Tem 24 anos, é designer, ceramista e empreendedora. Trabalhou em Milão no estúdio de design de Isao Hosoe e Lorenzo de Bartolomeis, mas é a partir do seu estúdio em São Domingos de Rana que Maria de Almeida e Paiva desenvolve as suas peças. Sempre com uma boa dose de amor e significado!
Fotografia: NU Cerâmica Texto: Mafalda Galamas
Maria de Almeida e Paiva lançou o seu projeto NU cerâmica em setembro de 2021 que consiste em desenhar e produzir peças de cerâmica feitas à mão e com um design único, singular e subjetivo.
Considera que as suas peças “além de serem um presente de Natal cheio de amor e significado, são também razão para uma compra responsável, consciente e uma ajuda enorme a um pequeno negócio!”
Aproveitou a fase de pandemia para criar e empreender, mas conte-nos um pouco do seu percurso, antes de fazer nascer a NU Cerâmica.
MAP: Tenho 24 anos, sou uma designer e ceramista de Carcavelos. Estudei design na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, e participei num programa de intercâmbio na Faculdade de Engenharia de Design Industrial da Universidade Técnica de Delft, na Holanda.
Após terminar os meus estudos, fiz as malas e parti para uma aventura sozinha pela Ásia, onde fui professora e mentora voluntária numa escola na província de Campong Cham, no Camboja.
Mesmo sabendo que “casa é casa”, as minhas experiências no estrangeiro ainda não me preenchiam. Como tal, fiz as malas novamente e fui trabalhar para Milão no estúdio de design de Isao Hosoe e Lorenzo de Bartolomeis.
Quando começou a sua paixão pela cerâmica?
MAP: Quando estava na faculdade e agora, depois de concluir um curso de design aplicado à cerâmica nas Caldas da Rainha, sinto que foi o momento certo para explorá-la e transformá-la no meu próprio negócio.
E assim nasce a NU Cerâmica…
MAP: Sim, nasce da vontade de inspirar o estilo de vida de cada pessoa através da arte. Sinto que a arte é a expressão da humanidade, que o estilo deve ser ainda mais profundo que a estética e que o que importa mesmo é a sensação que as peças e o próprio barro, nu e puro, transmitem a quem as vê, toca e sente.
A nu cerâmica traduz uma simbiose entre tradição e modernidade, expressa em produtos que combinam uma estética contemporânea com influências nacionais. Acredito que esta fusão, aliada à forte ligação às minhas raízes e identidade cultural, é o que me motiva a criar com as minhas próprias mãos produtos inovadores e de elevada qualidade.
Porquê o nome ‘NU’, o que reflete?
MAP: O nome da marca evoca todos os valores essenciais que a marca representa. Nu no seu sentido mais literal – algo despido, simples, natural, verdadeiro e exposto – exatamente como acho que a vida deve ser vivida.
Hoje, a nu cerâmica tem o apoio da Câmara Municipal de Cascais – através do programa de Bolsas de Promoção de Talento da Cascais Jovem.
Que tipo de peças podemos encontrar na sua marca?
MAP: Como uma ceramista apaixonada, desenho e produzo peças únicas e inspiradoras para a casa, através de um processo de moldes 100% artesanais e da técnica de “slip casting”, com um delicado acabamento manual. Faço todas as peças em quantidades controladas, o que me permite assegurar que produzo com qualidade e personalidade, aliando sempre o amor e dedicação que sinto por esta marca.
Quer revelar-nos um pouco sobre o processo de criação?
MAP: Impulsionada pela minha experiência na área do design, cada coleção nasce de um processo de design completo e criativo. Começo por desenhar as peças no papel para sentir as formas e os volumes e para ter uma ideia das proporções que quero alcançar. Depois, desenho todas as peças digitalmente, o que me dá a possibilidade de ajustar formas e dimensões, de maneira a produzi-las em barro. Apesar de fazer as peças através dos meus próprios moldes, costumo usar a roda de oleiro para fazer os protótipos, dando vida aos meus desenhos e informando rapidamente o resultado final. Cada peça é trabalhada individualmente à mão, o que resulta em pequenas variações na sua aparência, indicativas dos materiais e técnicas utilizadas, tornando cada peça completamente única e especial.
Trabalhar com o barro é um processo bastante repetitivo e demorado, e é neste processo que encontro uma sensação de espaço e calma, sensação esta, que espero que passe às peças que crio e aos valores que a nu cerâmica representa.
O que mais a move neste projeto na primeira pessoa?
MAP: O maior propósito é mesmo produzir com significado, pôr a minha essência naquilo que faço todos os dias para produzir peças únicas e especiais. Há poesia no processo, mas há ainda mais no final!
E no final de contas, sou as minhas memórias, os sítios para onde já viajei, as pessoas que já conheci, os momentos por que passei. Sou uma coleção de saudades. E as minhas peças, também. São tudo o que eu sou e tudo aquilo que quero ser.