Por a 23 Janeiro 2025

Localizado no centro de Lisboa, este apartamento de pés direitos altos e carpintarias antigas contou com o projeto de renovação e de design de interiores de Maria Roquette. As fotografias são de Gui Morelli.

Projeto: Maria Roquette / Texto: Isabel Figueiredo / Produção: Amparo Santa-Clara / Fotografia: Gui Morelli

Adquirido em junho de 2024, este apartamento atraiu desde logo as atenções dos seus novos proprietários por manter algumas características de arquitetura que, pese embora teriam de ser aprimoradas, ou destacadas, confirmavam todo o seu charme e elegância. Maria Roquette, arquiteta e designer de interiores, que assina o projeto de remodelação e de design, conta-nos: “Procurava-se justamente um apartamento para reconstruir, que evidenciasse detalhes de charme, que pudéssemos manter ou reinterpretar e renovar. E esta casa era única”! Pés direitos altos, carpintarias antigas e um soalho “deslumbrante”, são alguns dos pormenores que “saltam ao olho assim que se passa da porta para dentro”. 

O apartamento — originalmente dividido em quatro quartos, dois deles em suíte, dois escritórios e um ateliê — tinha, claramente, uma enorme necessidade de renovação. “A casa estava exatamente como era, há 40 anos, e foi clara a necessidade de uma intervenção de vulto”. Assim, todas as áreas foram objeto de estudo, e de ação, começando pelas áreas privadas dos quartos, as áreas sociais e zonas de serviço. “O apartamento foi picado até ao osso, mantendo obviamente intactos os elementos a preservar”, acrescenta. 

O conceito subjacente a este projeto foi respeitar a linguagem arquitetónica usada à época e, sempre que possível, dar continuidade aos materiais existentes. “São estes que o tornam tão especial e com um encanto muito próprio”. Neste sentido, tanto nas salas como nos quartos recorreu-se à madeira, gesso e pedra; por seu turno, nas casas de banho e cozinha optou-se por alguns detalhes mais contemporâneos, “caso do corian que, a par de um vocabulário mais clássico, funcionam bem e permitem um uso mais prático e atual”.  

Em termos estruturais foram levadas a cabo algumas alterações, intimamente relacionadas com as necessidades específicas da família que habita este apartamento. São exemplos disso a criação de uma casa de banho de raiz para transformar mais um dos quartos em suíte ou a reconversão de uma sala num quarto. 

“É sempre um privilégio incrível poder pegar num projeto de A a Z e ter a nosso cargo não apenas a obra como toda a parte da decoração, até ao mais ínfimo detalhe”. Foi o que aconteceu neste caso. “Os dois processos nunca estiveram desligados um do outro — a obra e o design de interiores. As escolhas de acabamentos e materiais andaram sempre a par e passo com as intenções de decoração”. O apartamento foi pensado desde o início como um produto acabado, com um estilo muito claro. “Como se, logo no dia um, fechássemos os olhos e visualizássemos um ‘frame’ da sua imagem final”, conta-nos Maria Roquette. “Para isso, é preciso traçar-se um caminho e sermos-lhe sempre fiel, do princípio ao fim. São múltiplas as decisões… do desenho à textura, mas também a cor, a forma e a escala. É um exercício visual em que se dá a cada um dos elementos (construtivos ou de decoração) a liberdade de se destacar sozinho, mas também a responsabilidade de ter de conviver em harmonia no conjunto de que faz parte”. 

Nesta casa, a grande maioria dos quadros, esculturas e fotografias são peças com uma história para contar. Ou por serem da autoria de familiares ou por serem resultado de uma qualquer ideia improvável — os espelhos da sala de jantar, por exemplo, são os mesmos espelhos que se retiraram e aproveitaram das demolições das casas de banho durante a obra, e que foram, entretanto, mandados emoldurar no vidraceiro em molduras de fio de ouro compradas em leilões. “Este tipo de soluções, que à partida podem parecer absurdas, são as que me dão mais prazer de implementar”. 

Hoje, esta casa recebe com gáudio e em total conforto, uma família feliz, composta pelo casal e os seus três filhos, no coração da cidade, usufruindo do seu encanto, luz e serviços. Mas tão recolhida e serena, quanto possível. 

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