Por a 22 Junho 2022

Comecemos com números: são quatro metros de largura por quinze de profundidade o que, dizemos nós, dá duas mãos cheias de desafios para tornar os ambientes iluminados e os espaços bem aproveitados, sem esquecer, claro, todo o design de interiores.

Projeto: Manuel Sánchez Hernández / Área: 117 m2 / Ano: 2020 / Fotografias: Milena Villalba / descrição enviada pelos autores do projeto, via archdaily

O bairro Cabanyal está separado da cidade de Valência, mas ligado a ela. É um lugar com uma história ligada ao mar que se desenvolveu e cresceu de uma forma orgânica, composta por quarteirões alongados e paralelos que se multiplicam interiormente. 

Originalmente, as primeiras construções eram cabanas e quartéis, que cresciam um após o outro, feitos de materiais leves e humildes. A falta de recursos levou a casas retangulares compactas com fachadas muito estreitas distribuindo ao máximo a superfície da rua.

Hoje, o bairro mantém um caráter próprio, salpicado de exemplos de arquitetura popular, modernista e contemporânea. O Cabanyal mantém a sua essência apesar de algumas transformações e incursões construtivas totalmente fora de estilo e escala, e superou até a tentativa de abrir uma grande avenida através do tecido histórico.

O projeto Rosari70 está inserido neste contexto, mais especificamente numa das tipologias mais estreitas – com quatro metros de largura e quinze de profundidade -, cercado por edifícios de três andares que criam uma perceção de beco. A dificuldade do projeto estava em aproveitar ao máximo a área, mantendo todos os espaços bem iluminados.

A primeira decisão importante não foi colocar o pátio, como era costume, ao fundo, mas antes  numa localização intermédia. Desta forma, a casa divide-se em dois volumes, que permitem uma melhor insolação dos espaços interiores reduzindo as suas alturas. 

A segunda estratégia foi a de relacionar as lajes interiores a meia altura de um andar para o seguinte, simplificando o desenvolvimento da escada, que foi desenhada de forma a proporcionar a maior passagem de luz possível.

Estas decisões, aliadas ao pé-direito generoso do rés-do-chão, resultaram num espaço contínuo, luminoso e fluido, longe dos interiores escuros e lineares que seriam de esperar. 

A fachada estreita e a movimentação das lajes, levaram a que fosse necessário trabalhar com estruturas metálicas, que foram combinadas com materiais mais tradicionais, como cerâmica ou madeira. 

 A fachada é pautada por uma estrutura simples e clara, seguindo o esquema tradicional do bairro e dos seus materiais, e conferindo-lhe um caráter contemporâneo. Os grandes vãos na fachada falam da relação com o bairro, mas a casa organiza a sua vida para o interior. O pátio joga com uma linguagem interior-exterior e a relação dos dois volumes confere-lhe um carácter de rua. Este carácter é acentuado pelo terraço e pelas janelas da varanda que mantêm a mesma linguagem da fachada. O terraço aproveita a área mais ensolarada do segundo andar, transformando-o num solário.

A sensação de pátio como rua privada é acentuada pelo projeto paisagístico que combina bancos e floreiras contínuas com plantas exuberantes (Strelitzias) e vasos de terracota com pequenas árvores frutíferas (kumquats). O paisagismo culmina com um “jardim vertical” como um mosaico de vegetação na área mais sombreada do pátio. A orientação, distribuição e vegetação fazem deste espaço uma zona de bem-estar térmico. Ele recebe sol nas primeiras horas do dia e mantém-se fresco o resto do tempo. 

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