Por a 30 Julho 2025

No coração da Rua Castilho, em Lisboa, um apartamento dos anos 1940 renasce com nova identidade pelas mãos da designer de interiores Eliana Tomaz.  

Projeto: Eliana Tomaz / Fotografias: Gui Morelli / Texto: Isabel Figueiredo

Com 350 m² distribuídos por nove assoalhadas e uma vista generosa sobre o Parque Eduardo VII, o Apartamento RAU é um manifesto de elegância serena, onde o património arquitetónico dialoga com a narrativa contemporânea. Concebido como residência secundária para uma família americana com raízes portuguesas, o projeto parte da liberdade criativa total, mas com uma responsabilidade clara: criar um lar que refletisse a identidade cultural dos proprietários. 

A inspiração? O próprio parque que o apartamento contempla, com a sua flora exótica, a estrutura geológica que o sustenta e o céu lisboeta sempre presente. A abordagem da designer foi firme — fiel ao seu ADN criativo, com respeito pelas marcas locais, o artesanato e a memória — e extremamente sensível às necessidades quotidianas de quem habita. 

A entrada exibe peças de família e o armário-bengaleiro, desenhado à medida para este espaço, construído em carvalho natural, com interiores forrados com papel de parede que remete para a flora da vizinha Estufa Fria. O mesmo cuidado é revelado em cada divisão: da sala de estar, onde pavimentos e tetos originais conversam com arte contemporânea portuguesa, até à cozinha redesenhada com mármore Verde Serpa e detalhes em ferro fundido. 

Na biblioteca, livros e objetos de família contam histórias; no bar, a descontração é celebrada com design funcional; no ‘media room’, tecnologia de ponta encontra conforto em tons de madeira e castanho — o sistema de som e imagem é Bang&Olufsen. 

O projeto presta ainda homenagem à estética e utilidade com a criação de espaços como o ‘powder room’ — ousado e lúdico, com paredes verde-escuro e um papel de parede vibrante com dois dos animais favoritos dos clientes: baleias e tartarugas— e o jardim de inverno, onde peças vintage portuguesas dos anos 70 ganham nova vida. 

No quarto principal, a serenidade marítima é traduzida numa paleta de azuis e vermelhos profundos, enquanto o ‘walk-in’ closet e a casa de banho privativa celebram materiais autênticos como a pedra de Lioz e o carvalho, num equilíbrio entre tradição e modernidade. 

Eliana Tomaz desenhou também grande parte do mobiliário e carpintarias à medida, em colaboração com artesãos locais. A curadoria de peças inclui marcas como Svenskt Tenn, Molteni&C e Gubi, além de mobiliário vintage recuperado. A arte tem uma presença forte e cuidadosamente selecionada — com nomes como Bárbara Assis Pacheco, Nelson Magro ou Vânia Gonçalves — e o projeto de iluminação, integralmente revisto, combina funcionalidade e atmosfera com peças da Flos, Marset, Vibia ou Lobo Atelier. A paleta cromática — centrada no azul e verde, cores da cidade — reforça a ligação emocional ao exterior; os tecidos naturais, mármores e madeiras mantêm a coerência sensorial do espaço. 

Todos os elementos refletem uma vontade de criar algo mais do que uma casa: um lugar com alma, construído sobre a confiança e o rigor do processo criativo, mesmo à distância.