Por a 28 Junho 2024

José Martinez Silva, do Atelier Central Arquitectos, assina o projeto de arquitetura desta casa, que nasce a partir de uma antiga adega, na Aldeia Galega da Merceana, Alenquer.

Projeto: Atelier Central Arquitectos | Fotografias: Fernando Guerra FG| SG | segundo memória descritiva  

Finalizada em 2021, com uma área bruta de construção de 370 m2, aquela que é hoje a casa de uma família foi antes uma adega. Encontrada em estado de ruína, esta adega, conhecida como Casal da Vinha Grande, tem vista sobre a Aldeia Galega da Merceana, usufruindo de toda aquela paisagem de verde.

Remodelada e adaptada para uma unidade de habitação com vocação para o enoturismo, a casa insere-se numa propriedade onde se produz vinho biológico e tudo aqui foi pensado numa lógica de coerência e de respeito pela natureza. 

Foi intenção, desde o início, manter a imagem de referência e harmonia da construção existente, implantada sobre um promontório, que se evidencia ao longo do caminho em terra batida, e nos conduz visualmente até à porta de entrada. 


Todo o processo de conversão, e recuperação da antiga adega, teve por base a vontade de manter a sua marcante imagem original, dotando-a de condições de habitabilidade para acolher os espaços sociais — uma ampla sala de receção, de estar e de refeições, e, escondidas nas traseiras dos depósitos de vinho em betão existentes, uma cozinha e uma casa de banho social. Foi ainda vital respeitar as memórias das pré-existências, mantendo os depósitos de vinho, o lagar e o pavimento em betão e todos os elementos estruturais das asnas de suporte da cobertura em madeira. 


Pontualmente, foram rasgadas as fachadas, com vãos de grande dimensão debruçados a nascente e a poente sobre a vinha, protegidos pelo interior através de portadas de madeira de pinho, com tratamento a óleo natural, mantendo a aparência crua do material. A chaminé existente acolhe e determina o posicionamento da imensa lareira desenhada na área de estar. Sobre as paredes existentes, um sistema de isolamento pelo exterior, ETICS, constituído por aglomerado negro de cortiça e argamassa de cal hidráulica de cor branca, assegura o imprescindível conforto térmico, respeitando a imagem original da construção existente. A estrutura em madeira de suporte da cobertura existente é mantida e recuperada, considerando o seu valor estético, mas redefine-se o seu detalhe construtivo com o assentamento de uma forra em madeira de pinho, base de suporte para os novos isolamentos, térmico e de estanquidade, e para a telha que é reaproveitada. 

Acolhendo os quartos, o edifício ampliado implanta-se a uma cota inferior, semienterrado, afastado, assim da adega, respeitando e preservando o seu papel de referência na encosta. Ergue-se ao nível do plano da vinha, como um bloco de pedra da região, esculpido pontualmente, e assim assegurando a abertura da escada, a forma da piscina e os profundos vazios dos vãos dos quartos. As varandas reentrantes de contemplação, orientadas a sul sobre a encosta e a vinha, garantem a privacidade e a proteção solar durante o período do verão e escondem um rasgo vertical, estreito, que ilumina e ventila a casa de banho. Por seu turno, a piscina, escavada na cobertura do bloco de pedra, espelha toda a paisagem e encerra o volume a nascente. 


O túnel subterrâneo em betão aparente, com um desenho fluido e orgânico, une os edifícios evocando a temática vinícola. Este é um percurso encerrado, escuro, mas pontuado por uma clarabóia circular que lhe confere uma iluminação singular. 


Lá fora, privilegiando a “força” da vinha, como paisagem mutante ao longo do ano, o traçado do percurso de acesso foi reforçado estruturalmente, garantindo a circulação de veículos, mesmo em condições adversas. Afastado da construção e aproveitando uma ligeira depressão do terreno, define-se uma área de parque de veículos, que se revela oculta por vegetação. Há ainda um percurso saibro estabilizado em redor da adega, orgânico e fluido, circulando entre árvores mediterrâneas de grande porte e plantas aromáticas. A norte, com acesso pela cozinha, delimita-se uma eira, uma área de churrasco para um convívio associado às provas de vinhos, com uma estrutura ligeira de sombreamento em aço. Uma latada que consolida o crescimento da vinha. 

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