Por a 10 Julho 2025

A cadeia hoteleira JW Marriott “aterrou” na costa indomável de Creta, na Grécia. Através de um projeto assinado pelo estúdio local Block722, a insígnia mergulha no paradigma da hospitalidade imersiva.

Projeto: Block722 / Fotografias: Ana Santl / segundo memória descritiva

Na encosta rochosa de Akra Pelegri, com vistas desimpedidas sobre a Baía de Souda, nasceu o novo hotel Marriott em Marathi, Creta — um refúgio de luxo silencioso, sustentável e profundamente enraizado no território. Assinado pelo atelier grego Block722, o projeto estabelece um novo paradigma para uma hospitalidade imersiva, onde a arquitetura contemporânea dialoga com a paisagem natural e o ritmo pausado da ilha.

Estendendo-se por um terreno em socalcos, o resort de cinco estrelas acolhe 160 quartos e suites, preparados para receber até 450 hóspedes, com generosas áreas comuns. A experiência começa logo à chegada, com uma ampla praça ajardinada com espécies nativas que recebe os visitantes de forma calorosa. O mar surge lentamente no horizonte, revelado de forma intencional e progressiva, criando uma ligação emocional entre a arquitetura e o enquadramento natural.

Dentro do lobby, a vegetação continua o seu percurso, integrando-se organicamente no espaço interior e enquadrando a zona de estar da recepção. Uma claraboia deixa entrar a luz natural, ativando o jardim interior e reforçando a relação com a paisagem envolvente. Da recepção partem uma sequência de espaços interiores interligados — bar, restaurante principal e JW Market —, organizados em volumes geométricos e serenos, todos abertos para o mar, sob grandes pérgulas que fazem a transição entre o interior e o exterior.

As pérgulas que marcam essa passagem evocam as colunas dóricas da antiguidade, com estruturas simples e elementos de sombreamento em materiais naturais que filtram a luz mediterrânica. O jogo de luz e sombra que se desenha ao longo do dia estende-se pelas varandas e sobre um espelho de água que envolve os espaços.

Materiais como pedra bruta, madeira e outros elementos naturais reforçam a textura dos ambientes e criam uma ligação táctil ao local. Ilhas com zonas de estar rebaixadas, acessíveis por caminhos sobre a água, convidam à contemplação e ao relaxamento profundo.

Nas zonas mais baixas do terreno, entre a costa e o relevo acidentado, distribuem-se os restantes serviços: restaurantes, áreas de estar ao ar livre, piscinas e centro de bem-estar, todos cuidadosamente integrados na paisagem. À medida que se sobe, surgem os alojamentos, posicionados em níveis mais elevados, proporcionando privacidade e vistas panorâmicas.

As unidades habitacionais foram desenhadas como volumes geométricos de um e dois pisos, cuidadosamente implantados na topografia natural. Esta disposição em anfiteatro garante vistas desafogadas, privacidade e uma integração subtil com o ambiente.

Cada quarto é pensado como um espaço de habitação integrado, onde se esbatem as fronteiras entre o interior e o exterior. As piscinas privadas parecem flutuar na paisagem, criando microclimas refrescantes, enquanto os terraços sombreados e os telhados ajardinados fazem com que o terreno natural se torne parte da experiência diária do hóspede.

A visão da Block722 assenta numa fusão equilibrada entre arquitetura contemporânea e o legado ancestral da ilha. Esta abordagem só foi possível graças à colaboração próxima com artesãos, fabricantes e fornecedores locais, que contribuíram para quase todas as etapas do projeto, desde os materiais até à construção.

A paleta de materiais reflete fielmente o contexto: as paredes em pedra foram construídas com materiais extraídos diretamente do próprio terreno; o betão incorpora agregados locais. As cores, texturas e formas dos revestimentos e mobiliário — desde o linho cru ao barro, rattan, terracota e madeira — derivam diretamente da paisagem, criando interiores que parecem extensões naturais do exterior.

A sustentabilidade foi um princípio orientador desde o primeiro esboço. A estratégia da Block722 passou por integrar organicamente a arquitetura na paisagem costeira, respeitando a topografia original e restaurando-a após a construção. A plantação privilegia espécies autóctones, resistentes à seca e com necessidades mínimas de irrigação, promovendo a biodiversidade local.

O design passivo inclui orientação solar optimizada, ventilação natural cruzada e pérgulas profundas que proporcionam sombra eficaz e conforto térmico, reduzindo o consumo energético. A par disso, há uma abordagem ativa com painéis fotovoltaicos, captação de água através de poço local e coberturas verdes que melhoram o isolamento térmico e visualmente integram os edifícios no terreno. Todos estes sistemas operam em conjunto para minimizar o impacto ambiental do projeto e promover a regeneração do ecossistema.

Num cenário natural dramático como o de Creta, este novo Marriott mostra que é possível construir com sensibilidade, criar experiências transformadoras e honrar o território. Aqui, o luxo não se impõe — emerge da simplicidade, da autenticidade e da ligação profunda à terra. Um verdadeiro exemplo de como a arquitetura pode ser regenerativa, consciente e inspiradora.