A Casa Houlpoch é uma antiga construção iucateca do final do século passado, batizada com o nome de uma cobra da região (Yucatán) que “visitava” regularmente as ruínas da propriedade. Os seus proprietários, dois holandeses, apaixonaram-se pelo lugar e quiseram devolver-lhe a tradição.
Projeto: Workshop Diseño y Construcción / Fotografia: Tamara Uribe / Texto: Isabel Figueiredo
O atelier Workshop, dos arquitetos Francisco Bernés Aranda, Fabián Gutiérrez Cetina e Isabel Bargas Cícero assina o projeto desta casa em Mérida, Yucatán, concluída no verão de 2021. Com uma área coberta de 315 m2, a casa esconde, atrás de sua fachada colonial, quatro quartos e um estúdio.
Ao entrar no hall, somos recebidos por um antigo candeeiro de ferro fundido (peça muito comum nas casas do século XIX da cidade) que pende das vigas metálicas originais e que, a par com as vigas de madeira brancas, adornam os tetos altos da residência.
A sala, em tons pastel, está equipada com mobiliário moderno e descontraído, integrando a vegetação e obras de arte, caso do lúdico Timóteo na mesa de centro e da pintura de Pedro Friedeberg por cima do sofá, a coroar o espaço. O “tapete” em mosaico de massa cinzenta, é torneado por um antigo rebordo branco que une a cozinha e a sala de jantar através de três velhas portas coloniais que foram reaproveitadas, à medida que foram encontradas, preservando o seu caráter e o seu valor histórico.
A cozinha, com revestimentos em pasta e quartzo, faz uma releitura dos antigos sinos de Yucatán no fogão. Os candeeiros de teto, da Axoque Studio, harmonizam o espaço e fundem-se com os móveis de madeira, sendo bom exemplo disso os bancos tzalam da sala de jantar, comprados em Moçambique, país onde os proprietários holandeses viveram antes de se instalarem na península de Yucatán.
A sala de jantar está ligada ao terraço através de uma janela, gerando uma sensação de amplitude e clareza, deixando que o olhar escape para o exterior. É neste último espaço que, através da decoração e do mobiliário, convergem as três culturas com as quais os proprietários se identificam: a mesa, a sua peça central e o tambor, foram trazidos de Moçambique, bem como os padrões em tecido que circundam duas cadeiras Utrecht pelo designer e arquiteto holandês Gerrit Rietvelt. No sofá, repousa um quadro do artista mexicano Fernando Andriacci e no lado oposto destaca-se, como elemento decorativo, uma cabeça de vaca enfeitada com contas de arte Huichol; logo abaixo, uma tradicional bicicleta holandesa com as cores do Prinsenvlag desvia para ela o nosso olhar.
No pátio central, uma piscina de chukum circunda os vestígios de pedra de uma antiga estrutura colonial onde um grande choupo gera um espetacular jogo de luz e sombra com a sua folhagem, criando o ambiente perfeito para alojar uma cozinha ao ar livre.
A parte pública e a privada da casa estão simbolicamente ligadas por meio da cerca perimetral que dialoga com duas texturas diferentes: por um lado, temos a alvenaria de pedra original na parte inferior, e na parte superior uma nova parede acabada com chukum, unindo o passado ao presente.
Nas traseiras da propriedade encontram-se os degraus para o segundo nível – onde ficam dois quartos e um terraço -, e servem como eixo visual e como elemento escultural, tornando-se a marca registada da sua arquitetura, pelo dinamismo visível.
O “meandro” com que começam as escadas da Casa Houlpoch inspira-se na escada milenar do antigo templo de Kukulkán (serpente emplumada e deus na mitologia maia) em Chichén Itzá, onde a cada equinócio pode ser observado como a divindade (formada devido aos efeitos da luz e da sombra que é gerada), desce da parte superior do templo.
Com um design muito mais simples, o quarto principal, no primeiro nível, tem uma cabeceira feita de ladrilhos de massa sobre a qual repousa uma pintura Neon Caron. As vistas da cama escapam para o exterior graças à utilização de janelas em dois extremos opostos do espaço: a primeira com vista para um jardim interior e a segunda completamente escondida nas paredes, com vista para a piscina e os jardins tropicais.
“Procurámos, nesta casa, respeitar e resgatar os valores históricos da arquitetura colonial Yucateca, combinando-os com detalhes e volumes contemporâneos; e com os confortos da vida de hoje, de forma reinterpretativa, pura e sóbria, criando diferentes ambientes para relaxar, viver juntos e desfrutar do ar livre no quente clima peninsular”, resumem os arquitetos.