Ao entrar, os visitantes são recebidos por uma atmosfera acolhedora, onde elementos originais, como o piso de madeira e os tetos trabalhados, contam histórias de décadas passadas. No entanto, não se iluda com a nostalgia; este espaço foi cuidadosamente atualizado para atender aos padrões contemporâneos de conforto e bem-viver.
Fotografia: Ana Paula Carvalho / Texto: Isabel Figueiredo
No coração do famoso bairro de Lisboa, próximo à Igreja de Santa Isabel, encontra-se uma verdadeira jóia arquitetónica que reflete a essência e a história desta tranquila área lisboeta. Um apartamento T6, com 130m², que usufrui não apenas de uma localização privilegiada, mas também do legado de outros tempos, combinando o conforto moderno com a nostalgia de épocas passadas.
Aqui, nas garagens, cafés, engomadorias e papelarias locais, o calor humano é palpável, onde todos são tratados pelo nome, criando uma verdadeira sensação de comunidade que ecoa os tempos passados, onde os laços eram tão importantes quanto as construções. As vistas urbanas, embora movimentadas, proporcionam uma visão serena dos jardins e terraços dos apartamentos térreos, trazendo a natureza e o ciclo das estações diretamente para dentro de casa. Mas é dentro dessas paredes que o verdadeiro encanto se revela.
Ao remodelar esta habitação, o proprietário não apenas restaurou, mas também reinventou, preservando a traça antiga e os elementos característicos que contam a história deste lugar. Os tetos altos e trabalhados, as portas com bandeira e o chão de tábua corrida são testemunhos vivos do passado, enquanto os espaços sociais fluídos e a entrada convertida em um elegante bengaleiro refletem uma abordagem contemporânea e funcional.
A cozinha e os espaços de banho, embora modernizados, mantêm-se fiéis às raízes tradicionais, com materiais cuidadosamente selecionados que homenageiam a herança deste lar. O estuque no teto, os azulejos pintados e os frisos acentuam a ligação entre o antigo e o novo, dando origem a um ambiente único e acolhedor. Mas são os detalhes que realmente elevam esta casa a um patamar de excelência.
Da delimitação de ambientes à escolha cuidadosa de obras de arte, cada elemento foi escolhido com dedicação e paixão. Os quadros de artistas renomados adornam as paredes, enquanto as peças de mobiliário e as tapeçarias antigas contam as suas próprias histórias.
“O T6, com 130m2, nem sempre foi assim”, conta-nos João. “Retirei as portas que foram guardadas tornando, desta forma, os espaços sociais mais fluidos. Fiz a entrada no antigo escritório, o que me permitiu fazer da porta de entrada original um bengaleiro para quem chega”.
A decisão para a compra deste apartamento teve como principal argumento a traça antiga, “os tetos altos e trabalhados, as portas com bandeiras e o chão de tábua corrida”, prossegue. “Aqui, consigo ter o conforto dos apartamentos modernos e o necessário espaço para guardar as minhas memórias”.
No processo de reabilitação e modernização, houve que fazer algumas mudanças profundas e algumas adições. É o caso da atual casa de banho, antes inexistente: “Havia uma retrete no exterior, ao fundo da cozinha, algo muito usual nas casas antigas de Lisboa, mas não havia uma casa de banho”. Hoje, o novo espaço de banho foi gizado por forma a respeitar o passado, tendo sido aplicados os estuques no teto, antes pertencentes à sala da música e, para os destacar, foi pintado um friso a preto junto à sanca e, por cima da última fila de azulejos que cobre as paredes, ainda no teto, foi destacado outro friso a verde-limão.
“A retrete ao fundo da cozinha desapareceu ali ficando uma varanda com os mesmos ferros forjados, pintados num raro cinzento claro”, diz-nos João. Fluidez, distribuição da luz por via de luminárias de mesa ou de pé — exceção feita para o único candeeiro de teto, localizado na casa de jantar —, peças de arte e de design resumem as qualidades da casa, além da sua localização. Um refúgio muito especial no coração da cidade.