Por a 17 Março 2022

Quem olha para este apartamento agora, quase não acredita que em tempos lhe faltou identidade. Uma peça poligonal no centro permitiu articular todos os espaços e criar escalas e ambientes cheios de graça.

Arquitetura: Piano Piano Studio / Localização: Valência, Espanha / Ano: 2021 / Fotografias: Milena Villalba / descrição enviada pelos autores do projeto, via archdaily

A residência originalmente tinha pouca identidade, tanto pela sua aparência como pela distribuição e materiais utilizados. Ao entrar no apartamento, um corredor escuro percorria todo o espaço, com os quartos dispostos em ambos os lados. 

No entanto, uma vez realizadas as demolições, vimos que o espaço tinha muitas possibilidades. A sua localização numa esquina e a forma quase quadrada junto a uma parede divisória diagonal, permitiu-nos resolver o projeto a partir de uma abordagem geométrica – ferramenta que consideramos essencial para projetar de forma natural, mas disciplinada de um modelo para a realidade.

Os clientes queriam uma casa simples e não tinham muitas necessidades específicas, para além do fato de que poderiam trabalhar a partir de casa algumas vezes, e que gostariam de um ambiente amplo para cozinhar.

Isso permitiu-nos refletir sobre a flexibilidade no uso dos espaços e a forma de os tornar menos hierárquicos. Os traços geométricos que delimitam o acesso foram o ponto de partida para inserir uma peça poligonal no centro da casa que, como uma rótula, nos permitiu  articular diferentes espaços ao seu redor.

Esta peça poligonal concretizada num octógono, torna-se para além de uma peça de distribuição ou passagem, um lugar de permanência ou encontro em que o imprevisto acontece. Junto à mesma foram criados dois espaços fechados com um único acesso, que acolhem uma zona de duche e uma sanita,  permitindo usos simultâneos.

No centro do octógono foram criados armários suspensos para libertar as divisões que nele incidem e assim permitir que adquiram utilizações diferentes consoante as necessidades futuras. 

Todas os espaços estão conectados e giram em torno do octógono, multiplicando as relações visuais e espaciais. Uma opção que favorece a ventilação cruzada, tornando a casa fresca no verão e permitindo que todos os espaços sejam naturalmente iluminados.

Por fim, ao nível dos materiais, a ideia era a de unidade, logo, a sobriedade e a uniformidade na escolha dos materiais foram o caminho a percorrer. Pinceladas sutis lembram a pré-existência: portas recuperadas com vidro fosco ou um pilar de betão deixado exposto. Detalhes em madeira na forma de puxadores e molduras de portas, aliadas a elementos verdes, quebram conscientemente a homogeneidade para redirecionar o olhar.

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