Por a 19 Julho 2023

Num bonito edifício da época pombalina, dividido em dois prédios de três andares, aloja-se este apartamento, entretanto alvo de uma remodelação que o transformou num espaço arejado e moderno, segundo projeto da arquiteta carioca Andrea Chicharo. 

Fotografia: Gui Morelli / segundo a memória descritiva 

Imagine-se a morar num prédio edificado em 1661, em Lisboa. Quase diríamos que ali se respira a própria história da capital portuguesa. Seguindo uma tendência de ‘restyling’ de prédios históricos e devolutos, vários gabinetes de arquitetura ocupam-se da reabilitação e modernização dos seus interiores, transformando-os de forma a que a história continue lá, mas com todos os confortos e respeitando a identidade da época em que vivemos. 

No Solar de Santana, no Campo Mártires da Pátria, este é mais um desses belos edifícios, entretanto recuperados e transformados em habitação multifamilar. “O palacete foi dividido em dois prédios de três andares, cada um com nove apartamentos, e todos com metragens e tipologias diferentes, sendo que o dos meus clientes, soma 330 m2 e tem três quartos, dois em cima e outro no piso térreo”, descreve a arquiteta carioca Andrea Chicharo, que assinou o projeto de interiores para uma cliente brasileira.  

“Um dos vários detalhes a assinalar é que os azulejos que o ornamentavam,  datados dos séculos XVII e XVIII, foram retirados sem danos e cada proprietário conseguiu ficar com um ou dois painéis para usar como achasse melhor”, explica Andrea. 

Como o apartamento foi comprado em planta, a arquiteta pôde mudar o seu layout no espaçoso e comprido living, bem como também coordenar o projeto de iluminação, fundamental na composição. “Aproveitei a arquitetura estrutural pombalina deixando os alicerces de madeira aparentes e eliminei também o que seria uma lareira no meio do ambiente entre os espaços de estar e de jantar. Esta estrutura em madeira, existente e histórica, serve atualmente como divisória e deu um charme extra à decoração”, diz. 

A entrada da sala, onde a altura do teto é muito alta, foi o local escolhido para o espaço de estar, permitindo assim que a sala de jantar ficasse contígua ao ‘home theater’, com tetos mais baixos e uma atmosfera mais aconchegante. Três portas abrem-se para pequenas sacadas e deixam entrar uma boa dose de luz natural, destacando as obras de arte que se multiplicam em quadros e esculturas, tanto de artistas brasileiros como de portugueses.  

Na escolha dos móveis, a pluralidade também ditou o conceito: ícones do design brasileiro e internacional convivem na mais perfeita harmonia. “A mistura de estilo dos móveis foi criteriosamente escolhida”, diz Andrea. Existe ainda espaço para um mezanino, com guarda de vidro já definido no projeto de ‘restyling’, que serve de escritório. 

Ao fundo da sala de estar foi fixado um dos painéis de azulejos antigos ladeado por uma parede de cerâmica com padrão cimentado e neutro por forma a valorizar a sua beleza, inclusive com iluminação específica. Sob o painel, Andrea escolheu móveis com bancada em vidro que servem como apoio e bar. Na parede entre as sacadas foram colocadas prateleiras de metal e vidro, visualmente leves, onde é exposta a coleção de objetos dos moradores, em jeito de memorabilia. 

No ‘home theater’, e em função da existência de uma grande televisão, Andrea optou por amenizar o ambiente pintando a parede num tom de azul mais escuro e assim reduzir o impacto visual. Uma pequena bancada de mármore serve para expor objetos e foi o local escolhido para a lareira a gás, que não compromete a decoração. As esculturas nas laterais ajudam a prender a atenção pela nota de ousadia e são de artistas portugueses consagrados. 

O lavabo social tem papel de parede, também escolhido pela arquiteta; a cozinha, está completamente equipada de raiz, com armários, bancada e eletrodomésticos. 

Num dos quartos, há mais um detalhe que remete para o passado: um nicho revestido a azulejos antigos que serve como um canto de leitura e um refúgio perfeito no apartamento, que inspira a contemplação. 

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