Por a 1 Novembro 2025

Organizada em quatro quadrantes, a dispersão dos espaços que compõem esta casa é um convite à peregrinação entre eles, obrigando ao constante contato com a terra, o ar e a montanha. O HW Studio assina o projeto.

Projeto: HW Studio / Fotografias: Cesar Bejar / segundo memória descritiva

Chama-se Enso II e é uma pequena residência concebida em harmonia com a paisagem natural de Guanajuato, no México, desenhada pelo coletivo HW Studio.

A sua história começa com uma extensa investigação levada a cabo pelos arquitetos autores do projeto, que concluíram que há poucos lugares no México com uma identidade construtiva tão forte como Guanajuato. Essa constatação acabou por se refletir claramente na arquitetura local, nos utensílios de cozinha tradicionais, nos aquedutos, nas lendas e até nos heróis locais, como Pípila, que carregou uma grande pedra às costas para proteger o seu regimento das balas.

Na região de Guanajuato, contam os mesmos na memória descritiva da casa, a pedra é um elemento profundamente enraizado em todas as formas de expressão cultural. “Assim, a escolha do material para esta obra arquitetónica foi evidente. Além disso, existia nas proximidades um banco de materiais e mão de obra qualificada, o que permitiu promover um diálogo de respeito entre o artifício humano e o meio envolvente. Todo o conjunto organiza-se a partir de uma planta em cruz; o espaço divide-se, portanto, em quatro quadrantes delimitados por caminhos de pedra que definem percursos, enquadram os diferentes momentos e separam as diversas zonas”, explicam.

Uma vez divididos, lê-se no documento, foi atribuída uma “vocação” específica a cada um desses quadrantes. O quadrante inferior direito acolhe os habitantes à chegada; a sua função é abrigar um jardim endémico que reforça, protege e acolhe tanto seres humanos como outras formas de vida. O segundo quadrante destina-se aos automóveis; durante a construção, teve-se especial cuidado com as árvores existentes, pois seriam elas a fornecer sombra e proteger os veículos do sol.

A composição é completada por um longo muro de pedra, suavemente arqueado, que protege a entrada, impede a vista direta para o interior da casa e acentua a presença horizontal da montanha ao fundo. No terceiro quadrante encontra-se uma casa de um quarto; as zonas sociais estão separadas das privadas por um único volume que alberga as casas de banho, o vestiário e a área de serviço, rompendo subtilmente com a planta aberta.

O quarto quadrante acolhe o escritório, o único elemento vertical visível que se destaca da horizontalidade da paisagem e dos restantes volumes — um gesto que remete para as formas icónicas da mina de Santa Brígida, em Mineral de Pozos.

A dispersão destes espaços convida a uma peregrinação constante entre eles; obriga ao contacto com a terra, o ar e a montanha — como um antigo mosteiro que enquadra a paisagem e, ao mesmo tempo, se integra naturalmente nela.