É uma reinterpretação moderna do que poderia significar uma arquitetura vernacular de Yucatán. Partindo de uma perspetiva dada pela morfologia do terreno, a Casa Mérida nasceu de um gesto que cria uma sequência de espaços que, embora inspirados na arquitetura tradicional, se adaptaram às necessidades de hoje.
Projeto: Ludwig Godefroy Architecture / Localização: México / Fotografias: Rory Gardiner
A Casa Mérida é uma residência unifamiliar localizada no centro histórico de Mérida, capital de Yucatán, no México, a poucos quarteirões da sua praça central. Mérida tem um clima quente muito peculiar durante todo o ano, com elevada humidade e períodos de chuvas intensas, o que levou a que, ao longo dos séculos, a arquitetura da cidade tenha adotado uma tipologia tradicional reconhecível, que resultou num “estilo colonial tropicalizado”, definem os autores do projeto. Essa tipologia, baseia-se basicamente na ventilação natural cruzada sob volumes de pé direito alto, todos interligados por uma série de pátios que permitem que o ar circule por toda a casa, refrescando-a de forma natural.
O projeto da Casa Mérida explora a relação entre a arquitetura contemporânea e tradicional, ambas relacionadas através de um uso muito simples de referências vernáculas.
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/cf467c61-345c-428c-ae56-8f95439aaeae-819x1024.jpeg)
O terreno onde se implanta é um retângulo de 80 metros de comprimento por 8 metros de largura e daí surgiu a ideia do projecto: preservar esta perspectiva de 80 metros, em linha recta, atravessando todo o terreno desde a porta de entrada até ao ponto final, onde se encontra a piscina, introduzindo o conceito tradicional do fluxo de ar como ponto de partida. Mas não se tratava apenas da circulação do ar, esta longa perspetiva remete também para a cultura e arquitetura Maia.
Utilizando a perspetiva, este simples artefacto da arquitetura clássica como elemento central e ideia principal, o projeto estruturou-se imediatamente ao longo desta linha, convertendo-se então numa longa parede de betão, uma espécie de eixo que organiza visualmente a casa, bem como todos os movimentos, já que também funciona como o principal corredor de circulação.
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/2a86829f-3c6b-40f3-a810-af9f8089d83e-1024x819.jpeg)
Numa segunda fase do desenvolvimento do projeto, surgiu natural e literalmente como uma coluna vertebral, tornando-se assim o principal elemento estrutural de betão para transportar todas as lajes da cobertura.
No centro histórico de Mérida, tradicionalmente as casas costumam estar ligadas à rua, com a área social localizada entre a calçada e o pátio interior, atrás do qual acontecem os espaços privados, e um espaço exterior no final. A lógica é organizada gradualmente do público para o privado, e culmina com uma zona funcional – um quintal.
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/5f89949f-d94c-4b3c-ba41-7a601c936618-1024x819.jpeg)
Para desvincular fisicamente a Casa Mérida da cidade, o layout foi modificado trocando a área social pela área exterior, enviando a sala, cozinha e piscina para o final do terreno, sendo ainda a zona mais calma onde o barulho da rua já não chega. Trouxe-se assim a zona exterior funcional – quintal – para a frente, usando-a como amortecedor da cidade.
Além desta permutação entre a frente e os fundos, os espaços exteriores foram integrados como parte do espaço interior, desaparecendo a fronteira clássica entre dentro e fora, aumentando a profundidade visual de forma a criar uma sensação de amplitude mais generosa dos volumes.
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/2030a64e-c6f8-4723-9bfb-f0a1eda06aa1-1024x819.jpeg)
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/08a59bd2-a3e6-40ce-ac2a-c1eec503616c-1-1024x819.jpeg)
Sem acabamentos e sem decoração, o projeto livrou-se do desnecessário para preservar apenas a parte estrutural, assim como apenas materiais simples. As paredes de pedra foram construídas de maneira tradicional. O betão à vista também foi usado para os pavimentos e paredes, e foi produzido localmente em Mérida. Finalmente, para controlar a atmosfera de luz, foram projetadas enormes janelas e portas de persianas de madeira.
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/8e04a293-1092-4d99-84ad-df9f24360e56-819x1024.jpeg)
![](https://urbana.com.pt/wp-content/uploads/2022/07/3106a504-e954-430e-b62b-51a3e30f8a15-1024x819.jpeg)
A construção foi 90% feita no local, com materiais locais e construída exclusivamente por pedreiros e carpinteiros da zona. No fim, trata-se de uma reinterpretação moderna do que poderia significar uma arquitetura vernacular.