Por a 3 Fevereiro 2021

Um apartamento que concilia a sofisticação britânica com a autenticidade de África.

Fotografia: João Peleteiro Produção: Amparo Santa-clara

Texto: Mafalda Galamas

Esta história começou a escrever-se nos anos 50. Nada na arquitetura deste edifício foi deixado ao acaso, não fosse este um protótipo daquele que viria a ser uma das mais renomadas unidades hoteleiras do país. Todos os acabamentos selecionados nas habitações que compõem este prédio serviram de teste para o Hotel Ritz. A entrada, as escadarias, os revestimentos a mármore, as loiças sanitárias, portas, janelas ou caixilharias cor “champanhe”… são algumas das subtilezas que se mantêm até hoje.

Numa espécie de compromisso entre modernidade e tradição, a proprietária do T4, com cerca de 250m2, que hoje lhe mostramos, conjugou as características mais tradicionais do imóvel, com outros pormenores algo surpreendentes.

Aos primeiros passos no pavimento de pedra mármore do hall, percebemos as raízes de quem aqui habita. A mesinha inglesa, o espelho dourado, e os próprios tons da divisão remetem para a preceito dos espaços formais. Se nos ficássemos pela entrada jamais perceberíamos o âmago de quem aqui vive, e o seu fascinante e aventureiro percurso.

Uns passos ao lado, na sala, a decoração com inspiração inglesa permanece, embora conjugada com dezenas de peças tribais. Não fosse esta uma família com enorme historial em expedições e safaris em África, desde há décadas.

Nos dias que correm designa-se por safari os passeios e expedições organizadas com o intuito de observar animais selvagens. Tratem-se de gnus, zebras, gazelas, antílopes, elefantes e hipopótamos, quer seja no BotswanaTanzâniaQuêniaNamíbia ou África do Sul . Em qualquer dos casos, as palavra de ordem são preparação, conhecimento e boa organização. Capacidades que esta família domina com mestria. Carolina Guedes Cruz, filha da proprietária, faz inclusivamente, voluntariado apoiando espécies ameaçadas, em concreto na conservação de elefantes, rinocerontes e outras espécies tanto em diferentes países  África.

É com orgulho que estão expostas na sala, em concreto na escrivaninha inglesa, algumas peças decorativas vindas do Botswana e do Zimbabwe, como é o caso da cabeça de um búfalo esculpido em pedra. Junto ao sofá, as mesinhas de apoio com estrutura de latão, têm tampo preto lacado. Foram pintadas pela dona da casa e têm inspiração asiática, em concreto chinesa. Em cima, um peculiar candeeiro construído (também pela proprietária da casa) a partir de uma semente comprada na Colômbia.

Também nas paredes o contraste se faz notar, de um lado as telas pintadas a óleo, inglesas, de autor desconhecido, do outro o enorme quadro contemporâneo retratando uma zebra… Elemento presente aqui e acolá, como no abajur da sala ou nas almofadas com o mesmo padrão estriado deste animal.

No outro canto da divisão, espaço reservado à estante com livros e fotografias,  encontramos a zona de refeições. As cadeiras de palhinha combinam com a mesa quadrada (remetendo-nos para a ideia de cimento afagado), num contraste que resulta plenamente.

Quanto mais avançamos pela zona privada da casa, mais nos apercebemos da ligação desta família à vida selvagem. Na suite, sob a ‘tela’ cinzenta das paredes atestamos a experiência de alguém que conviveu de perto com os bushmen. O contacto com estes indígenas conhecidos pela profunda conexão que têm com suas terras, conhecimento da natureza e respeito que mantêm com o meio ambiente, dificilmente pode deixar alguém indiferente. As duas camas francesas, de palhinha, enquadram as fotografias captadas pela proprietária a estes protagonistas de respeito.

Apesar da base clássica do quarto, são as cores terra, o pufe em pele de vaca, os picos de ouriço Africano na mesinha de cabeceira ou o candeeiro com abajur padrão de zebra, que mais nos saltam à vista.

Já no quarto da Carolina, empreendedora e criadora da Kleedkimonos – marca portuguesa de loungewear, de kimonos bordados, inspirada na fauna Africana e cuja parte das receitas reverte a favor de uma ONG na África do Sul dedicada à luta contra a extinção do Rinoceronte branco, destacamos a cómoda inglesa e o quadro pintado por Benedita Albuquerque, cujo motivo é… A vida selvagem!

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