Por a 8 Abril 2020

Fotografia: Gui Morelli / texto: Isabel Figueiredo

Lisboa é uma cidade com muitos encantos e em muitos dos seus bairros mais característicos ainda se guardam alguns segredos que apetece descobrir.

Na Estrela, um dos bairros típicos de Lisboa, a morada desta família obedece a esta descrição simples. De tipologia T4, divide-se em cozinha, lavabo social, sala comum e jardim, no piso térreo; três quartos no primeiro andar, dois deles com vista para o jardim e outro em suíte e, no último piso, quarto generoso com casa de banho, closet e terraço de onde se avista a paisagem de Lisboa, com o rio e a ponte como atração.

A construção dos anos 70 conserva o chão de pedra no piso térreo e os tetos e chão de madeira, recuperados, nos restantes andares. A base suporta bem todas as peças decorativas, mobiliário, fotografia e obras de arte que a autora do projeto de interiores selecionou para aqui. Ana Ressano Garcia, com ampla experiência em decoração, admite ter tido a mesma sensação que nós ao descobrir a casa.

“Toda aquela luz natural, o espaço e alguns elementos da construção serviram de tela em branco para reenquadrar a maior parte das peças que a proprietária já trazia da sua outra casa”, conta. “Tive de adaptar e reorganizar o existente, exceção feita para os revestimentos do sofá, que exibiam um veludo cinza e agora são brancos, bem como as almofadas, que receberam novas capas.”

Para Ana, cujo estilo “baseia-se na mistura de peças com história, mas sempre com ordem (sou obcecada pela ordem e arrumação), as casas devem ser confortáveis e quentes, ‘vividas’. E apesar de admirar os ambientes com poucos objetos não consigo que as minhas casas sejam assim…”.

Refletindo este estilo, a casa vive de um mix harmonioso de pintura – grande parte assinada pelos filhos da proprietária -, fotografia, cerâmicas e mobiliário de diferentes épocas, adquirido ao longos dos anos. “São peças muito pessoais, que fazem parte da vida e da história da proprietária”, destaca.  

“Gosto de misturar objetos e mobiliário de épocas distintas, gosto de bons materiais, práticos e confortáveis, gosto de uma decoração com uma base neutra enriquecida por detalhes quentes que possa, conforme o tempo ou necessidade, ir variando”.

O curso de Decoração da FRESS e, anos mais tarde, a sua experiência prolongada em Madrid proporcionaram a Ana Ressano o contacto com “interiores incríveis, casas de grandes dimensões, lojas fantásticas, antiquários, armazéns enormes, feiras e, sobretudo, a oferta de serviços ampla e muito profissional”, revela. A esta experiência profissional junta-se o projeto de interiores de uma ‘finca’, em Espanha, “um trabalho de grandes dimensões, por se tratar de uma casa que estava em ruínas e foi transformada num edifício com quase 3.000m2, em que a escolha de todos os materiais, do tecido do sofá às numerosas peças foram selecionados, encomendados, pagos, entregues e montados com a minha supervisão.

A sala de refeições com acesso à cozinha, estreita mas funcional – que mantendo a janela aberta deixar entrar um pouco da agitação da cidade -, ainda hoje conserva os azulejos originais a meia altura da parede.

Da sala de jantar, apenas dividida da sala de estar pela meia parede com abertura a meio, acede-se ao living e ao jardim, de tamanho generoso, onde entre a mancha de verde sobressaem algumas obras de arte da filha mais velha, em jeito de instalação – as cores profusas dos materiais reciclados usados, recolhidos na praia, testemunham a sua preocupação com o lixo e o desperdício.

“Neste pequeno cenário de verde e cor ouvem-se as rãs do jardim ao lado, à noite, e o chilrear dos pássaros durante o dia. É talvez o espaço da casa mais extraordinário, recolhido e bem cuidado, como um templo de bem-estar.” 

Nos restantes andares distribuem-se as áreas privadas e também aqui o contacto com o jardim e a sua luz, a arte distribuída pelas paredes, a harmonia das peças de várias datas e estilos reflete a experiência de Ana, que soube atender às necessidades e demandas de quem ali habita, com sensibilidade e bom senso.