Por a 29 Abril 2020

O designer e artista italiano, com uma ligação intensa ao mundo da natureza e do imaginário infantil, escreve-nos de casa, em Itália, agora que o ateliê está fechado. O que mudou na sua vida?

Fotografia: DR

Desenhou para marcas como a Seletti e Opinion Ciatti. Peças decorativas em vidro, luminárias, mobiliário, tableware…, Marcantonio Raimondi Malerba é o nosso entrevistado de hoje, em mais um #emcasacom, remotamente de Itália, um dos países severamente atingidos pela andemia do Covi-19.

DE QUE FORMA A SITUAÇÃO ATUAL AFETA A SUA VIDA?

Obviamente, não ser capaz de sair e ter a vida social de antes é muito alienante. Mas, ao mesmo tempo, permite-me ‘sentir’ a mim mesmo, buscar verdades mais profundas. Não estou entediado, desenho, leio, vejo vídeos. Raramente estou sem nada para fazer e, quando isso acontece, tento divertir-me e relaxar. Não ver os meus amigos e os meus entes queridos é muito estranho, é isso que me preocupa, além do facto económico, mas os relacionamentos agora sofrem muito e espero que seja fácil voltar ao normal.


Estou convencido de que nossa natureza coletiva é forte e espontânea, o problema é que quando estamos sozinhos, pensamos muito sozinhos.

COMO É O DIA-A-DIA?

Tenho sorte, porque tenho vários estudos em casa para poder continuar a trabalhar todos os dias, estou sempre em contacto com os meus colaboradores de modo a continuar a desenvolver conceitos e produtos.
Tento fazer alguma atividade física, como ioga e treino, todos os dias.
E cozinho muito, é claro.

COMO SE ADAPTOU À NOVA SITUAÇÃO DE DISTANCIAMENTO SOCIAL?

Preparo as minhas refeições – cozinho muito – e aproveito este período tentando comer de forma mais saudável. Tento contentar-me com esse “modo de pausa”, esse tempo de espera em suspensão. Tento não lutar, apenas me adapto. Normalmente, estou muito focado no trabalho, portanto faço isso. Mas sei que para muitas pessoas é muito mais difícil.


QUE CONSELHOS DARIA AOS LEITORES DA URBANA EM TEMPOS DIFÍCEIS E ESTRANHOS?


Não tenho propriamente um conselho, mas acho que este período é um momento muito particular e importante. Acho que está na altura de sentirmos, de percebermos os nosso sentimentos que foram enterrados por distrações fúteis, está na hora, agora, de fazer o que nunca fizemos, de entender o que é importante, de redimensionar a nossa vida.
Acredito que o vírus, com essa disseminação global, tenha, pela primeira vez, criado uma condição específica, horrenda, é verdade, mas ao mesmo tempo, o mundo somos nós e por isso sentimos os mesmos medos e temos o mesmo problema; e estamos juntos, temos de nos lembrar disso quando acabar. Devemos recordar esse sentimento, de não ter conflitos entre nós, devemos lembrando-nos de como é estúpido tê-los.

Marcantonio Raimondi Malerba

Nasceu em 1976, em Massalombarda, Itália. Passou pelo Instituto de Arte e da Academia de Belas Artes e começou a criar peças únicas de design em paralelo com a produção de arte, mas passo a passo as duas atividades começaram a contaminar-se. As ligações entre o homem e a natureza são o seu tema favorito. O seu trabalho é o reflexo do seu mundo em criança, do que a sua mente produzia, imaginava. Com a Arte, aprendeu como uma ideia pode ser elegante, e é por isso que ele procura incessantemente conceitos e resumo puros e simples.

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