Entre móveis de época, peças herdadas e uma luz natural generosa, este apartamento é palco de uma vida vivida com afeto, liberdade e personalidade.
Fotografia: Ruy Teixeira Projeto: Gema Arquitetura
No coração de São Paulo, o apartamento de 280 m² reflete de forma autêntica a personalidade de seus moradores. Um casal profundamente ligado à arte, arquitetura, design e curadoria de objetos. Mais do que um projeto de interiores, trata-se de uma ocupação afetiva e intuitiva, que valoriza as histórias contadas pelos móveis e objetos que os proprietários já possuíam.


O ponto de partida foi claro: pensar um espaço que representasse quem eles são, sem abrir mão das peças acumuladas ao longo do tempo, muitas herdadas, outras encontradas e recuperadas, todas carregadas de significado.
Assim, a proposta desenvolveu-se sem a rigidez de um estilo específico, mas com um olhar próprio e sensível, que permite que o mobiliário “flutue” pelos ambientes, favorecendo um fluxo livre e natural.


Nada de móveis sob medida ou fixos. Cada peça foi reposicionada como parte de uma alfaiataria espacial, onde o encaixe entre volumes, cores e memórias deu forma a uma casa com identidade singular.


Como o apartamento já havia passado por uma remodelação recente, o trabalho concentrou-se na curadoria de arte, objetos e design de interiores. O projeto procurou vestir o espaço de modo coerente com a história e o repertório dos moradores, explorando camadas de memória, arte brasileira e saberes locais.
A sala, com vista livre para a cidade e banhada por luz natural, é o grande ponto de impacto. O sofá solto da parede amplia a circulação, enquanto a mesa de jantar posicionada na diagonal orienta o olhar para a paisagem urbana. Os pontos de luz do teto foram eliminados, dando lugar a luminárias de piso e mesa, que conferem aconchego e protagonismo aos objetos.


Nos quartos, a pintura azul que percorre o dormitório principal, closet e WC constrói uma unidade cromática envolvente, em que a cor assume papel arquitetónico. O apartamento conta ainda com três quartos, três casas de banho, lavabo, escritório, cozinha, área de serviço e despensa — todos pensados para uma vida quotidiana fluida e generosa.





O projeto de iluminação manteve o mesmo raciocínio de simplicidade e liberdade: na sala, apenas luz indireta; nos demais espaços, peças racionais e delicadas, algumas em vidro antigo, aproveitando os pontos já existentes.
Embora não tenham sido utilizados materiais ecológicos estruturais, a decoração valoriza a produção artesanal brasileira, com peças em madeira e cerâmica provenientes de comunidades locais.
O maior desafio? Harmonizar um acervo rico e diverso de obras, móveis e objetos, sem perder a leveza e o equilíbrio visual. O resultado é uma casa que não se define por estilo, mas por vivência e afeto, um espaço que emociona pelo olhar e pelas memórias que evoca.






