O designer de interiores Roberto Souto transformou um antigo armazém de materiais na fazenda da sua família, na sua própria casa de campo e deu-lhe o nome de “Cabana do Lago”.
Projeto: Roberto Souto / Co-produção visual: LeilaBittencourt / Fotografia: Sambacine / segundo memória descritiva
A ideia surgiu durante a pandemia, quando toda a família do designer se refugiou na propriedade a sul do Rio de Janeiro. Na altura, esta “casa do lago” de 100m2 era um antigo depósito de materiais da Fazenda Santanna do Sobradinho, que sempre pertenceu à família de Roberto Souto.
“Durante a pandemia, refugiamo-nos nesta fazenda nos primeiros meses. Na ocasião, comecei um trabalho de jardinagem e paisagismo. Um dia, quando fui buscar algumas ferramentas ao armazém, abri a janela e vi a magnífica vista para o lago. Imediatamente pensei: se eu demolir esta parede e substituir por vidro, vai ficar incrível”, conta.
A obra no antigo armazém foi executada com mão de obra local, preservando não só a sua área interior como também o telhado e as telhas. Roberto criou uma planta com cozinha integrada à sala e circulação que dá acesso às duas suítes, e adicionou uma varanda lateral, o pátio onde costuma almoçar no lado de fora e a escadaria de acesso ao lago. Já o terreno foi mantido como estava.
De uma forma geral, o conceito do projeto foi criar uma casa integrada na região, discreta, prática e confortável. Embora seja muito simples, a propriedade esbanja estilo e conforto para quem procura sossego e contemplação. Todos os móveis foram adquiridos em leilões ou herdados de outras casas, com destaque para a cómoda em jacarandá, que pertenceu à casa dos pais de Roberto, o sofá em couro, a mesa de centro Guaimbê (do designer Paulo Alves), o pufe estofado com um tapete trazido do Egito e, por último, o par de poltronas LC1 e a chaise longue LC4 (de Corbusier, produzidos pela Forma/Probjeto). “Tenho um estilo mais contemporâneo, que fica evidente na escolha do mobiliário. Eu definiria a casa como uma cabana confortável, ideal para uma vida sossegada e sem ostentação”, explica o designer de interiores.
Entre as obras de arte, com exceção da série de desenhos em lápis de cor, do artista Glauco Rodrigues (na cabeceira da suíte), quase tudo é arte popular/artesanato. Destaque para o Gato Sentinela, que fica a postos na fachada de vidro da casa, os trabalhos em arte plumária da sala de jantar e as fotografias de insetos que adornam as paredes do living.
Na suíte de casal, vale a pena destacar a solução criada para inserir a casa de banho, deixando o lavatório exposto no dormitório, com uma marcenaria muito simples sobre um lavatório com pedestal vintage. Uma cama em ferro e duas mesas laterais compradas num leilão compõem o mobiliário.
Na suíte de hóspedes destacam-se as duas camas modernistas de autor desconhecido, que foram encontradas numa loja em São Paulo. “Tudo muito simples, quase monástico”, define o designer.
Na cozinha e casas de banho, o pavimento é de ladrilho hidráulico e as bancadas de cimento queimado, feitas na obra. Repare-se ainda que a sala não tem cortinas para não atrapalhar a integração do interior com o exterior. “Quando todas as caixilharias estão recolhidas, a sala junta-se ao pátio e a natureza fica emoldurada pela fachada da casa”, pontua. Na decoração, há uma predominância de tons terrosos, entre castanhos, crus e madeira.
Vale ainda a pena referir que, toda a marcenaria foi desenhada por Roberto e executada por um profissional local. “Uma coisa nesta casa que já se tornou uma marca registrada nos meus trabalhos é o uso de um só material no piso de toda a residência, exceto nas áreas húmidas”, ressalta. Neste caso, foi escolhida a madeira Garapa, que aquece e traz a sensação de acolhimento necessária para uma casa localizada numa região com altitude. Pelo mesmo motivo, Roberto revestiu a parede e o teto da sala com tábuas da mesma madeira. “Assim, o pavimento sobe pela parede e se estende pelo teto em continuidade”, justifica.
Na sala de jantar, a mesa de jantar de madeira foi projetada por Roberto junto com Neltinho, o faz-tudo da região. Já o candeeiro pendente Ufo, da Lumini, faz um contraste interessante com as cadeiras vintage, cedidas pela sua cunhada.
“Gosto de reunir nesta casa grupos pequenos, de até oito pessoas, no máximo. Quando necessário, instalo alguns hóspedes na casa principal da fazenda, que fica a 800m de distância. Já quando vou sozinho, com meu neto João Henrique, a casa é um lugar ideal para conviver em família”, conclui o designer Roberto Souto.