Por a 17 Maio 2021

Na bela terra alentejana, ergue-se um edifício nobre, de arquitetura setecentista, rico em salas de paredes decoradas e mobiliário de época. 

Fotografia João Bessone / Texto Isabel Pilar Figueiredo

A casa Condes do Bracial, propriedade privada na posse da família Portugal da Silveira, é considerada edifício histórico – atribuindo-se a sua data de construção anterior ao século XVII e a fachada já ao início do século XIX – e encontra-se dentro da Zona Especial de Proteção do Pelourinho de Santiago do Cacém. O nobre edifício, fechado ao público, encerra dentro das suas paredes várias salas comunicantes, um pátio, entre outras divisões em constante manutenção dada a sua antiguidade e beleza, trabalhos de grande paciência e, diríamos, dedicação e amor por parte dos seus proprietários.

A entrada majestosa com arco de pedra e teto de madeira exibe uma carruagem em excelente estado de conservação; de um dos lados, uma porta guarda a sala de jogos, com mesa de bilhar, uma armadura e recordações de infância, que espreitamos em jeito de curiosidade. Mal sabemos que ao longo do nosso percurso cada sala e saleta nos provocará o mesmo estado de constante surpresa. É por esta entrada de pedra, transpondo a porta de vidro e madeira, que somos conduzidos ao andar superior que se distribui por várias salas comunicantes, cozinhas, varandas e pátio.

Os revestimentos das paredes destas salas, o chão de madeira bem como o chão de pedra das cozinhas e da casa de banho, originais, refletem um aturado trabalho de preservação, que vai sendo levado a cabo aos poucos. Em todas as salas as paredes estão forradas com telas pintadas à mão, provenientes da fábrica francesa de Zuber, fundada em 1790. Na sua maioria, as telas estão bem conservadas e de tal depende o facto de não estarem coladas diretamente nas paredes mas antes por terem uma câmara de ar que deixa a tela respirar.

Exceção feita para o papel de parede da biblioteca, a sala do fundo, que foi colado com jornal e que funciona como um sub-tela com ação protetora, e mesmo não tendo o valor artístico dos demais aqui ficou por se tratar de uma técnica que nos conta um pouco da história da casa.

A sala de jantar, por seu turno, recebeu um bonito tom azul e é beneficiada pela generosa entrada de luz natural, com acesso direto ao terraço com bancos de alvenaria. Sobre a mesa da sala dispõe-se, solene, o serviço de jantar oferecido pelo primo da proprietária, mandado fazer para o casamento do bisneto de uma figura histórica, que a família pretende manter em segredo. Esta mesma sala exibe obras de arte nas paredes e um fantástico lustre em vidro.

Adjacente, a cozinha divide-se em duas áreas separadas por uma passagem e escada de madeira. Na parte de cima servem-se refeições, lê-se e vê-se televisão; na parte de baixo é onde as refeições são preparadas. As paredes das duas divisões receberam um tom cinzento que substituiu um verde quase bandeira, que antes já fora azul. Este cinza faz a ligação aos tons da pedra e mosaico do chão e acreditamos que apenas dignifica ainda mais a bela casa senhorial.

Neste mesmo piso, encontramos ainda a casa de banho, com parte das paredes revestidas a azulejos pretos e outra parte pintada na mesma cor. As loiças brancas e a moldura dourada dão a nota de contraste, bem como o candeeiro de teto.

Ao lado, fica o quarto do casal. No piso superior, há espaço para mais quartos, alguns deles em vias de manutenção, um deles com acesso a um terraço com vista sobre a paisagem alentejana. De regresso ao andar da cozinha, somos conduzidos a uma frasqueira onde se guardam alguns vinhos, nomeadamente moscatel da quinta do Pomar Grande, do bisavô da proprietária, e outros datados 1800 e do princípio do século vinte.

Mais tempo houvesse, e mais nos seria revelado mas o tempo é escasso e a promessa que fica é a de mais uma visita, e quem sabe com ela mais uma reportagem sobre o resultado dos muitos trabalhos de renovação que aqui vão sendo empreendidos.

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