Por a 27 Outubro 2025

Entre a Praça Luís de Camões e o Bairro Alto, o apartamento do designer Carlos Mota é um universo paralelo entre o charme de outrora e a boémia lisboeta. O espaço assume-se como um manifesto pessoal de estilo, humor e de um certo improviso. 

Projeto: Carlos Mota / Fotografias: James McDonald © Cabana

No coração do Chiado, o apartamento do designer Carlos Mota assume-se como um manifesto pessoal de estilo, humor e de um certo improviso. 

Com cerca de 120 metros quadrados, o apartamento é uma espécie de palco geométrico: dois grandes cubos, cada um emoldurado por generosas janelas que deixam entrar a luz teatral de Lisboa. Um é sala, outro é quarto, e pelo meio uma kitchenette discreta e uma casa de banho. Pequeno em escala, gigante em personalidade. 

A entrada faz-se por uma porta azul, que dá o tom e a certeza de quem já viu muitas vidas passar. Lá dentro, o verdadeiro deslumbre: frescos e estuques no teto que parecem ter sido pintados para hipnotizar. Há elementos dourados, ornamentos florais e, claro, detalhes inesperados, como uma borboleta pousada que parece ter sido deixada por um pintor do século XIX para divertir habitantes do século XXI. 

O estilo do proprietário? Global Chic, sem pedir licença. Peças compradas em Madrid, achados parisienses, descobertas inglesas e tesouros conquistados em leilões de Lisboa e Porto. As cadeiras Jansen e uma moldura preta gigante, compradas no Porto, foram o ponto de partida; depois, tudo se foi compondo com arte maioritariamente lisboeta e algumas peças nova-iorquinas, para manter a cadência cosmopolita. 

Perguntam-lhe se planeia? Nunca. Compra primeiro, pensa depois. E é esse método de improviso que transforma cada canto num manifesto visual. Resultado: uma casa que cria o seu próprio dicionário estético, que equilibra o charme antigo e a frescura contemporânea, que tem uma aura intemporal mas a vibração de quem não quer viver na monotonia. 

Se é um projeto terminado? Sim. Ou não. Porque quem vive à procura da beleza sabe que ela não se deixa arquivar. E as histórias que já aconteceram aqui? Apenas uma certeza: o que acontece em Lisboa… fica em Lisboa.