Por a 5 Maio 2022

Com apenas 70m2 de área, mais um alpendre, esta casa tira partido de várias perspetivas profundas sobre a paisagem plana dos campos de trigo e aveia, onde predominam a cor doce e quente da terra e os verdes suaves das amendoeiras e figueiras. A luz, a cor e o material do exterior entram no interior da casa graças à cerâmica e à madeira, dois materiais nobres que se conjugam de forma subtil e intemporal.

Arquiteto: Marià Castelló · Localização: Formentera
Arquitetos: Lorena Ruzafa + Marià Castelló
Equipa de Projeto: Lorena Ruzafa, Marga Ferrer
Área: 70 m2 + 24 m2 alpendre
Fotografia: Marià Castelló Martínez

“Es Pou de Can Marianet Barber” é um topónimo histórico do interior da ilha de Formentera. Um lote rural onde várias pré-existências condicionam a inserção desta pequena primeira residência no território. Entre eles, destaca-se a trama de paredes de pedra seca centenárias, bem como a organização das colheitas.

A intervenção localiza-se na zona poente do terreno, paralela a um traçado com mais de um quilómetro de extensão, virada a sul e protegida do sol poente por uma massa de vegetação, libertando assim a zona mais fértil para dar continuidade à a atividade agrícola existente.

A proposta está dividida em três volumes, que organizam o programa conferindo-lhe um grão mais reduzido e de acordo com a escala da paisagem.

De sul a norte, o primeiro corpo abriga um alpendre que oferece proteção solar, o segundo contém o programa mais social e o terceiro dois quartos.

Entre eles estão as faixas transversais que separam fisicamente os volumes, proporcionando-lhes ventilação e iluminação, bem como serviços e conexões.

Em frente à casa existe uma cisterna que a torna autossuficiente em termos de abastecimento de água e oferece um solário para os meses mais frios do ano.

Do interior e através do alpendre, descobrem-se perspetivas profundas para a paisagem plana dos campos de trigo e aveia, onde predominam a cor doce e quente da terra e os verdes suaves das amendoeiras e figueiras. A luz, a cor e o material do exterior entram no interior da casa graças à cerâmica e à madeira, dois materiais nobres que se conjugam de forma subtil e intemporal.

O calor da terra é transferido para o teto e pisos, resolvido por meio de abóbadas cerâmicas de tipo maiorquino e telhas de terracota prensadas.

Da mesma forma, as telhas são usadas para resolver vários outros elementos, como o revestimento da fachada, o acabamento do telhado, a cabeceira do quarto principal ou a brita, processando ‘in loco’ os resíduos dos elementos cerâmicos utilizados.

A frescura associada à cor da vegetação predomina nas zonas húmidas, onde algumas paredes verticais são revestidas a azulejo vidrado verde diluído com as mesmas dimensões das restantes peças.

A luz é filtrada para dentro através de sua passagem por treliças cerâmicas, gerando por sua vez uma evolução constante de luzes e sombras.

A coerência e harmonia dos materiais levou à integração de instalações em locais singulares como a cabeceira do quarto principal, bem como outras mais comuns como os candeeiros e as sanitas, com mecanismos elétricos de louça branca.

Um conjunto de luminárias e peças especiais feitas à mão com formas feitas no atelier também foram especificamente desenhadas para este projeto, procurando a sua integração cromática e dimensional no contexto dos revestimentos.

A maior parte do mobiliário foi desenhado à medida, integrada na própria arquitetura, enquanto ícones como a poltrona Torres Clavé, de 1934, ou as tradicionais cadeiras de Formentera prestam homenagem à tradição artesanal mediterrânica.

Outras peças mais contemporâneas, como a mesa e as mesinhas da coleção D12, desenhadas por Marià Castelló e Lorena Ruzafa para a editora Diabla Outdoor, proporcionam um leve contraponto cromático e material ao conjunto.

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