Por a 16 Novembro 2025

O projeto, do coletivo espanhol Garmendia & Cordero, venceu o Prémio Reabilitação e Restauro COAVN 2022, Best Project 2019 Archilovers, entre outras menções.

Fotografia: Calos Garmendia Fernández Projeto: Garmendia & Cordero

A transformação da Igreja de Tas, em Sopuerta (Biscaia), representa um dos desafios mais singulares da reabilitação contemporânea: converter uma igreja renascentista abandonada numa habitação.

Sempre que se altera o uso de um espaço, é necessário adaptá-lo a novas necessidades que vão muito além de uma simples atualização. Neste caso, o processo destacou-se pela sua complexidade e pelo caráter excecional da própria intervenção.

A pequena igreja, praticamente uma ermida, foi construída na segunda metade do século XVI e foi alvo de uma remodelação significativa no final do século XVIII, assumindo características neoclássicas, ganhando altura e incorporando elementos como um campanário.

Quando surgiu a oportunidade de intervir no edifício, este encontrava-se sem cobertura, parcialmente desmoronado para o interior e em avançado estado de instabilidade estrutural. Localizada no bairro de Las Barrietas, no município de Sopuerta, a igreja ocupa um ponto privilegiado num terreno rodeado por montanhas densamente arborizadas e poucas construções dispersas.

Desde o início, a prioridade foi intervir com a máxima sensibilidade, tocando a estrutura original apenas quando não existia alternativa. A abordagem foi encarada como a introdução de um novo elemento dentro de uma ruína, preservando a memória histórica sem comprometer a funcionalidade necessária à nova vida do espaço.

A forma como se pensa uma habitação está diretamente ligada ao estilo de vida do seu habitante, e este projeto expressa a vontade de domesticar um espaço pouco convencional, respeitando a sua história, mas introduzindo princípios contemporâneos. A nova casa é entendida como um espaço aberto, um lugar de encontro e de socialização, onde a arquitetura habitacional ganha novas possibilidades.

A colaboração com Tas, o cliente, tornou-se central em todas as fases do processo. O projeto foi literalmente desenhado “a quatro mãos”, partilhando ideias, preocupações, conhecimentos e ambições. Tas acabou por ser o verdadeiro motor da transformação, participando na conceção, na visualização e até na execução física de algumas partes da obra.

A sua intervenção contínua garante que esta reabilitação permanece em evolução, assumindo a casa como um projeto vivo e inacabado, em constante diálogo entre passado, presente e futuro.

Desde o primeiro momento, a intervenção foi entendida como um processo de design prolongado no tempo, evoluindo ao ritmo da própria obra e mantendo-se em crescimento mesmo após concluída a fase do arquiteto. A partir daí, continuará a desenvolver-se nas mãos de Tas, seguindo as mesmas premissas que orientaram todo o projeto.

A evolução futura continuará a respeitar o que já existia, deixando claramente visível aquilo que pertence ao presente e assumindo, de forma consciente, o confronto entre a história original do edifício e os novos elementos introduzidos. As cicatrizes do passado permanecerão à vista, sem serem ocultadas ou suavizadas, revelando a trajetória da igreja com a mesma força narrativa que um texto literário, agora entrelaçado com a arquitetura contemporânea que lhe dá nova vida.

Este percurso implica aceitar as consequências inerentes à mudança de uso, bem como o impacto da alteração de escala ao criar uma habitação dentro de um espaço que foi originalmente concebido como igreja. Exige também adaptar-se às novas necessidades de luz, conforto e ambiente que definem a vivência atual.

O processo continua a afirmar a transformação deste espaço, valorizando o novo significado que adquiriu. Sem apagar o passado, conseguiu-se converter um lugar de culto num verdadeiro lar, preservando a memória e elevando a história através da arquitetura.