A QuartoSala assina o projeto de design e decoração de interiores deste T2, no seguimento de um projeto de reabilitação de todo o edifício onde se insere, com autoria do escritório de arquitetura Ana Costa.
Design e decoração de interiores: QuartoSala / Fotografia: Gui Morelli / Texto: Isabel Figueiredo
Em plena Avenida da Liberdade, no número 49, entre a Praça dos Restauradores e a Rua da Glória, o edifício tira proveito da sua localização especial, onde pulsa hoje uma nova Lisboa e se sente um intenso cruzamento da herança pombalina com uma nova leva de edifícios reabilitados.
“Trata-se de um prédio habitacional que foi totalmente ‘retrofitado’, tendo como objetivo reorganizar o layout de todos os espaços interiores – e projetando a cidade na vivência do quotidiano – de cada apartamento”, esclarece Pedro D’Orey. A fachada, ponto de especial interesse neste prédio, foi também ela reabilitada.
“Os interiores foram totalmente revistos e reconstruídos com materiais mais atuais e tendo como denominador comum uma neutralidade que se reflete em todos os acabamentos”, prossegue o nosso interlocutor. O T2 exibe uma boa sala convencional aberta para a cozinha construída a partir de materiais neutros que se fundem no espaço da sala, e conta ainda com um corredor lateral de acesso a dois quartos, com formatos menos convencionais e pouco ortodoxos, além dos espaços de banho.
Na qualidade de designers de interiores, a QuartoSala guiou-se por uma abordagem que assenta numa intervenção mais fluida e sem constrangimentos de estilos. Por outras palavras, “construímos uma narrativa a partir de uma curadoria de peças que escolhemos cuidadosamente para fazer parte da decoração da casa”. E é da interação entre essas peças, “que contam histórias interessantes sobre o tempo em que foram desenhadas e os designers que as pensaram, que, para nós, nasce a definição de um estilo QuartoSala – aliás, nada há de mais contemporâneo do que esta liberdade que gostamos de ter, integrando design de origens e locais tão diversos como Portugal, Itália, Escandinávia ou Brasil”.
E se todos os projetos têm os seus reptos, quaisquer que sejam os intervenientes, o desta casa não foi exceção: “O desafio para qualquer designer de interiores é realçar, sempre, as qualidades de um espaço e tirar partido de pontos menos interessantes, quando é o caso, retirando–lhe importância ou promovendo sobre eles um outro olhar mais criativo”.
De um lado, salienta Pedro, “temos a face luminosa do apartamento, com uma sala debruçada sobre uma Avenida da Liberdade deslumbrante com os seus tradicionais passeios de motivos ondulados e com grande interesse gráfico. Em oposição, temos as zonas íntimas da casa, com menos luz e e distribuídas em formatos menos convencionais e pouco ortogonais”.
A ideia de tirar partido da exuberância da luz da sala e da sua relação com a dinâmica da cidade conduziu as atenções para o que é mais especial no apartamento, que é a sua relação com o exterior, enquanto espaço público, e como é que esse espaço passa a integrar o projeto. À semelhança da grande maioria dos projetos da QuartoSala, também aqui houve o cuidado de operar uma mistura equilibrada de estilos, o que acaba por ser visível através das peças selecionadas. Foi dada uma atenção especial à iluminação, com o intuito de criar pontos de interesse, misturando peças de curadoria com clássicos do Design.
São exemplo disso os candeeiros da Flos, que convivem com peças de autor, como a luminária de suspensão da Astep – modelo 1209 – desenhada no final dos anos 50 por Gino Sarfatti ou a luminária de parede Neuro de Davide Groppi.
Em relação ao mobiliário, na sala, colocou-se em feliz diálogo um sofá italiano da Flexform e duas poltronas brasileiras com um design orgânico, em madeira, nobre, assinadas por Jader Almeida. A coleção de cerâmicas “Palace” do Daciano da Costa presta a merecida homenagem ao criador português, que está na base da disciplina do Design em Portugal. Por seu turno, no corredor de entrada do apartamento foi criada uma instalação com candeeiros desenhados por Castiglioni, que iluminam, nesse espaço, duas obras de série limitada que o fotógrafo de arquitetura Fernando Guerra criou para a QuartoSala.
Todas as escolhas do coletivo nacional assentaram em materiais que inspiram conforto e proximidade com a natureza: “madeira de nogueira natural nas poltronas e no aparador do designer Jader Almeida, lã e algodão nos tapetes das zonas de estar e de jantar e a exuberância da natureza nas fotografias de Fernando Guerra de projetos de arquitetos brasileiros, ao longo de todo o corredor de entrada”.
Por se tratar de um apartamento projetado para clientes estrangeiros, aqui não se casam peças de família com as adquiridas para o efeito. Como nos explicam, “todas as peças foram fornecidas por nós porque os clientes não tinham intenção de trazer nada do seu país de origem”.
“Trata-se de um cliente-tipo que nos consulta recorrentemente. Não sendo portugueses, estes clientes, em regra, procura um ‘pied-à-terre’ em Lisboa, um espaço amplo decorado com peças de alguma sofisticação, mas de fácil manutenção onde possam passar alguns dias por ano para usufruir da cidade”. Neste caso em particular, o briefing passado à equipa parte de um casal com um perfil clássico, apreciador de boas peças de Design com uma linguagem marcadamente contemporânea, que desejava para a sua casa em Lisboa uma decoração cuidada, com um visual despojado, sem prejuízo do conforto. “Aliás, o conforto é palavra central neste projeto”, sublinha Pedro d’Orey.