Por a 24 Novembro 2025

Projetada em 1989 por Souto de Moura, esta morada une materiais intemporais, linhas puras e memórias familiares, num diálogo constante entre arquitetura e vida. 

Texto: Isabel Pilar Figueiredo / Fotografias: Cláudia Rocha

Testemunho da arquitetura portuguesa contemporânea, com projeto assinado por Eduardo Souto Moura e obra executada pelos Irmãos Pacheco, a casa foi pensada desde a origem para responder às necessidades de uma família. Combina a estética intemporal do arquiteto, premiado com um Priztker em 2011, com a funcionalidade do dia a dia. 

De tipologia T4+1, ergue-se num único piso, o que desde logo revela a intenção de criar uma vivência fluida e sem barreiras. Os espaços interiores foram desenhados para uma família com duas crianças, privilegiando áreas generosas onde brincar, estudar e crescer fariam parte da própria essência da casa. A isso soma-se uma forte ligação ao exterior: todas as áreas se abrem ao jardim, que não é apenas cenário, mas parte integrante da experiência quotidiana. 

Na sua construção, destacam-se materiais nobres e expressivos, caso da pedra, do vidro, da madeira e do ferro, que estabelecem um diálogo equilibrado entre solidez e transparência, tradição e modernidade. Essa mesma coerência prolonga-se na decoração, onde Souto Moura deixou também a sua marca, desenhando peças de mobiliário que reforçam a unidade estética do conjunto. 

Com o passar do tempo, a casa não sofreu grandes transformações, preservando a autenticidade do projeto original. Ainda assim, a vida deixou nela sinais de afeto e continuidade: a pintura mural no quarto da neta, criada pela artista Sofia Archer, traz ao espaço uma dimensão poética e familiar, unindo a memória da casa à imaginação das novas gerações. 

Entre todos os recantos, a varanda da sala de jantar é o lugar preferido dos proprietários. Dali, a vista sobre o jardim transforma-se em perspetiva privilegiada. Um enquadramento que simboliza o espírito da casa: aberta, luminosa, profundamente ligada à natureza e à vida que a habita. 
Uma casa feita de cumplicidade entre projeto e quotidiano, entre rigor arquitetónico e emoções partilhadas.