Por a 4 Julho 2025

Claudia e o marido, holandeses, mudaram-se para Portugal porque queriam mais espaço e uma vida mais tranquila. Encontraram o lugar perfeito, uma ‘never-ending-story’ de renovações e detalhes deliciosos.

Fotografia: Marta Caldas Barreiro / Texto: Isabel Pilar de Figueiredo

Claudia procurava um local seguro, também para o filho, Sadi, já que Amesterdão, a cidade onde habitavam, “não é assim tão segura… não que seja perigosa, mas é um pouco mais agressiva do que o interior de Portugal”, confidencia. “Além disso, já tínhamos algumas ligações ao país, o que tornou a mudança mais fácil para todos. E foi, sem dúvida, a melhor decisão que já tomámos”. 
Este amor por Portugal tem história, já soma quase duas décadas, desde quando aqui veio de férias (2008). “Lembro-me que o meu pai me ligou e perguntou onde estava. Respondi: ‘Estou em Portugal!’ Era a primeira vez que visitava o país, e ele disse: “Ah, que bom! Sabias que os nossos antepassados judeus portugueses remontam ao século XVI?” Foi uma história que me marcou. Infelizmente, nunca soubemos qual era o nome original da nossa família, mas aquilo que o meu pai me disse, naquele dia, fez-me sentir uma ligação especial com este país. Quando cheguei a Lisboa, sabia que estava em casa”.  

Com isso em mente, Claudia regressou a Portugal por seis meses, para um projeto fotográfico. Tinha acabado de terminar a Academia de Fotografia (Amesterdão) e queria fazer algo diferente. “Durante esse tempo, conheci o pai do meu filho, também holandês, mas que, curiosamente, estava em Lisboa. Apaixonamo-nos e, embora quase tenha conseguido um emprego em Portugal e estivesse prestes a ficar, acabei por regressar a Amesterdão. Continuei a minha vida por lá, durante alguns anos e, depois do nascimento do nosso filho, decidimos que queríamos viver em Portugal. Fizemos a mudança”. 

Fotógrafa de formação, embora atualmente não exerça, Claudia sempre teve um interesse especial por design de interiores, “talvez porque venha de uma família com vários arquitetos”. E não sendo profissional da área, sempre teve o desejo de comprar uma ruína e transformá-la…”. Procurava uma casa, ou melhor, uma ruína que pudesse renovar completamente, transformar e tornar minha. Sempre vivi em apartamentos, no centro de Amesterdão, ou noutras cidades dos Países Baixos, e estava farta. Queria espaço, um jardim, uma casa onde pudesse andar sem esbarrar nas paredes”. 

Num evento de Natal da escola do filho, um amigo abordou-a: “Tenho a casa perfeita para ti”, disse-me. “No dia seguinte, fui visitá-la e apaixonei-me imediatamente. Estava num estado terrível, cheia de galinheiros, coelheiras e havia muita desordem, mas as paredes de pedra natural eram magníficas”. 

 Como muitos estrangeiros que vêm para Portugal, “apaixonei-me por essas paredes autênticas que não existem nos Países Baixos. Tive um pressentimento, um arrepio, e soube que era a minha casa. Dois dias depois, voltei a Amesterdão para vender o meu apartamento — em menos de 14 dias, já estava vendido! Foi uma verdadeira montanha-russa, mas os vendedores confiaram tanto em mim que me deixaram começar as renovações antes de a casa estar oficialmente no meu nome. Ainda hoje mantenho contacto com eles”.  

As obras arrancaram em 2016 e terminaram um ano depois. “Fiz praticamente tudo! A única coisa que mantive foram as paredes de pedra, que foram limpas e reunidas. O telhado teve de ser reparado, o chão reconstruído, não havia eletricidade nem água canalizada – apenas um poço. Mantive alguns elementos originais, como o forno antigo, e valorizei a estrutura”. 

O terreno, de dois hectares, está repleto de árvores de fruto: cerejeiras, macieiras, nogueiras, ginjeiras, pereiras, figueiras, oliveiras, medronheiros e até sobreiros e alguns eucaliptos — “felizmente, poucos”. A casa tem várias partes, incluindo duas adegas e um celeiro, que foram convertidos noutros espaços mais tarde. “Fiz também uma piscina para os amigos e a família que me visitam. Criei três apartamentos: dois com 45m² e um com 28m², este último com um mezanino. O interior manteve as paredes originais e livrei-me das divisórias feias, típicas dos anos 70 e 80”. 

O projeto mais recente é a Casa Joana, um espaço com o teto alto e a sua área de estar, “aquela que realmente fiz para mim. Dei-lhe o nome de Casa Joana em homenagem à minha mãe, que faleceu há quatro anos. Usei as suas poupanças para investir na casa, tornando este espaço ainda mais especial”. 

Atrás da parede de janelas há um pátio privado e acolhedor, onde Claudia passa os verões. “Gosto de estar rodeada por paredes de pedra naturais”.  

O estilo do interior é eclético e colorido – “gosto de contrastes e de ser surpreendida pelos espaços. Há peças com memória, como um tapete da minha avó, que viveu até aos 110 anos! Além disso, como adoro viajar, fui a Marraquexe recentemente — sempre quis visitar Marrocos, e agora que vivo tão perto, aproveitei. Voltei com três malas cheias de tecidos, almofadas, tapetes e outros objetos que integrei na casa. Também compro muita coisa em mercados de segunda mão e feiras, e cada peça tem um significado especial”. 

O próximo grande projeto será renovar o edifício principal, que atualmente tem tetos baixos e pequenas divisões. “Quero transformá-lo numa casa funcional, com dois andares, um espaço de estar e uma cozinha grande. Mas esse será um projeto caro, terei de esperar”. 

Enquanto isso, Claudia tem um pequeno projeto em mente: melhorar a cozinha exterior. “Quero construir uma estrutura de ferro com folhas de coqueiro para dar sombra – uma espécie de pérgola rústica”. 

Claudia continua a fotografar, embora não profissionalmente. “Sempre tive uma ligação íntima com formas e cores, e talvez seja por isso que tudo o que faço hoje envolva design, arte e criatividade”. Além da fotografia, gosta de criar mosaicos e está a fazer um curso de cerâmica, além de se dedicar à jardinagem – “preciso de cuidar do jardim, mas também é algo que me dá prazer”.