Por a 23 Março 2023

O mais recente projeto da designer de interiores Susanna Cots, é uma casa sem paredes nem portas, que joga com a distribuição como estratégia de ligação.

Projeto: Susanna Cots / Fotografia: Mauricio Fuertes

Susanna Cots deu-lhe o nome de “House Autumn in the North” e começa a descrição da mesma com uma observação: “Estamos tão habituados a viver de acordo com os mesmos padrões e as mesmas regras, que nos esquecemos de ouvir os nossos instintos. E não é apenas no que se diz respeito a tomar decisões profissionais, pessoais ou familiares. Mas também, na criação de uma casa”.

Seguem-se as perguntas: “Porque razão nos apegamos a um design estabelecido se já não acreditamos nele? Porquê construir paredes e fechar espaços se aquilo que procuramos são relações”?

O mais recente projeto da designer sedeada em Girona, Espanha, é uma casa sem paredes e sem portas, e que joga com a distribuição como estratégia de ligação.

Para Susanna Cots, o desafio da distribuição numa casa é mais do que uma planta com medidas e números que se somam e se encaixam. Distribuir um espaço significa entender as necessidades de relação da pessoa ou família que ali vive. Trata-se de ouvir, deixar fluir esse instinto e deixar emergir o subconsciente, que busca sempre o bem-estar.

Segundo a designer, poderíamos dizer que a distribuição é uma ferramenta psicológica, uma estratégia que permite construir um quebra-cabeça que se organiza de acordo com o seu modo de viver. Embora, visto de fora, não se pareça em nada com os quebra-cabeças que estamos habituados a ver.

No fundo, é o que acontece nesta casa: podemos descrevê-la como uma casa com três quartos, uma sala, uma cozinha e um escritório. Não poderíamos, no entanto, definir nem 1% de como é a distribuição e, consequentemente, o espírito desta casa de família.

Aqui, a cozinha é como uma distribuidora do centro nervoso. Partimos então do coração da casa – a cozinha -, que nasceu como um espaço que distribui os demais em graus simétricos, como se fosse um ventilador que tanto expande como agrega intimidade e comunicação.

Em linhas paralelas e consecutivas, à esquerda da cozinha, encontramos módulos abertos que constituem, por um lado, a lavandaria e o quarto das crianças e, por outro, o home office dos dois moradores adultos – ambos arquitetos.

Toda a casa é livre de muros altos e tem apenas 3 portas. Contudo, uma vez que a casa precisa também de ser permeável às fases cruciais de cada habitante, uma das divisões com porta é o quarto dos filhos, para que a casa evolua com a idade e a necessidade de privacidade.

Voltando à cozinha como ponto de partida, vemos como o espaço comunica abertamente com a sala de jantar e a sala de estar com lareira, todas seguindo a mesma forma de expressão.

Repare-se no diálogo iniciado no pavimento, que acaba por fazer parte da plataforma onde está o móvel que esconde a televisão. Isso continua até que se torna parte do primeiro degrau da escada que sobe para a suíte – um recanto utilizado como arrumação, e que é um dos preferidos das crianças da família.

A suite, situada no piso superior, foi trabalhada com o mesmo intuito de criar privacidade sem necessidade de portas. Um grande painel de madeira, atua como um silenciador para a suíte por um lado, e por outro dá privacidade ao espaço de banho, se necessário.

“A casa emana uma luz eterna de outono”, refere Susanna Cots. A luz foi procurada como um talismã em todas as suas relações com o exterior. Desde a clarabóia da cozinha que foi pensada para atrair a luz da manhã e do meio-dia, até todas as janelas da sala que captam a luz da tarde de todos os cantos.

Procurou-se uma ligação interior-exterior em cada divisão, complementando-a com a natureza e incluindo uma árvore para cada momento de ligação: uma oliveira e um salgueiro japonês são algumas das árvores que passaram a fazer parte desta família.

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