Por a 5 Outubro 2025

Na costa sul da Sicília, uma casa discreta revela uma arquitetura de recolhimento e espiritualidade. O projeto do Solum Studio transforma o habitar num percurso quase ritual, onde o mar é a promessa final.

Arquitetura: Solum Studio; Arquitetos: Lorenzo Campagna, Filippo Gismondi, Mattia Agates e Lorenzo Loda; Fotografia: Nicolò Panzeri

Na encosta do sul da Sicília, onde a terra termina num penhasco abrupto, ergue-se a Casa Pátio, desenhada pelo estúdio milanês Solum Studio. À primeira vista, o volume austero nada revela da riqueza interior. A sua força está no silêncio e na sequência espacial que guia o visitante do caminho até ao mar.

A casa ocupa todo o terreno, desde a estrada até à falésia. Contudo, em vez de se impor à paisagem, recolhe-se, dobra-se sobre si própria e escava o seu próprio espaço.

É uma arquitetura de introspeção, que se protege do exterior para, apenas no fim, se abrir à vastidão do Mediterrâneo.

O percurso como essência

caminho central é a alma do projeto: um corredor a céu aberto percorre a casa de ponta a ponta, como uma coluna vertebral. Não existem corredores interiores nem ligações forçadas. Cada um dos cinco quartos comunica com esse eixo através de pequenas portas, enquanto os pátios independentes garantem privacidade e filtram a luz.

A sucessão dos espaços adquire a cadência de um rito: um labirinto de sombra e luz, onde o movimento entre cheios e vazios cria uma experiência sensorial mais emocional do que funcional.

No fim deste percurso silencioso, o espaço social aguarda como uma recompensa. A sala de estar, que é aberta à paisagem, é o ponto em que a casa finalmente se entrega ao exterior. Portas de vidro deslizantes desaparecem nas paredes, inundando o espaço comum de luz: sala, cozinha e zona de refeições fundem-se num só ambiente fluido.

Outro pátio interior ilumina a cozinha e conduz, através de uma escada mínima e linear, ao terraço no topo, de onde se avista o mar e se percebe, do alto, a geometria densa da casa: um labirinto visto de cima.
As texturas e materiais definem a atmosfera serena do conjunto: paredes estucadas em tons terrosos, pavimentos em betão quente, pedra de Noto nos terraços e pedra vulcânica junto à piscina. Tudo fala a linguagem da contenção e da essência. Uma arquitetura que resiste ao tempo com elegância silenciosa.

Não há fachadas envidraçadas nem gestos decorativos. Há terra, sombra e uma tranquilidade contida, mais próxima da meditação do que da exibição. A Casa Pátio é uma morada que se habita como quem percorre um templo.

A sua beleza está no ritual do percurso, no modo como convida ao recolhimento e à contemplação. No fim, como uma confidência entre casa e visitante, o mar surge como promessa cumprida — o presente final.