Fotografia: Ricardo Oliveira Alves para Revista Urbana I Texto: Mafalda Galamas
É considerado um dos bairros mais cool da cidade. Fervilha com tendências, novos espaços abertos ao público e pessoas, muitas. Grande parte turistas. Mas ao Chiado regressaram, também, as famílias. Mais, ou menos tradicionais, mais ou menos, alternativas.
O casal que atualmente habita neste prédio pombalino orgulha-se de fazer parte dos lisboetas que devolveram vida à cidade. Apostar e remodelar imóveis, outrora votados ao desvanecimento, é hoje uma realidade da qual todos saímos beneficiados.
2013 Foi o ano do renascimento deste piso. O andar que, em tempos, fora gabinete de escritórios e atelier de costura, não via, seguramente, obras de melhoramento há mais de trinta anos. Por fora, mantêm-se os azulejos tão tradicionalmente portugueses, por dentro, o andar passou a residencial, pelas mãos de Paula Varella Cid, a decoradora que assinou o projeto de interiores e que partilhou connosco como cada (re)canto foi pensado.
Aos 250 metros quadrados de área útil, juntam-se mais 35 de exterior, com um pátio nas traseiras, que reúne os moradores à hora de muitas refeições. Algumas das características do andar foram mantidas, o pé-direito, com uma altura de 3,60 m, o pavimento em pinho Pitch Pine, e as portas (antes pretas, agora brancas), são apenas alguns exemplos. A grande preocupação da proprietária era a conjugação das diversas peças de família, mais tradicionais, com outras contemporâneas. Um desafio superado com mestria por parte de Paula Varella Cid. O resultado eclético não deixou de lado a funcionalidade e conforto do apartamento.
Aos primeiros passos, somos recebidos ao estilo inglês. Um canapé vitoriano, devidamente restaurado, é a peça central do hall de entrada. “Neste espaço foi criado um corredor ligeiramente torto, propositadamente para entrar mais luz, vinda do ângulo da sala”, explica a decoradora. E é nesta sala, que encontramos as maiores misturas. Ampla, cheia de luz e de vida. A conjugação de diferentes peças e estilos confere um ar leve à divisão.
A tradição mantém-se presente com elementos como a escrivaninha francesa, junto à janela, ou até a mesa de centro, em raiz de nogueira, que conta mais de 25 anos. Ambas, brilhantemente integradas com os candeeiros marroquinos e outros materiais rústicos, como o tapete de juta ou os linhos naturais, que são “um sinal dos tempos, antigamente não se usavam estes tecidos em casas clássicas”, esclarece a designer. Nem tão-pouco papel de parede em bambu… Tingido de azul petróleo. Tem assinatura Pierre Frey e ajuda a realçar a pintura de Diogo Moniz, um perfil registado a tinta-da-china líquida e aguarela sob papel craft. Mas são as peças recolhidas das várias viagens dos proprietários que ajudam a conhecer um pouco mais sobre quem aqui mora.
Logo ali ao lado está a salinha de música. Que conjuga o estilo inglês do sofá pequeno em capitonê, ou da mesa de jogo, com a informalidade dos instrumentos musicais, à mão para qualquer convívio improvisado.
À mesa de jantar é servida a criatividade. Cadeiras de vários modelos reúnem-se para refeições demoradas. Algumas são vitorianas, madeira e latão… Quem diria? Genialmente pintadas à mão, reproduzindo o efeito dos veios da madeira, pormenores apenas detetados num segundo olhar.
Já no quarto, junto à cama de casal destacamos o conjunto de mesinhas em raiz de nogueira. As paredes são brancas e sóbrias, intencionalmente convidativas ao descanso.
Felizmente, os traços originais vão-se mantendo aqui e acolá. A chaminé da cozinha é outro dos exemplos. Ao fundo, o painel de azulejos de tom verde dá ritmo e alegria à divisão. Vieram de Marrocos. E tão bem que conjugam com os candeeiros da cozinha art deco, herança dos antigos escritórios daquele piso. O resultado de todo o apartamento é sóbrio e despretensioso. Contemporâneo, mas sem excesso de modernidade.