Por a 21 Dezembro 2021

Mutável e estruturadora, a “grande parede” é um elemento central neste apartamento. Ela é cenário, arrumos e potenciadora de interações. Tudo isto, num apartamento de 180 m2 em Lisboa.

Arquitetura: Atelier Data / Fotografia: Richard John Seymour

Situado num bairro consolidado da cidade de Lisboa, o apartamento ocupa os dois últimos pisos de um edifício, num total de 180 m2, beneficiando de um sistema de vistas que a nordeste é dominado por uma paisagem eminentemente urbana e a sudeste se relaciona, por sua vez, com as densas copas de árvores que habitam um jardim centenário.

Segundo contam os autores do projeto, os princípios da intervenção foram motivados pela posição estratégica do apartamento face à envolvente, em articulação com a reflexão sobre o espaço doméstico.

O resultado foi um repensar dos espaços em função de uma maior transversalidade e continuidade, uma organização através de uma lógica que distingue áreas sociais – o terraço, sala de estar, sala de jantar, biblioteca e cozinha -, de áreas de serviço – lavandaria, i.s social, acesso vertical -, e que se concentram no piso 0. Deixando o piso superior para acolher a zona mais privada da habitação, que é como quem diz, os quartos.

Ao nível dos materiais, a escolha foi para aqueles que reforçam a luminosidade e para um uso extensivo da cor branca, em articulação com a madeira do pavimento e o mosaico cerâmico do terraço.

As janelas foram redesenhadas, de forma a intensificar a relação do interior com o exterior e foi estrategicamente colocada vegetação, como elemento que é importado do jardim centenário da envolvente e reinventado para o espaço doméstico.

A equipa do Atelier Data sublinha a concentração de infraestruturas, equipamentos e arrumos, numa “grande parede” de forma a libertar espaço. Parede esta que, serve de cenário ao espaço social. Com 11,5 metros de comprimento, este “elemento” potencia interações diversas e diferentes hierarquias entre espaços. Exemplos disso são painéis que se abrem para revelar uma escada ou se fecham para privatizar o núcleo de quartos; painéis que se abrem no momento de cozinhar e se fecham quando a cozinha se converte em espaço de trabalho; ou painéis que se estendem ou recolhem na espessura do armário para individualizar espaços.

Mas se a “grande parede” assegura no plano vertical a continuidade do espaço, há que dizer que não o faz sozinha, o desenho do teto também contribuiu para essa noção de prolongamento e unificação. Repare-se no ritmo das vigas que perfazem o plano horizontal da área social, e que reforçam assim o desejo de criação de uma grande nave, que atravessa a profundidade total do apartamento e se deixa atravessar por diversos ambientes, usos e ações.

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