A designer portuguesa desafia o nosso imaginário. Põe em causa os nossos preconceitos. Atreve-se a despertar alguns dos nossos sentidos e a seduzir-nos com os seus trabalhos.
Fotografia: Cláudia Rocha / Texto: Isabel Pilar Figueiredo
Formada em Design de Produto na ESAD e com uma pós-graduação na UCP em Gestão de Indústrias Criativas, Marta Delgado assina uma coleção de peças de mobiliário. A partir do Porto, onde mora e trabalha, a designer, em entrevista à Urbana, descreve o que a inspira e que materiais atualmente mais aguçam a sua capacidade criativa.
O que mais a inspira na hora de dar forma a uma ideia? De iniciar um processo criativo?
Inspiro-me em áreas que me intrigam, de um modo geral, e que sempre despertaram o meu interesse, como a Escultura, a Arquitetura, a Geometria e os grafismos. Inspiro-me muito em pormenores e na alteração da sua escala, em espaços, jóias, livros e em revistas, que sempre fizeram parte da minha vida. É uma pergunta de resposta infinita para quem está desperto e aberto ao Mundo, à História, à Cultura e ao Tempo.
Quais são os materiais com os quais tem vindo a desenvolver uma relação mais próxima, de curiosidade, atração?
Talvez as pedras. Pela sua enorme variedade – mármores, granitos, ardósias, travertinos… -, pelas suas texturas únicas e por terem impresso o ADN do nosso planeta. São verdadeiros tesouros. E por, mesmo quando manipuladas, darem origem a uma infinidade de materiais interessantes como os silestones, a marmorite, o corian, entre outros.
Onde são fabricadas as peças assinadas pelo estúdio de Marta Delgado?
Em Portugal, no Norte do país.
Quais as três peças que, na sua opinião, uma casa deve ter, mesmo em início de vida?
Um bom sistema de som, uma mesa de jantar e uma cama.
Algumas peças assinadas por Marta Delgado
Sofá, Divergent
Desafia o comum. Fragmenta os padrões e preconceitos de como é a aparência de um sofá. Através de uma geometria cativante e superfícies facetadas, o assento longo e profundo é macio, o intrigante encosto foi concebido para diferentes alturas e tipos de corpo e as estruturas metálicas espelhadas conferem leveza ao volume. É uma celebração para aqueles que não se enquadram, os divergentes.
Equation, a mesa de centro
Uma declaração de equilíbrio assente na justaposição de forma e função, superfície e proporção, quadrados e círculos. O metal – seja latão ou aço inoxidável -, é dobrado, soldado e acabado com total respeito pelo material, necessário para atingir as formas suaves e curvas. Os reflexos subjacentes da matéria e da luz são diferentes em todos os lados, embora equivalentes.
O banco Prologue
Ou a interação entre superfícies e geometria. Assumindo a forma elementar de um cubo, o banco funde linhas retas, semicírculos e segmentos para criar um jogo visual com um senso de consonância, estabelecendo um ponto de partida para as coisas que estão por vir.
Sequence, o espelho
Uma sucessão de elementos em repetição, onde a ordem é importante. Assim como as letras numa palavra ou os números numa função, as duas formas geométricas contrastantes são colocadas numa sequência que cria uma trama ótica para o sujeito observar e acompanhar o reflexo do espelho.
Theorem, a mesa de centro
Parece desafiar a gravidade, uma afirmação não evidente que se provou verdadeira após observação posterior. As duas estruturas obtusas têm contato mínimo com o topo, que parece pairar em perfeito equilíbrio, como se suspenso no ar. O Teorema é uma meditação sobre design e geometria, fazendo interface com estruturas e engenharia. É trabalhado em mármore, cortado e esculpido em blocos escolhidos a dedo.
Poltrona, Divergent
À semelhança do sofá, a poltrona desafia o comum e foi gizada a pensar em diferentes alturas e tipos de corpo. Também ela celebra aqueles que não se enquadram, os divergentes.