Por a 4 Junho 2020

O projeto desta casa de 140m2, em Brasília, foi finalista do Prémio de Arquitetura Tomie Ohtake AkzoNobel 2018 e recebeu uma Menção Honrosa no prémio anual do Instituto de Arquitetos do Brasil São Paulo (IAB-SP) no mesmo ano. A proposta passou por reaproveitar parcialmente as fundações de uma construção térrea que existia no terreno. A demolição da casa original manteve apenas as fundações, vigas de fundação e o aterro compactado original.

Fotografia: Joana França / Segundo a memória descritiva dos arquitetos

A casa 711H encontra-se na porção residencial da via W3 sul, em Brasília. A via W3 está dentro da área tombada da cidade e já foi o seu centro comercial mais importante durante os seus primeiros anos. Ao longo do tempo, o declínio do comércio da área aliado a construções ou reformas desordenadas em lotes residenciais geminados na fração oeste da avenida geraram uma paisagem que é composta por casas que se fecham para as áreas verdes do espaço público entre os lotes.

Grande parte dos espaços frontais das casas também são cobertos e fechados para a área pública. Como consequência, apesar do seu grande potencial, as grandes áreas verdes entre as casas encontram-se maioritariamente sem qualificação, o que resulta em pouco uso pelos moradores e na sensação generalizada de insegurança.

O projeto da Casa 711H, da autoria do coletivo Bloco Arquitetos, parte desta realidade e tenta recuperar a ativação das áreas verdes adjacentes às casas ao propor um modelo que descobre o quintal frontal (que hoje são normalmente cobertos) e cria a possibilidade de integração total entre o quintal e a área pública (jardins).

O desenho da casa também permite a possibilidade de ligação direta entre o jardim público frontal e a rua de serviço, nos fundos do lote, através do interior da casa. Partimos do princípio de que contacto visual da casa com os espaços públicos adjacentes (jardim e rua de serviço) e a possibilidade de conexão dos espaços promoverá o efeito da “vigilância natural”, o que resultará na diminuição da sensação de insegurança e estímulo do uso e qualificação do espaço público, num ciclo de benefício mútuo entre o espaço público e o privado.

Estratégia Construtiva

Os lotes desta porção do bairro eram originalmente ocupados por casas geminadas térreas que partilhavam vigas de fundação contínuas, afloradas em relação ao terreno circundante. Tal resultou num desnível entre as casas e a rua. O projeto da Casa 711H propôs reaproveitar parcialmente as fundações de uma edificação térrea que existia previamente no terreno. Sendo assim, a demolição da casa original manteve somente as fundações, vigas de fundação e o aterro compactado original, pois foi constatado que estrutura existente acima da fundação não poderia ser reaproveitada. Por isso a nova organização de espaços do piso térreo e do primeiro pavimento seguiu alinhamentos de parte dos espaços anteriores sem, no entanto, seguir o seu uso original.

Foi dada prioridade à recomposição do passeio público nivelado e mantido o desnivelamento original da área interna da casa em relação ao jardim frontal e a rua de serviço, conforme a situação do imóvel original. No entanto, foi proposto recuar a cerca em relação ao limite do terreno. O desnivelamento resultante foi dividido em vários degraus que formam uma escadaria de acesso e uma pequena arquibancada de uso público, voltada para o jardim. A abertura total do gradeamento pode integrar o jardim privado com a área pública. Na fachada posterior, voltada para a rua de serviço, a escadaria de acesso está ligada às escadas de acesso das casas vizinhas.

De forma a aliviar o peso nas fundações existentes foi proposta a utilização de estrutura metálica laminada e alvenarias em bloco de concreto. No nível térreo, o bloco de cimento foi utilizado apenas como alvenaria por ter menor peso. No primeiro piso, o mesmo bloco tijolo de cimento foi utilizado, porém, aqui, usado também como estrutura. Pontos específicos foram reforçados internamente para a criação de pilaretes e vergas para a estruturação da cobertura. No mesmo nível, um terraço descoberto com paredes altas permite a visualização do céu e da copa das árvores e mantém a privacidade desejada. A inclinação da cobertura parte do ponto máximo permitido pela legislação (no Brasil, de 7,5m medidos a partir do piso térreo previamente aprovado) até à altura de cobertura da casa térrea que é vizinha da nova construção.

FICHA TÉCNICA

Autores: Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco
Colaboração: Fernando Longhi, Giovanni Cristofaro, Elisa Albuquerque
Superfície Construída: 140m2
Projeto: 2016
Construção: 2016-2017
Projeto de Estrutura: Vista Engenharia
Instalações: Scheel Kunrath
Obra: Matriz Engenharia
Fotos: Joana França

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