Por a 15 Setembro 2025

Chama-se Casa V, porque a sua planta, com a forma que lhe dá nome, adapta-se à topografia dispondo-se de uma forma orgânica com o contexto envolvente. Um exemplo de como arquitetura e natureza se podem integrar.

Projeto: João Tiago Aguiar / Fotografias: Francisco Nogueira / Design de interiores: Basegeometrica- Carina Seelig / segundo memória descritiva

A casa V é um exemplo paradigmático da busca pela integração sensível entre a arquitectura e a natureza, onde a forma e os materiais se dispõem de forma orgânica com o contexto envolvente. Organizada numa planta em “V”, adaptada à topografia e à orientação solar do terreno, a casa articula-se em volumes rectilíneos que, protegendo-se dos ventos predominantes de norte e noroeste, se abrem generosamente para sul, acolhendo o jardim e o mar distante. Esta configuração volumétrica assegura a privacidade e a fluidez, enquanto cria uma unidade estética e funcional, transcendendo a mera composição formal.

A primeira impressão que a casa transmite é marcada pela sua pele contínua de pedra, que reveste fachadas, pavimentos, tectos e coberturas. Este revestimento contínuo proporciona uma sensação de solidez e intemporalidade, como um gesto que unifica toda a volumetria. A continuidade da pedra reforça o carácter monolítico dos volumes, permitindo que a casa se afirme como um elemento orgânico, enraizado no seu contexto. Subtis ripados de pedra, cuidadosamente posicionados, filtram a luz natural, ao mesmo tempo que asseguram a privacidade nas fachadas voltadas para a piscina e para a suite na extremidade nascente.

A piscina, com a sua geometria longa e estreita, desenha-se ao longo da fachada sul, complementando a volumetria da casa e criando um ponto de repouso visual no jardim. A vegetação exuberante, de clara inspiração tropical, não só assegura a privacidade, como também confere ao ambiente uma atmosfera acolhedora, integrando a casa na paisagem de forma quase imperceptível.

Logo à esquerda de quem entra no lote, um alpendre para estacionamento, revestido a pedra, estabelece uma transição suave entre o exterior e o interior. Uma árvore atravessa o alpendre, estabelecendo a continuidade com o ambiente exterior e introduzindo o princípio de ligação com a natureza, que perpassa todo o projecto. O acesso pedonal, feito pelo lado nascente, conduz-nos até à entrada principal, atravessando uma ponte sobre a rampa de acesso à garagem, conectando, assim, de forma delicada o exterior à intimidade da casa.

Ao entrar, somos guiados por um hall que se abre para um pátio central, dominado por uma grande árvore que rasga a cobertura. Este pátio funciona como um elo de transição entre os dois volumes do “V”, criando uma continuidade entre os espaços exteriores e interiores. A luz natural entra generosamente através das grandes aberturas de vidro que rasgam os volumes de pedra, inundando o ambiente com luminosidade e criando uma atmosfera de serenidade e contemplação.

No volume poente do piso térreo encontra-se a zona social da casa, marcada pela fluidez entre os ambientes. A cozinha, posicionada como um volume autónomo, conecta-se com a sala de jantar e a sala de estar, separadas não por barreiras físicas ou portas, mas por volumes soltos que ocultam funções essenciais, como umas das escadas de acesso ao piso inferior, a instalação sanitária social e a despensa. A lareira, situada entre a sala de jantar e a sala de estar, define a transição entre estas áreas, mantendo, contudo, a continuidade visual entre os espaços. No lado nascente do piso, quatro suites estão dispostas de forma a serem acessíveis tanto pelo interior, através de um corredor naturalmente iluminado, como pelo exterior, por uma galeria coberta que se estende para o jardim a sul.

No piso superior, a master-suite ocupa uma posição privilegiada, destacando-se pela sua amplitude e pelas vistas panorâmicas sobre o campo de golfe, o pinhal e o mar. Este volume autónomo inclui um escritório, walk-in closet e instalação sanitária, criando uma experiência única de privacidade e tranquilidade. O terraço adjacente à suite, que se estende ao longo do volume norte, oferece um espaço de contemplação desobstruído, onde a paisagem se revela de forma serena e imersiva.

O piso enterrado alberga a garagem, isolada da casa e ocupando por completo a área a nascente. O volume inferior voltado para norte, alberga a zona técnica, lavandaria, ginásio, sala de TV/cinema e quarto de visitas/empregada. Este espaço é iluminado de forma indirecta por três poços ingleses, criando uma atmosfera discreta e serena, em sintonia com o restante da casa. As zonas de apoio, como o ginásio, a sala de cinema e o quarto de visitas, recebem a luz suave que se infiltra desses poços, criando um ambiente acolhedor e funcional.

A piscina, com o seu design simples e elegante, complementa a volumetria da casa, criando uma zona de lazer que se funde com o jardim. Os pequenos volumes de apoio à piscina, mais afastados, revestidos com a mesma pedra que caracteriza a casa, reforçam a continuidade material e conferem ao projecto uma unidade visual, integrando-se discretamente no espaço envolvente.

A casa V é, assim, um exemplo de arquitectura que procura privilegiar a fluidez espacial, a harmonia com o ambiente e a utilização de materiais intemporais e duradouros. Cada gesto arquitectónico foi pensado na tentativa de criar um espaço funcional e intimista, mantendo uma profunda ligação com o contexto natural e traduzindo-se num refúgio sereno e intemporal, onde a autenticidade e a simplicidade se revelem em cada detalhe.