Por a 30 Novembro 2021

Os elementos de ferro e vidro, a claraboia que atravessa o longo corredor, o belo jardim nas traseiras foram alguns dos elementos preponderantes na decisão de compra desta casa, cujos interiores enaltecem cada elemento da arquitetura de finais do séc. XIX. 

FOTOGRAFIA: BRUNO BARBOSA PRODUÇÃO: AMPARO SANTA-CLARA TEXTO: ISABEL FIGUEIREDO 

Construída no final do século XIX, esta casa tão típica da época e da cidade onde se localiza, o Porto, tem vindo a ser alvo de várias transformações, ao longo dos anos – e de uma adição, o torreão, já no princípio do século XX.

Contudo, o passar do tempo não lhe roubou o encanto e hoje é a morada de uma família que soube tirar partido da sua estrutura, dos elementos arquitectónicos e superior beleza, interior e exterior, graças a um trabalho aturado de recuperação, nomeadamente das pinturas, dos soalhos e dos estuques. 

Adquirida em 2004 pelos atuais proprietários, a casa exibia um pé́ direito alto, chão em madeira de Riga e tetos trabalhados, bem como um longo corredor que a atravessa de uma extremidade à outra, iluminado pela clarabóia.

Elementos que ajudaram na decisão da compra. Por se tratar de um edifício com história, e algumas cicatrizes, fruto das várias transformações entretanto levadas a cabo por quem nela foi passando, havia que cuidá-la com o máximo de afeto. 

“Foram feitas muitas obras de renovação, não tanto ao nível da estrutura, mas antes no que toca à recuperação dos materiais”, conta-nos a atual proprietária. Com a colaboração do arquiteto Sebastião Moreira procurou-se restaurar o mais possível o original não cedendo à tentação de criar um open space, mas antes mantendo as divisões interiores, adaptadas para um escritório e uma casa de banho-biblioteca.

“Esta decisão prendeu-se com o facto de querer preservar o longo corredor central, e o efeito surtido ao percorrê-lo. Entramos numa casa sombria e escura e à medida que se vai percorrendo o corredor acabamos numa sala cheia de luz, e dali temos como cenário o luxuriante jardim das traseiras.

É uma surpresa”. O resultado só foi possível devido ao trabalho conjunto desenvolvido entre o arquiteto e o construtor, António Júlio Peixoto, que possuem uma vasta experiência e profundo conhecimento na reabilitação de construções desta época. “Um trabalho de minúcia que se assemelha ao engrenar das peças do mecanismo de um velho relógio”. Durante a conversa, a proprietária recorda ainda, os bons momentos passados com esta equipa à medida que se ia definindo o projeto. 

No seu interior, poderíamos classificar o estilo de decoração eleita como eclético, “um pouco à semelhança do ecletismo tão característico dos finais de séc. XIX”, destaca. “Todas as peças e objetos desta casa têm uma história e uma ligação a mim, diretamente.

Podem ser objetos de família, herdados – caso da vitrine da casa de banho, contendo os mais variados objetos da família, que podem passar de um bilhete aéreo a uma boneca pertencente a um antepassado, um telegrama recebido há́ 50 anos, uma máquina fotográfica presente da primeira comunhão, um prato Companhia das Índias ou um simples postal”.

Estas peças não estão expostas segundo o seu valor material, mas sim sentimental, como nos diz, e são peças que foi herdando e colecionando, bem como outras, adquiridas ao longo das suas muitas viagens. 

“São objetos que me dizem muito afetivamente e que foram encontrando o seu lugar aqui e ali, de uma forma despreocupada”.

O que mais a encanta nesta propriedade é a autenticidade de uma casa tipicamente portuense do início do século XlX, da sua arquitetura, das claraboias, das janelas em ferro da varanda das traseiras. E a tranquilidade e a relação da casa com o jardim.

“Não mudaria nada hoje”, revela. “Fascinam-me os jogos de luz e sombra, ainda, razão pela qual as tonalidades escolhidas para o rés-do-chão começam com um verde-cinza escuro, utilizado nas divisões centrais da casa, e acabam em tonalidades muito luminosas à medida que se aproximam das fachadas, como é o caso do amarelo- mostarda usado na sala de pequenos-almoços aberta para o jardim, ou no encarnado da sala de jantar”.

A opção de manter os rodapés brancos foi tomada para criar algum contraste e luminosidade. É, em toda a sua dimensão, uma casa com história, abraçada por um jardim romântico em pleno coração da cidade, e dali – percebemo-lo agora – não apetece sair. 

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