Duas mulheres e um sonho. Tornado realidade depois de anos de busca pelo terreno ideal. A poucos metros do mar, o refúgio de praia abraça a vida simples, a amizade e prepara-se, também, para abraçar o futuro com serenidade.
Fotografia: José Manuel Ferrão / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Figueiredo
A Aldeia do Meco, a 35 quilómetros de Lisboa é, desde há quase duas dezenas de anos, o local de eleição de Carla e Patrícia. “A vibe hippie chic desta pequena aldeia piscatória na península de Setúbal, a mescla entre o pinhal e o mar e os maravilhosos restaurantes são alguns dos atributos inegáveis do Meco que, desde a década de 70, se transformou num reduto da comunidade artística da região da grande de Lisboa”, escreve-nos Carla.
Depois de uma busca que demorou alguns anos pelo espaço ideal, as proprietárias encontraram o seu terreno de sonho no pinhal, a apenas 800 metros da famosa praia do Meco. Com ideias muito claras sobre as formas e volumes desejados, puderam contar com a ajuda do arquiteto – e amigo – João Covavich, que assina o projeto da moradia.
“Sabíamos que queríamos telhados de duas águas – numa homenagem à arquitetura portuguesa -, que queríamos uma casa branca, que nos faz lembrar a aldeia alentejana de onde era natural a avó paterna da Carla, e que não podiam faltar janelas grandes que permitissem a entrada de luz em cada recanto da casa”, conta-nos Patrícia.
O Atelier Covavich deu corpo às ideias das duas amigas e acrescentou-lhes a volumetria, os contrastes e o jogo de luz e sombra que conferem à casa identidades distintas, dependendo do horário solar.
A execução do projeto, a cargo da empresa local Recentebloco, conta ainda com duas outras unidades, para já destinadas ao aluguer de curta duração, mas cujo principal e inicial propósito foi o de criar um refúgio e um espaço destinado a envelhecer, num cenário de tranquilidade não muito distante da grande cidade, e que este espaço fosse garantia de terem os amigos por perto.
Uma vez entrados nesta casa luminosa, apercebemo-nos da capacidade criativa destas duas mulheres, dos seus mundos e experiências. “A cozinha, que se abre para o exterior, é inegável e literalmente o coração desta casa e a ilha, de grandes dimensões, presta-se a muitas reuniões e jantares com amigos”.
A decoração assenta num estilo muito natural, muito orgânico e foi uma tarefa da qual Carla e Patrícia fizeram questão de não abdicar. Com uma tónica rústica, encontramos a herança do tempo e o respeito pelas raízes em várias peças, como a tulha, móvel de mercearia que chegou de Niza, ou os móveis lavatórios feitos com os pés de antigas máquinas de costura da família. “Há também algumas peças adquiridas na loja mais trendy do Meco, o bazar ‘Muito Espalhafato’, caso do grande lustre que pontua a sala de estar e do banco de matança que nos recebe à porta de casa”.
“Gostamos do conceito de DIY”, comentam, quando apontam a mesa de apoio na área de estar e as duas coffee tables em frente ao sofá, feitas a partir de um pinheiro bravo, antigo.
Nas paredes da sala, as escolhas recaem, maioritariamente, sobre duas artistas nacionais e sempre com a música com pano de fundo. Rueffa, e a sua ‘Maria Callas’ de fibra de vidro, e Maisa Champalimaud, com as obras de Chico Buarque e Amália, ‘Love is the Anwser’. Também as peças ‘Namorados em Azul’ e ‘Veado’, ambas adquiridas no atelier Mercadores de Memórias, na vizinha vila de Azeitão, foram escolhas conjuntas e asseguram à sala em plano aberto um toque especial, em boa parte devido ao uso do ferro e dos metais.
Fora de portas, o espaço exterior mescla-se com a paisagem local e conta com uma piscina aquecida ladeada por relva, além de uma sebe de Eugénias que contribui anda mais para a sensação de prolongamento do cenário natural, fundindo-se, ao longe, com o pinhal.
Aqui, o alpendre rústico de caniço é palco privilegiado das refeições de verão e está equipado com uma churrasqueira, onde é dourado o peixe que chega diretamente do mar do Meco.
“O jardim frontal da casa é de inspiração desértica e mediterrânea, onde as espécies autóctones, as suculentas e os catos têm o papel principal”, salientam.
Neste ambiente rural, as ovelhas, as cabras, os coelhos e duas burras são vizinhos próximos que aparecem diariamente junto à vedação para dar os bons dias. Há melhor do que isto?