O atelier NJ+ Arquitetos de Nildo José, assina o projeto desta casa com 480m2 em Neully sur Seine, Paris, para um cliente apreciador da arte, arquitetura e mobiliário brasileiro.
Projeto: NJ+ Arquitetos / Fotografia: Denilson Machado – MCA Studio / Adaptação: Isabel Figueiredo
Os clientes são uma família francesa composta pelo casal e os três filhos adolescentes. O pai é um grande apreciador da arte, arquitetura e mobiliário brasileiro e procurava um projeto com personalidade e uma mistura de peças internacionais e brasileiras, “uma combinação de muito valor e algo que o nosso escritório já faz há algum tempo”. Por outro lado, era desejado aproveitar a base clássica da casa, que tem na escada o principal elemento escultural, bem como valorizar os revestimentos de origem europeia.
“A casa é dividida em cinco andares e cada um deles tem um programa muito bem resolvido atendendo à funcionalidade exigida no dia-a-dia. Além disso, esta divisão é muito bem aproveitada por todos os seus moradores”.
O principal pedido do cliente foi o de um projeto especial, com personalidade, e o diálogo entre a “brasilidade, que é tão presente no trabalho do escritório, e a base clássica europeia de uma casa situada num bairro de alto padrão em Paris. Foi um trabalho muito enriquecedor, porque trabalhámos com uma família que gosta tanto da nossa arquitetura, assim como dos nossos grandes designers/artistas de peças brasileiras, que o escritório sempre fez questão de valorizar”.
Para o resultado, o coletivo de Nildo José teve de fazer algumas alterações estruturais – basicamente, a integração dos espaços e a nova distribuição dos ambientes, sendo exemplo disso a cozinha e as casas de banho. Como a habitação era antiga, também precisou de uma renovação completa das partes elétrica e hidráulica.
“A arquitetura da casa serviu-nos como base de inspiração, em boa parte graças aos elementos preexistentes, de grande beleza, que serviram como excelentes pontos de partida para a prática da nossa arquitetura. O pé direito alto em todos os ambientes, a escada escultórica que interliga os andares principais, as janelas generosas com vista para a copa das árvores… Além das referências de uma família extremamente ligada à literatura, arte e história guiaram-nos até à conclusão do projeto, àquilo que ele é hoje”.
A escada, que começa no piso térreo e ergue-se até ao segundo andar, é um dos elementos-chave para o conceito da casa de família, além da amplitude da zona de estar, “para a qual criámos uma grande estante branca que acolhe a coleção de livros e arte da família”.
O projeto foi inteiramente desenvolvido no Brasil (durante o período da pandemia e do isolamento obrigatório) e executado à distância em França. “Contamos com uma ótima equipa de engenharia, que acompanhava o dia-a-dia de perto e nos contactava quando havia qualquer necessidade de compatibilização ou novas soluções de projeto”.
A ideia consistiu em aproveitar o menu de acabamentos disponível na Europa, como tal o atelier optou pelo piso de carvalho europeu e pelos mármores italianos.
No último piso, a varanda é totalmente descoberta, um espaço muito usado pela família nos dias quentes de verão. Esta varanda está equipada com uma cozinha de apoio ideal para os jantares íntimos, bem como para receber amigos e família. O jardim generoso traz a natureza de forma protagonista para o espaço, criando um pequeno oásis para a família relaxar.
No piso térreo, o principal ambiente da casa é a zona de estar, com um pé direito alto, grandes janelas, piso de carvalho europeu e mobiliário europeu e brasileiro. Aqui, encontramos alguns dos nomes mais sonantes do design, entre eles B&B Italia, Jorge Zalszupin, Charlotte Perriand, Flavio de Carvalho, Serge Muille, Martin Eisler e Jan Eikselius.
Neste mesmo piso, a escada e a estante branca destacam-se como “dois elementos com bastante personalidade”. É neste espaço do ‘living’ que se aloja a coleção de livros e de arte da família. “Com os livros e arte convivem ainda as esculturas que foram feitas pelos filhos do casal, rostos esculpidos em blocos de mármore maciço”.
No hall de entrada/bar, que é a entrada principal da casa, o pé direito alto, o piso em carvalho europeu com desenho Versailles, as paredes brancas com aplicação de ‘boiseries’, um bar em travertino Navona e as banquetas ‘vintage’ dialogam com um tapete orgânico, da coleção do cliente, e com as duas poltronas Etcetera Lounge Chair, de Jan Ekselius.
Na sala de jantar, “o ambiente é mais aconchegante e está todo revestido em painéis de ripado de madeira. A mesa orgânica com tampo de mármore é uma das protagonistas do ambiente e, sobre ela, pairam o conjunto de luminárias. “Parte da mesa é acomodada por um sofá curvo revestido em couro caramelo, enquanto a outra metade recebeu cadeiras vintages, peças de colecionador, que seguem o mesmo acabamento”.
No quarto principal, o do casal, foi mantida a lareira, “que era original da casa, agora com um novo revestimento em travertino” e, acima dela, as prateleiras acomodam livros e obras de arte da coleção dos moradores. “Os armários são em folha de madeira natural, com puxadores discretos que parecem um grande painel”. A cama baixa, modelo da Gervasoni, exibe “um desenho com bastante personalidade. Atrás dela, destaca-se um painel de marcenaria desenhado pelo nosso escritório, com réguas desencontradas e painel em laca fosca”.
Em frente à cama há um espaço com duas poltronas ‘vintage’ em tecido cor de mostarda, e sob elas um tapete que segue o mesmo tom, com uma nota de azul-marinho. A casa-de-banho tem duas bancadas, para ela e para ele, o piso em mosaico de travertino e uma banheira junto a uma janela de grandes dimensões que, quando aberta, proporciona aos moradores a vista para a copa das árvores”.
Na suite da filha, o atelier desenhou a marcenaria que abraça a cama, com armário nas laterais e na parte superior, por forma a otimizar ao máximo o aproveitamento do espaço. Na frente da cama há uma bancada de estudos onde se guardam desenhos, guias de viagens e materiais de papelaria.
Na suite da outra filha, um dos quartos com mais charme, segundo o atelier, somam-se os detalhes interessantes, sendo um deles “a cabeceira de marcenaria, desenhada pelo escritório, com paginação inclinada e acabamento em laca ‘nude’ fosca”. Na frente, “temos uma cama baixa toda estofada em linho”.
O quarto do filho mais novo tem uma atmosfera mais jovem e masculina, e aqui foram escolhidos os tons de madeira e de azul-marinho. A mesa de estudos fica junto à janela, para que o jovem tenha bastante luz natural para os dias de estudo.
O escritório foi destinado para o espaço da varanda, um ambiente envidraçado, do chão ao teto, também ele com vista para a copa das árvores do jardim.