Por a 21 Novembro 2000

Elsa e Fernando Hipólito, arquitetos e casal, abrem-nos as portas da sua nova casa num edifício muito especial. Veja o vídeo e inspire-se.

Texto: Isabel Pilar Figueiredo / Fotografias: Francisco Rivotti

Viver em Cascais há mais de 25 anos deu aos arquitetos Elsa e Fernando Hipólito uma ligação profunda à zona. Quando descobriram este apartamento, dos anos 60/70, foi amor à primeira vista “pela localização privilegiada, pelas áreas generosas e pela sua matriz” — o facto de existir apenas um apartamento por piso foi igualmente fator decisivo.

O projeto inclui uma remodelação cuidada, com a demolição de algumas divisões originais, para libertar o espaço e dar resposta a um novo modo de viver. A área social tornou-se ampla e fluida: a sala comum e a cozinha comunicam entre si, separadas apenas por uma parede solta que integra uma lareira a bioetanol. As duas portas de correr ocultas nas paredes, de acesso à cozinha, sala e a um pequeno corredor, permitem uma circulação fluida e dinâmica nesta parte da casa.

A zona de jantar, que finalmente encontrou o seu espaço próprio, está bem demarcada e acomoda uma mesa generosa. Neste apartamento, os convidados circulam sem atropelos e todos têm um lugar preferido. “Mesmo quando reunimos a família, e somos muitos, vinte ou vinte e quatro pessoas, dividimo-nos entre a zona de jantar, a cozinha e o terraço.” As cadeiras vintage brutalistas alemãs, restauradas e revestidas com tecido natural texturado, rodeiam esta grande mesa de madeira maciça. O conjunto completa-se com o móvel-bar do dinamarquês Hans J. Wegner, adquirido num antiquário do Porto, “uma raridade em excelente estado”, com o aparador dos anos 60 desenhado por Sílvio Coppola e o candeeiro escultórico regulável que pende sobre a mesa. A escultura de Rui Matos, descoberta por acaso no ateliê do artista em Sintra, salienta-se na base clara da parede onde encosta, num jogo de curvas e sombras suaves.

A cozinha foi redesenhada para se integrar na área social, mantendo uma presença discreta, mas funcional. Do antigo quarto de empregada nasceu uma suíte; a casa de banho de serviço deu origem a um lavabo social. Aqui, as paredes são forradas com papel de parede de Phillip Jeffries, cujo aroma natural a ráfia remete para os cheiros vivos da natureza. A torneira de pé escultural e o revestimento em travertino, o mesmo usado nas restantes casas de banho, reforçam o caráter requintado do espaço.

A estrutura modernista do edifício revelou-se uma ajuda fundamental. A planta racional e funcional facilitou a reorganização do espaço e permitiu criar uma casa coesa, luminosa e serena.

Do ponto de vista estético, Elsa e Fernando procuraram uma identidade visual unificada. Depois dos cinzentos, optaram por uma paleta neutra, que se estende das paredes às portas, roupeiros e armários, em harmonia com o piso de carvalho claro, de inspiração nórdica. O equilíbrio e a sofisticação estão nos detalhes pretos: caso dos interruptores desenhados por Álvaro Siza Vieira, puxadores, dobradiças, torneiras… “Além disso, esta paleta acolhe bem diferentes peças de design e arte”, comenta Elsa.

Logo à entrada, o biombo preto de Eileen Gray, desenhado em 1923, garante privacidade sem bloquear a luz. “Sempre fomos apaixonados por esta peça e, quando tivemos de decidir sobre a forma de dar alguma proteção à entrada, apesar de não haver vizinhos de patamar, percebemos que era o elemento certo”, recordam. Ainda no hall, uma cadeira de Michael Thonet, datada de 1856 e resgatada da loja da Remar em Cascais, ganhou nova vida após restauro. A peça partilha o espaço com uma pintura de Ana Vélez e uma escultura brutalista, num diálogo entre memória e contemporaneidade.

Na sala de estar, o conforto e o design dialogam sob a luz ténue filtrada pelas cortinas de linho pesado. Destacam-se as cadeiras Onda, desenhadas nos anos 70 para a Saporiti Italia, cuja pele já envelhecida acentua ainda mais o seu charme. Os sofás da Bontempi, um modelo que o casal conhece bem do seu trabalho, foram escolhidos pelo conforto, linhas depuradas e qualidade construtiva.

O terraço, com cerca de 30 m², é como um camarote privado para a vida que se desenrola na avenida. “Adoramos ver o movimento da rua, ouvir os pássaros e observar as pessoas a passar”, descreve Fernando. “É um espaço muito urbano.”

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