O coletivo espanhol Estudi Biga assina o projeto de reabilitação da casa na Rua Mont-Roig 7, no Farró, bairro de charme em Barcelona. Abandonada, a construção de “modernismo austero” com dois apartamentos, um em cada pavimento, passou por várias fases de crescimento.
Projeto: Estudi Biga
“No jardim das traseiras, não sei por que lhe chamávamos a horta, crescia, majestosa, uma figueira. Ao pé dessa figueira, amontoavam-se pedras que teriam sobrado da construção do edifício, tijolos velhos, restos de obras feitas na casa, ao longo dos anos, e que o avô guardava porque, dizia ele, um dia poderiam dar jeito.”
(Mercè Rodoreda, moradora do Farró)


Les Mont-rogenques (Barcelona) surgiu a partir do acompanhamento das personagens de Mercè Rodoreda, que percorrem as ruas do Farró, fazendo ressoar uma forma de viver já desaparecida, feita de pequenos jardins com a figueira e a romãzeira, as glicínias, as roseiras em treliça, as hortênsias plantadas em cubos de madeira; telhados com torreões e gradeamentos adornados com gerânios; salas de jantar com candeeiros de ferro cheios de flores e dragões, e rematados com o friso vermelho de passamanaria; a porta de vidro, com vidros de mil cores, que dá passagem ao jardim posterior. Casas onde as relações entre os vizinhos eram, para o bem e também para o mal, como as de uma grande família.
O projeto pretende reavivar e recuperar essas essências perdidas da vida quotidiana do bairro. Mas, longe de querer transformar-se num espaço museológico, Les Mont-rogénques é um jogo de salas flexíveis interligadas, que permitem criar espaços para viver de diferentes maneiras e são facilmente adaptáveis, sem usos preestabelecidos nem hierárquicos.




Isso sim, cada uma com uma idiossincrasia própria, que provém das texturas, das cores, da luz e dos diferentes testemunhos que fomos encontrando sob os distintos estratos históricos da casa e que convivem harmonicamente com os novos habitantes.




“A grande sala ficava no primeiro piso da torre onde as duas professoras viviam com a mãe e um irmão. A sala era muito grande e tinha muitas janelas. Ao lado, tão grande como a sala, ficava a sala dos casacos e, por cima dos casacos, uma fila de ganchos onde pendurávamos as almofadas para fazer rendas. Ao fundo dessa sala havia uma porta que dava para uma galeria coberta e, de um lado, os quartos de banho. Eu gostava de ir até lá para poder ficar um pouco na galeria com o nariz colado aos vidros, olhando torres e jardins.”
(Mercè Rodoreda, moradora do Farró)



