Um espaço pessoal que reflete a herança escandinava, a inspiração de muitos destinos e a sua localização: portuguesa. Todos aqui se conjugam, todos aqui são evidentes neste apartamento em Lisboa.
Fotografias: João Peleteiro / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Figueiredo
De gustibus non est disputandum. Procurar soluções criativas e inteligentes, sempre que possível, está na base do conceito deste apartamento. “Pode não ser ao gosto de todos, necessariamente, mas imaginei-o e concebi-o para me sentir confortável com os recursos e as vibrações que aprecio. Um lugar onde posso morar durante muitos anos, ao invés de um apartamento que pode, subitamente, mudar”, assim começa a nossa conversa com Lars Finskud, seu proprietário, empresário e investidor, juntamente com a parceira, que durante muitos anos trabalhou no setor da moda. E muito embora este pudesse ser classificado como um apartamento cosmopolita, na maioria das grandes cidades, “ainda mantém um toque português, nomeadamente com as antigas paredes de pedra, o terraço com as suas belas colunas e o friso de azulejos portugueses antigos na entrada”.
Localizada no Príncipe Real, em Lisboa, a casa soma cerca de 220m2 de área e conserva ainda alguns elementos da construção original. O seu interior foi estruturalmente renovado nos anos 80 “e agora completamente modernizado com a minha intervenção”, prossegue o nosso interlocutor.
Lars, que trabalha a maioria das vezes a partir de casa, conduz-nos nesta viagem pelos interiores da sua residência – que nos arranca, não escondemos, alguns gestos e olhares de admiração –, salientando o facto de esta se dividir em duas partes distintas. “O apartamento principal encerra a entrada para a biblioteca, uma sala de estar com cozinha aberta, uma sala de jantar – todos com acesso direto ao terraço e piscina; somam-se o quarto de visitas, apoiado por uma casa de banho, a lavandaria, o quarto principal, apoiado pela respetiva casa de banho, o escritório ‘en-suite’, ambos com acesso ao terraço e a área de vestir.
A outra parte engloba o apartamento destinado a visitas, ou a um jovem adolescente, tem entrada independente e inclui um quarto, uma casa de banho e uma cozinha aberta. Lars, que também está aos comandos de uma empresa de design, a Vanguard Interior, gizou a sua casa ao detalhe, sendo seus o conceito e o design de interiores. “Contei com o apoio de um arquiteto local, que fez um excelente trabalho ao traduzir a minha visão de design em realidade e tive ainda o apoio de bons construtores que entenderam os requisitos de alta qualidade desejados”.
Toda a inspiração para esta casa vem de lugares e hotéis visitados e das viagens feitas, aqui se refletindo, harmoniosamente, em atmosferas especiais. “Poderia dizer que esta casa reúne uma mistura do Mediterrâneo Amalfi com o campo britânico e a simplicidade escandinava, onde todos os detalhes foram considerados”.
Adquirido em 2019, o edifício carecia de alguns cuidados, mesmo tendo sido alvo de algumas alterações e melhoramentos nos anos 80. A sua renovação e atualização exigiram a remoção do piso e de paredes bem como a substituição dos elementos técnicos – eletricidade e água. Em suma, foi despido, revelada a sua estrutura bruta e recriado do zero. “Novas tubagens, integração do aquecimento de piso e do ar condicionado em todas as novas casas de banho e cozinhas, novas janelas, entre outros elementos, dotam hoje a casa de muito mais conforto”. A casa exibe hoje um piso escuro e paredes coloridas, com fontes de iluminação amplas de modo a criar ambientes íntimos e pontos de foco especiais – “fornece um espaço aconchegante sem ser sombrio ou com aquele brilho plástico. Os abundantes focos e a luz ambiente em todo o apartamento, da Flos, a par com as janelas de grandes dimensões asseguram que a luz natural se mescla com a artificial sem litígios.
