Por a 25 Agosto 2025

“Sem pretensões, mas onde me sinto tão bem”, assim é a casa em Lisboa de Michèle Fajtmann, fundadora da Lisbon Design Week, onde o design vive com leveza. 

Texto: Isabel Pilar de Figueiredo / Fotografias: Francisco Rivotti / Produção: Amparo Santa-Clara 

Localizado num edifício com uma história rica e multifacetada, que já serviu de quartel da GNR, escola e até cenário de filmagens, este apartamento em Lisboa é hoje um refúgio familiar pleno de autenticidade, calor e memórias em construção. Para a proprietária, que se mudou numerosas vezes ao longo da vida, foi uma daquelas raras ocasiões em que o espaço certo se reconhece à primeira vista. “Estava um dia de sol quando entrei na sala e apaixonei-me. A luz entrava de vários ângulos e dançava sobre o chão de madeira — era perfeito”, confidencia a belga Michèle Fajtmann, fundadora da Lisbon Design Week. 

Sem recorrer a grandes remodelações, a intervenção respeitou a identidade original do apartamento. As janelas foram substituídas, uma das casas de banho foi totalmente renovada e a cozinha, espaço central da vida quotidiana, ganhou um toque retro, com dois lavatórios generosos e um fogão SMEG a gás, que remete para casas de campo imaginadas. “Nunca tive uma casa no campo, mas essa inspiração guiou-me. Quis manter o que já estava ali.” 

O resultado é uma casa vivida, onde o design interage com o improviso e onde o conforto impera. O estilo? “Uma casa de família, nada mais”, resume. Com dois cães, uma filha que a visita com o marido e a neta, e uma vida dividida entre Lisboa, Bruxelas e Londres, a casa espelha o movimento e a espontaneidade do dia a dia. “Está sempre um pouco caótica, mas essa é a vida real. Aos fins de semana é quando mais a desfruto. Gosto de ter amigos à volta da mesa — uma mesa comprida da Branca Design, do designer Marco Sousa Santos, que descobri ainda na primeira mudança para Lisboa, em 2018.” 


A madeira surge como material dominante, nos móveis e no pavimento, e o verde, a sua cor preferida, aparece com frequência, em objetos e tecidos. Há flores e livros por todo o lado. E há arte: fotografias, cerâmicas, peças têxteis e mobiliário de designers e artesãos portugueses, lado a lado com objetos trazidos de Bruxelas, Londres e Polónia, onde viveu e trabalhou. A fotografia de Daniel Blaufuks, da série Attempting Exhaustion, é uma das suas preferidas. “Há algo de pessoal naquele trabalho. A janela, a luz, o livro sobre a mesa… remete para o que mais gosto: livros, luz natural, interiores com alma.” 

A cozinha é o centro nevrálgico da casa. “Ali começo e termino o meu dia. Instalámos um banco junto à janela — como não temos varanda, finjo que é o meu terraço. Abro a janela, leio um livro e observo a vizinha do prédio em frente a estender a roupa por cores. É um pequeno ritual urbano que adoro.” 

A fundadora da Lisbon Design Week admite que a curadoria do evento alterou a forma como olha para o design: “Passei a valorizar muito mais o trabalho artesanal, os materiais naturais, a produção local. Mas nunca quis transformar a minha casa num showroom. Mais do que peças de coleção, procuro uma sensação de pertença, conforto e verdade.” 


Há ainda sonhos por concretizar — uma varanda, por exemplo — mas o essencial está lá. A luz, os livros, os afetos, a liberdade para viver cada espaço como ele se oferece. “Sans prétention mais on s’y sent bien.”