Na Graça, em Lisboa, este terceiro e último andar transformado em duplex é a morada do designer de interiores Kurt De Leeuw, cuja remodelação esteve a cargo da sua empresa itsk.studio, onde o jovem belga habita com a sua melhor amiga.
Fotografia: José Manuel Ferrão / Texto: Isabel Figueiredo
Vanjie é uma cadelinha amorosa, e a melhor amiga de Kurt. Este amor é incondicional, como, afinal, são todos os amores que os animais nutrem por quem os resgata de uma vida menos feliz e é ela a fiel room mate do designer de interiores belga, que se apaixonou por Lisboa e pelo bairro da Graça.
Remodelado em duas fases – tendo sido a segunda levada a cabo após a aprovação da CML para mudar o telhado e, desta forma, acrescentar mais metros quadrados ao espaço –, o apartamento não apresentava o melhor aspeto quando pela primeira vez o visitou, há uns cinco anos. “Estava em péssimo estado”, esclarece. Com esta renovação, mesmo que faseada, foi possível adicionar uma casa-de-banho privativa e um quarto extra, o que se saldou em cerca de mais 55m2 de área útil.
Se todas as renovações apresentam os seus desafios – e esta não foi exceção – o maior deles, e eventualmente inesperado, foi o projeto do telhado, “por causa do licenciamento e do tempo que levou – mais de dois anos para ser aprovado”, revela-nos, não sem enfatizar a sua surpresa. Mas Kurt apressa-se a resumir: “Cada renovação tem os seus desafios e estamos aqui para os gerir”. A casa soma hoje uns simpáticos 125m2 de área total interior a que se somam os 30m2 de terraços.
Os principais esforços concentraram-se em gizar uma casa que permitisse usufruir do espaço ao máximo, sem qualquer desperdício, torná-lo confortável para viver, mas também agradável de se ver. “Usei a luz natural, que aqui chega de todos os lugares – tenho a sorte de ter as fachadas frontal e traseira cheia de janelas –, o que o refresca com um colorido especial, o da cidade.”
O projeto de remodelação coube ao próprio designer e ao seu estúdio de design, itsk.studio, desenvolvido em conjunto com uma das suas equipas de construção interna.
O duplex apresenta hoje um layout arejado. “É um T3, usado agora como escritório, com dois quartos, um deles em suíte, além da sala e cozinha, do lavabo social e das duas grandes varandas, uma voltada para a frente e outra para as traseiras do edifício”.
As portas do chão ao teto, que alteram a dimensão e a altura do apartamento, a escada de metal aberta, que quase funciona como uma escultura no espaço, o piso preto destinado para a sala, que ajuda a definir a área e proporciona uma boa dose de aconchego, o uso de materiais mais quentes para equilibrar, como o caso da madeira, ou a zona de chuveiro, no topo, com vista sobre Lisboa são algumas das soluções de arquitetura de interiores destacadas. Depois, há o lado emocional, e Kurt aponta o recanto usado para o pequeno-almoço, com toda aquela vista sobre a cidade, o rio e o Panteão, e a amplitude da casa como sendo valências especiais.
No que toca à decoração, foram usadas cortinas de vinil semitransparentes no quarto – uma solução muitas vezes observada em espaços industriais – de modo a preservar a sensação de abertura e deixar a luz passar, mas sem prejuízo da privacidade, e feitos à medida todos os roupeiros e móveis da cozinha, que hoje se harmonizam com peças de mobiliário que viajaram até Lisboa, oriundas do seu apartamento, em Antuérpia.
“Algumas peças são herança da minha avó, nomeadamente as cadeiras verdes que rodeiam a mesa de jantar”. Outras foram adquiridas em lojas vintage, e outras há, ainda, feitas por Kurt, que teve aulas de cerâmica e de escultura – e algumas destas peças foram resgatadas da escola, que Kurt guardou, peças que eram “utilizadas nalgumas das tarefas que precisávamos de projetar naquela época, quando estudei design de interiores em St. Lucas, Bruxelas.”
Entre este universo de artefactos e objetos de arte, sobressaem alguns feitos pelo designer, ou em conjunto com outros, ou ainda adquiridos aos amigos – caso das cerâmicas da mãe do amigo fotógrafo Miguel, do estúdio Miguel Domingos, que as vendia com o seu grupo de arte em ações de caridade, ou da impressão da amiga Sara Pignatelli. “Não existem verdadeiras peças de designer, mas sim uma coleção e reunião de coisas que têm valor para mim ou que eu trouxe de algum lado.” E é sobre a tela suave, de paredes brancas e piso cinza claro, que convivem algumas texturas e cores, as destas peças e as dos móveis, e é de todo este convívio feliz que se faz uma casa, também ela feliz, e onde habitam – inevitável a redundância –, felizes, um jovem e a sua adorável companheira de quatro patas.