Ao piso de carvalho francês e aos painéis de carvalho italiano com padrões embutidos na entrada, somam-se outros materiais nobres, como o mármore italiano de alta qualidade na casa de banho principal, a consola com acabamento em carvalho com portas de correr em malha de bronze na sala de estar, a madeira de freixo empregue aqui e ali nos armários, o travertino de ónix italiano escolhido para a ilha e a mesa da cozinha…
Quase nada aqui é por acaso. Cerca de 90% do que está no apartamento foi mandado fazer à medida. Quase tudo é personalizado, ajustando-se às necessidades e preferências dos seus moradores. A casa vive da mistura de objetos contemporâneos e antigos. “Por exemplo, as mesas de jantar são portas chinesas antigas em molduras de ferro feitas sob medida. A mesa da sala é uma placa de mármore em forma de coração recortada de modo a encaixar-se nos sofás, e também ela foi feita sob medida de modo a posicionar-se como um anjo diagonal às paredes da sala para romper com as linhas arquitetónicas daquele espaço”.
A entrada está equipada com uma biblioteca, mas atrás desta escondem-se armários que guardam casacos, e também estes foram feitos sob medida; na prateleira de cima, exibem-se algumas obras de arte, incluindo um antigo Buda de terracota chinesa que Lars herdou do avô e o mostrador de um relógio, também herdado da casa de infância. Na sala, destacam-se os dois tapetes de lã e seda artesanais do Nepal com um padrão e esquema de cores a combinar com os painéis de carvalho embutidos na entrada / biblioteca.
Dos muitos exemplos de objetos adquiridos em viagens, o nosso olhar aponta para o tapete de seda iraniano comprado no Irão, para os travesseiros e tapetes da Turquia, para os candelabros oriundos da Argentina, para as lanças da Polinésia, para os utensílios de mesa e facas que vieram do Japão, ou para os talheres, de Itália ou os copos da Dinamarca, mas também para os grandes potes de cerâmica de interior da China, para alguns artefatos de ferro trazidos de Inglaterra e antiguidades provenientes de França, para aquela caixa de charutos cubana, para os chifres da África do Sul… Haveria muito mais aqui a descrever.
Para que tudo conviva com tal harmonia, muitos dos volumes desenhados e concebidos à medida receberam uma cor de acordo com os respetivos espaços onde se alojam. Além da estética, a funcionalidade é uma constante:
“Criei gavetas separadas nas paredes ao lado de cada loiça sanitária para esconder a escova e o papel higiénico extra”, revela. “Uma solução muito simples, ideal para manter os espaços de banho organizados e limpos, mas sem prejuízo da sua funcionalidade. Da mesma forma, escondi os botões do chuveiro para que não se projetassem, mantendo uma aparência limpa e livre de obstáculos”.
Outro elemento de destaque é a lareira de duas faces, que pode ser alcançada tanto a partir do terraço como a partir da sala de estar. Este terraço, uma zona privilegiada da casa, exibe poltronas de inspiração italiana e um sofá-cama com um dossel interno, cortinas a combinar e ventiladores de teto para que pareça uma extensão adequada do apartamento. As lanternas de parede são autênticas, bem como a mesa de jantar. “O terraço, criado como uma área interna / externa muito agradável, está voltado para oeste e tem uma bela vista da piscina e do jardim, e é, portanto, muito ‘higgeligt’, a palavra dinamarquesa para aconchegante”, diz-nos Lars, quando lhe perguntamos sobre uma zona da casa da sua preferência.
O potencial que a casa revelou ao início deste enlace revela-se em toda a sua elegância e plenitude confirmado: “A sua planta baixa, que permite várias opções de layout, o fantástico terraço com pilares de arenito, a piscina, o ginásio e a garagem, tamanho privilégio quando se habita no coração de Lisboa, além de toda a envolvente histórica no centro de Lisboa, foram características importantes a considerar”, confirma.