Por a 23 Maio 2023

Um casal, uma compra às cegas e um final feliz. Quem sabe para sempre.

Projeto: Casulo / Fotografia: / Texto: Isabel Figueiredo

Camila Abrahão, sócia do coletivo Casulo, é amiga desde a adolescência de Bárbara, que além disso também é sua cliente, e esta proximidade resultou num pedido especial. O da remodelação do apartamento comprado em leilão à porta fechada, após o seu casamento, no início de 2020 – e sem conhecer o real estado do imóvel. A  primeira visita foi elucidativa: “Percebemos que o estado do apartamento não traduzia em nada o perfil do casal”, conta Camila. Bárbara estudou moda e tem um gosto muito particular, ousado, e por conhecê-la bem, essa característica norteou todo o processo do projeto. Guto, o marido, vem de uma família argentina e tem uma fazenda com criação de cordeiros, como tal, a cozinha e a churrasqueira eram os pontos mais importantes para ele. “Uma premissa do projeto, que partiu da Bárbara e das suas inúmeras referências de moda, foi que o apartamento não tivesse uma atmosfera minimalista”.

O conceito partiu de duas cores principais: o verde e o terracota. Quase todas as referências da Bárbara tinham a cor verde. A cor da terra serviu para equilibrar e contrastar.

No apartamento, nada ficou como estava, tudo foi reformulado, mantendo-se apenas a configuração inicial dos quartos (exceto da suíte) e o piso de madeira original da área íntima.

“O ponto de partida foi a cozinha, originalmente muito subdividida e pouco funcional, com uma churrasqueira isolada numa varanda de dimensões pequenas”. Este espaço foi totalmente reformulado, integrando os antigos ambientes reduzidos e gerando uma cozinha ampla, em diálogo com a churrasqueira. De modo a isolar a cozinha quando desejado, foi criada uma porta de serralharia e vidro canelado.

Outro ponto importante do projeto é o volume de cor terracota que começa na cozinha e se estende até ao hall de entrada. Este volume abriga a casa de banho social, que possui paredes, teto e bancada no mesmo material terracota. As paredes em volta do volume colorido foram pintadas de branco e o piso de toda aquela área social foi substituído por ardósia preta.

O banco de alvenaria criado para integrar a sala e a varanda percorre, quase na sua totalidade, uma das laterais da sala de estar. “A ideia foi criar um espaço que fugisse aos layouts usuais, com sofás que o casal pouco usaria no seu dia-a-dia”. Na parede oposta, foi posicionado o outro protagonista do espaço social: o bar, um volume todo verde, com vista privilegiada do horizonte de São Paulo. “Este foi um pedido expresso dos clientes, que queriam aceder às bebidas sem ter de ir até à cozinha para isso”.

O verde também tem uma presença marcante na suíte do casal: o piso de ardósia entra na casa-de-banho e as paredes e a banheira foram revestidas com a mesma pastilha verde do bar. As portas de serralharia com vidro canelado possibilitam a integração e o isolamento da casa-de-banho em relação ao quarto.

Estas soluções funcionam como pano de fundo para as peças de mobiliário, de design e de arte escolhidos. É uma paixão que os clientes partilham com o atelier Casulo. “O mobiliário foi praticamente todo encontrado em antiquários da cidade de São Paulo e está articulado com as peças de design contemporâneo. São exemplo disso o espelho Rino, do estúdio Orth, no hall de entrada, a luminária Gota, do antiquário Ignus, o banco de alvenaria da sala que casa com a tapeçaria VAC, do antiquário Thomaz Saavedra ou o sofá Togo, um original, da Desmobilia. A exceção? A mesa de jantar, que é a única peça de mobiliário original do apartamento preservada. “A peça era branca e para o projeto optamos por laqueá-la em verde. Tratava-se de uma mesa muito grande e muito pesada, difícil de retirar do espaço”.

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