Por a 1 Fevereiro 2024

A arquiteta e designer de interiores Crina Arghirescu Rogard assina o projeto de renovação total, interior e exterior, desta moradia em Casablanca.

Projeto: Crina Arghirescu RogardFotografias: Isabel Parra / segundo memória descritiva

Os proprietários desta vivenda em Casablanca, não obstaram a quaisquer propostas. Houve carta branca desde o início para um trabalho de renovação total, no interior e no exterior. Algo que Crina Arghirescu aproveitou, por forma a interpretar a estrutura muito modernista da moradia, que exigia um espaço não convencional no que respeita à cultura marroquina, retirando, para tal, alguns dos elementos formais dos ambientes tradicionais.

“Conseguimos reconfigurar a disposição dos dois pisos para criar um fluxo contínuo entre os espaços, redesenhar os recintos e as aberturas da casa, bem como a piscina e o paisagismo. O nosso objetivo foi abrir a casa ao exterior, rasgando paredes e posicionando janelas altas em locais que oferecem diferentes camadas de transparências e criam perspetivas e vistas inesperadas que atravessam a casa sem a revelar na sua totalidade”, descreve.

E dá como exemplo a oliveira por detrás da fachada de vidro, que acabou por se tornar “um pano de fundo para a escadaria escultural, o coração pulsante da casa, que protege a privacidade da sala de estar, permitindo um fluxo quente de luz e ar”.

A escada personalizada em madeira de carvalho manchada, com pormenores em gesso e aço, foi inspirada em Carlos Scarpa. Até a areia na base foi trazida do deserto marroquino.

“A cozinha, que antes estava totalmente fechada, viu a sua divisória ser demolida e está hoje aberta para o jardim. Os clientes queriam ‘desformalizar’ alguns dos ambientes tradicionais do design marroquino, mas sem abdicar como isso dos espaços para as refeições”. E assim surgiu a sala de estar redonda, com um sofá que acolhe todos os que ali se sentam.

Para o design de interiores da casa, Crina Arghirescu inspirou-se nos mestres modernistas como Carlo Scarpa e Jean Francois Zevago. “O seu estilo simples e rigoroso poderia proporcionar um pano de fundo calmo, que realçaria o poder poético da mistura de peças arquitetónicas e artísticas, vintage e contemporâneas, fundamentais para a minha prática”.

Crina Arghirescu gosta de procurar peças vintage em casas de leilões na Europa e nos EUA. “Vou a todo o lado! Mas em Marrocos fiquei encantada ao descobrir o que os souks têm para oferecer, e até encontrei peças verdadeiramente únicas de artistas como Maria Pergay e Tobia Scarpa”.

Na cozinha, há espaço para os bancos Duplex de Javier Mariscal e para os candeeiros suspensos de alabastro, adquiridos em Casablanca; na sala de jantar, as cadeiras de madeira de Tobia Scarpa são combinadas com cadeiras vintage modernistas adquiridas no Habous souk de Casablanca. “Também acrescentei à minha paleta as cores e texturas invulgarmente ricas do artesanato distinto do país, com acabamentos únicos em gesso, bem como peças personalizadas em bronze e metal que estão espalhadas pela casa, e uma variedade de tecidos e lãs de origem local”.

O lavabo social apresenta um lavatório de mármore Yves Saint Laurent de origem local e um espelho Transience de Lex Pott e David Derksen. As camadas de pátina do azulejo foram obtidas através de diferentes estados de oxidação. “Vejo cada divisão e cada projeto como uma espécie de puzzle artístico. Gosto de estabelecer um novo diálogo entre a arquitetura, o mobiliário e os objetos que geralmente não seriam combinados entre si e que, no entanto, quando harmonizados, criam composições artísticas inesperadas e elegantes. Para mim, cada parte de uma casa ou apartamento é uma oportunidade para uma nova visão poética”.

O quarto da criança é uma homenagem ao Musée Bourdelle em Paris — “o atelier de Antoine Bourdelle tem uma série de blocos espalhados para expor as suas esculturas, e quando o filho do cliente trouxe os seus brinquedos e livros, achei que tinham tudo a ver com o projeto e pensei que desta forma, o espaço seria mais organizado, mas se ainda por cima a sua instalação é assumida pelo seu habitante, então a combinação é perfeita!”.

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