinados por Thomas George (1833/43). “Mas também saliento a cómoda de gavetas em mogno, do século XIX, na casa-de-banho principal, que hoje recebe a bacia e faz as vezes de lavatório”. 

A lista de preferências sucede-se: Claudia aponta o lavabo social, integralmente colorido pela Farrow & Ball (Green Smoke) e as loiças de banho da Drummonds, “uma espécie de caixinha de jóias”, bem como o espelho austríaco da época Biedermeier (1860). “Mas a minha parte preferida é, talvez, a porta ‘escondida’ nos armários, que desenhámos para cobrir a totalidade da parede do quarto principal e que dá acesso à casa-de-banho principal.” 

A localização central, em Londres, e, ao mesmo tempo, a praça sossegada, com um parque privado, são algumas das valências da casa que, “apesar de não ser enorme, consegue acomodar bem a família que tem uma vida social ativa e passa grande parte do ano em Londres”.  

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