Conversámos com um dos nomes maiores do design de interiores do mundo. Nesta entrevista à Urbana, Kelly Hoppen descreve-nos calorosamente as suas paixões, o que a move e inspira.
Imagens: DR / Entrevista: IPF
Colhe inspiração em todos os lugares que visita, do Oriente a África, de Londres a Nova Iorque, mas também na família, na música, na comida, no teatro, na moda e nas pessoas. “Os meus projetos são um reflexo da minha vida e da minha história; todas as minhas experiências estão presentes nos meus desenhos. Viajar é definitivamente o meu drive; estar num avião, em silêncio, e ter uma cabeça limpa permite que a minha mente vagueie pelos arquivos de design armazenados na minha consciência e folheie os últimos 40 anos para encontrar algo de novo e maravilhoso.”
Qual é o segredo do seu sucesso?
Trabalho duro, paixão, individualidade e a criação de uma marca única. Dedico-me muito, de forma igual, a todos os projetos! Quando os finalizo, tenho uma sensação de imenso orgulho. Mas encontro sempre tempo para estar com a família e amigos; eles são o mais importante. Acho que o sucesso passa por depositar tudo o que temos nos nossos projetos 95% do tempo e garantir que os outros 5% sejam as férias mais incríveis ou o tempo mais passado possível!
Em que princípios assenta o seu trabalho?
A minha filosofia de design sempre foi criar elegância intemporal e discreta, e ao mesmo tempo fundir os princípios orientais da simplicidade e o gosto ocidental por texturas sumptuosas e acabamentos de luxo. Parto sempre da minha base neutra, e depois construo em cima dela, mas também adoro complementar a paleta com pinceladas de cor forte, ajudam a transformar uma espaço.
Quais são as principais mudanças pelas quais a marca Kelly Hoppen tem passado, e de que forma foram adaptadas ao longo dos anos e das demandas dos clientes?
Sempre houve uma enorme exigência desde que comecei nesta indústria, e as coisas permaneceram muito consistentes. Não decepcionamos as pessoas, entregamos sempre os resultados que os clientes desejam. O nosso design está em constante evolução, o que é importante. Hoje a maioria das minhas obras são comerciais. Durante 37 anos fiz apenas projetos privados, por isso sinto-me em boa vantagem, porque doutra forma não teria sabido entender o que as pessoas realmente querem. Um hotel é uma casa longe de casa, e às vezes entramos em hotéis e eles são frios, impessoais, não têm aquele calor… Hoje os hotéis constituem uma grande parte do meu portfólio e adoro projetá-los, porque existe o tal romance, algo que define luxo e fuga. Com o LUX * Grand Gaube (Maurícias) consegui projetar tudo, desde os quartos ao restaurante e há algo de maravilhoso em ser capaz de projetar espaços privados e íntimos e, de seguida, ir para uma área pública, grande e bonita, tudo num só projeto!
Como é o seu processo criativo?
O meu cérebro sempre trabalhou num esquema de grelha, com formas e linhas limpas, desde que eu era pequena. À medida que entro num novo espaço, a minha mente constrói automaticamente uma grelha e posso ver um projeto em potencial quase que instantaneamente – um sistema que sempre funcionou para mim, pessoalmente. Também faço questão de conhecer o meu cliente, para entender como vive e o que faz, e assim consigo visualizar o espaço e tudo acontece. Cada projeto é diferente, cada cliente é único. Faço questão de ter tempo para projetar a casa dos sonhos de alguém e é tão bom ver estes sonhos tornarem-se realidade.
Como vê o cruzamento entre o passado e o futuro?
O design está em constante evolução, no entanto acredito que o meu estilo é intemporal e é isso que eu reflito em cada projeto que assumo.
Quais são seus produtos / projetos mais bem-sucedidos? E porquê?
Tive muita sorte, ao longo da minha carreira, sorte de poder trabalhar em projetos tão incríveis, em todos os tipos de espaços, edifícios…! Seria impossível escolher um, pois cada um é diferente. O meu portfólio varia entre casas, iates, jatos de clientes particulares em todo o mundo e resorts de luxo. Somos muito afortunados. É sempre um privilégio trabalhar em algo que é conceptualmente invulgar. Por exemplo, trabalhar com a Celebrity Cruises foi revolucionário, porque visava redesenhar todo o espírito do luxo oceânico. Queríamos captar a essência de fuga, de uma viagem marítima, de estar longe, além de associarmos uma espécie de luxo urbano que nos remetia para destinos como Miami ou Hong Kong. Outro projeto único foi redesenhar as cabines de primeira classe da British Airways. Mais uma vez, tratava-se de trabalhar com um espaço incomum e restrito e transformar isso em algo belo e luxuoso. Como designer, tive de considerar as limitações de peso, espaço e segurança de maneiras completamente novas e inesperadas. É sempre fantástico quando vemos as nossas noções preconcebidas de luxo e design desafiadas por estes projetos específicos.
Como vê o futuro do design?
Antes, comida e viagens eram os principais interesses das pessoas, mas agora os interiores estão a assumir a liderança. Desde a social media, que ganha força, passando por diferentes estilos e tendências, até às lojas de retalho, nota-se que existe mais cuidado, paixão… A tecnologia também é uma parte importante da vida moderna e tornou muito mais fácil chegar até milhões de pessoas de uma forma muito acessível. Plataformas on-line como o Pinterest permitem que as pessoas explorem e formem o seu próprio estilo, único. Podemos sobrepor cores e texturas, e essa plataforma, na minha opinião, ajuda a aumentar a confiança na capacidade das pessoas, no seu design e, o mais importante, tenta manter a individualidade. Ao querer expandir o meu alcance, lancei a Masterclass Digital on-line. Isso significa que qualquer pessoa interessada em design – independentemente do nível de experiência – pode ter uma visão imediata do mundo do design. Estar em todas essas plataformas de ‘media’ permite que eu me sinta mais próxima dos meus clientes e fãs. A era digital significa que eu tenho um diálogo direto com estas pessoas, e isso é muito encorajador para mim e para o meu trabalho!
Com que designers / empresas gostaria de colaborar?
Gostaria de projetar uma peça para a Minotti e gostaria de colaborar com a Vola.
Que conselhos daria a quem inicia a sua carreira neste setor?
É muito importante encontrar o estilo, e treinar a sós. Se é criativo, sinta-se confiante no que faz! Seja apaixonado e destemido, mas não exagere nas tendências. Mantenha as coisas individuais e clássicas, porque não é sobre o quanto temos, mas sobre o quão feliz e confortável somos. Além disso, leve o seu tempo, as pessoas, muitas vezes, apressam-se em estilos ou desenhos porque veem uma tendência, ou folheiam páginas de revistas e veem os mesmos estilos repetidas vezes – não se deixe enganar. Um estilo é individual e deve ser trabalhado para se adequar a si. Use ‘mood boards’ e Pinterest e tudo o que puder para estratificar cores, texturas e desenhos e depois ‘sente-se’ a sós com eles por um tempo!