Por a 6 Junho 2020

A Casa X é uma nova residência de um só nível localizada em Phillip Island, Victoria, Austrália, com projeto do Branch Studio Architects.

Fotografia: Peter Clarke / segundo a memória descritiva


“A casa foi projetada para ser uma silhueta na paisagem – uma que envelhecerá graciosamente com o tempo”, assim descrevem os arquitetos. Phillip Island é um destino costeiro muito popular na Austrália, que consiste num aglomerado de casas de praia, desocupadas durante a maior do ano, além de um número elevado de residências permanentes. A área em que a Casa X está situada é aquela com maior número de residências permanentes e casas de férias.

O local, densamente florestado, tem uma faixa que se estende até à costa, mas não oferece vistas diretas da praia / oceano. Os arquitetos do Branch Studio tiveram de lidar com o conteúdo formal do contexto, altamente conservador. Curiosamente, a maioria das casas nesta zona não tem vedações perimetrais, sobretudo aquelas com ligação direta ao mar e à praia. Os arquitetos viram nisso um aspeto particularmente importante na maneira como abordaram a casa no seu local e envolvente. Como resultado, o design da casa foi pensado para funcionar como a sua própria ‘vedação’ sem a necessidade de criar um perímetro secundário.

O cliente tinha uma ideia: uma casa com pátio, porque queria um certo nível de privacidade. Tal foi usado como ponto de partida, mas dada a natureza do local – particularmente a paisagem das dunas até ao limite norte -, era importante re-equacionar o modelo de casa com pátio, normalmente fechado em torno do edifício – o que permitiria um certo nível de privacidade, e, importante, que a paisagem entrasse no pátio e na casa.

O desenho de ‘pátio aberto’ é como um santuário interno, central, que fornece um elo visual e físico direto para as dunas e a praia. A configuração da casa é a de três pavilhões interligados: um aloja a cozinha, a sala de jantar e a sala de estar, com áreas de serviço, outro é o principal, o dos quartos, e finalmente o terceiro foi destinado aos convidados.

A ligação entre cada um dos ‘pavilhões’ é uma área central (espaço do santuário) com jardins e uma piscina. A forma da piscina foi projetada para criar um diálogo subtil e um relacionamento formal com a forma de um caminho bastante discreto que conduz às dunas e à praia.
A zona principal da cozinha, sala de jantar e sala de estar foi configurada na parte traseira, a sul. Tal permite o acesso mais fácil e prático às tarefas quotidianas simples – como, por exemplo, transportar as compras do carro para a cozinha.

Esta área da cozinha é orientada leste-oeste através do local com uma grande extensão interna de vidro para permitir que a luz do norte entre nos espaços internos. A cozinha é vista como o ‘coração’ da casa, comunitária, inundada de luz. A sala de jantar, mais pequena, é o espaço de convívio e logo está mais recuado, aqui a luz é um pouco mais distante, sublinhando a noção de intimidade.

Adicionalmente, há ainda uma área residual, a de biblioteca e zona de relaxe, seccionalmente mais baixa, com o teto revestido de preto, o que acentua ainda mais a condição espacial e de luz de um local de refúgio e intimidade.

Claro e escuro, principalmente no que toca à luz e aos materiais, são elementos importantes dentro da casa. Como os clientes viajaram muito por Marrocos em anos passados, gostam muito destas qualidades de luz e escuridão criadas dentro dos pátios da arquitetura mourisca.

Os perfis angulares de teto / volumetria dos pavilhões da zona principal e da zona de hóspedes criam a necessária proteção solar do pátio interno ao longo dos vários momentos do dia. O pavilhão da zona principal é mais alto e um pouco mais contido em planos envidraçados de modo a garantir a necessária proteção solar.

Os espaços foram configurados de modo aberto para fluirem de um para o outro sem barreiras. As alturas das paredes, particularmente na ala da master suite, não obedece a uma regra. Por exemplo: o plano da ala principal foi elaborado com base nos rituais diários sequenciais do cliente.
Cada ritual, seja escovar os dentes ou tomar banho, tem uma relação visual específica com a natureza nessa área. No lado leste da casa de banho, por exemplo, uma longa janela é cortada através do espaço ao nível dos olhos ao realizar tarefas em pé. Outra é cortada ao nível de quem está deitado na banheira. “Queríamos criar uma condição em que se pudesse estar ‘de pé junto ao lavatório, a fazer a maquilhagem enquanto olhava para o pátio, para as plantas, para a água cintilante que reflete na piscina’.
 
O exterior da casa é completamente revestido com madeira maciça nativa da Austrália, tratada com um óleo de madeira natural. Os telhados das alas do pavilhão principal e do de hóspede receberam um revestimento de cor preta e costura dupla. A casa foi projetada para ser quase uma silhueta na paisagem, que envelhecerá graciosamente cinza, cada vez mais, com a paisagem do tempo.
 
A paleta de tons ‘preto e vermelho’ do exterior da casa também se baseia no extenso estudo da paisagem costeira local – onde rochas vulcânicas de granito preto se misturam, ao longo do tempo, com um sedimento colorido vermelho / rosa, grosso, rico em potássio.

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