Por a 21 Novembro 2023

O coletivo francês Maison Amarande descobriu este apartamento, junto ao jardim da Gulbenkian, durante o seu processo de busca por Lisboa – desejavam encontrar uma casa para remodelar, sem prejuízo da traça original. É o caso deste edifício, que exibe todo o charme de um clássico prédio lisboeta do início do século XX. O resultado assinala o seu olhar sensível e extremo bom gosto. 

Projeto: Maison AmarandeFotografia: Francisco Nogueira, segundo a memória descritiva 

O apartamento de 187m², com terraço, sala de jantar e sala de estar, tem quatro quartos, quatro casas de banho, além da cozinha e zona de lavandaria. O design de interiores pertence à dupla francesa Maison Amarande. 

O objetivo? Encontrar um apartamento familiar, confortável, e dotá-lo de uma ampla área de estar aberta. Para tal, este coletivo familiar, a morar em Lisboa, teve de analisar com os engenheiros quais as paredes que poderiam ser eliminadas. Neste processo de remodelação, também foi redesenhado o espaço, porque era sua intenção dividir as partes social e privada com clareza. Era ainda desejado revisitar a arquitetura clássica portuguesa do apartamento e transformá-la num interior contemporâneo, mas preservando, tanto quanto possível, os vestígios do passado, como os tetos lindamente decorados. 

A localização do projeto foi o ponto de partida para o conceito de design. Este apartamento é claramente urbano, por estar localizado no centro da cidade, mas a natureza é visível a partir do interior, nomeadamente os belos jacarandás, voltados para as janelas da sala, e o jardim Gulbenkian, que dista apenas um quarteirão de distância a pé. Tal foi refletido no design, com o recurso à madeira e às cores naturais. O branco total não faz parte do seu estilo. 

Foram mantidos ao máximo os elementos originais – tetos, pisos de madeira e outros – de modo a celebrar a alma da casa; por seu turno, algumas paredes tiveram de ser removidas, para se obter a amplitude desde sempre desejada. Não obstante, Laurence e Xavier Beysecker debateram-se com alguns desafios. É o caso do corredor de 22 metros de comprimento, uma característica-chave do design do apartamento. No fim do dia, a eliminação de algumas paredes e a construção dos arcos, que descrevem um ritmo agradável, terminando na porta de vidro curva, revelou-se uma solução harmoniosa. “Talvez porque tenha sido o maior desafio, é também o espaço de que mais nos orgulhamos”. Laurence e Xavier também destacam a ‘master suite’, ampla e bem iluminada, com a sua abertura direta para o terraço e o amplo closet, como outra das áreas da casa da sua eleição. 

A espaçosa cozinha concentra uma combinação elegante de materiais: madeira e laca para os armários, piso em mosaico e azulejos japoneses. Este espaço inclui uma área de refeições informal, simpática. Esta conjugação harmoniosa e inteligente de materias é uma constante no apartamento. Madeira, latão ou cana são alguns dos que Maison Amarande escolhe, em regra, para criar peças personalizadas interessantes e fugir ao estilo ‘branco total’. A paleta de cores, por seu turno, é uma mistura de madeira de carvalho branco e natural com alguns toques de calma, e cores, como verde e terracota. Com efeito, a madeira natural de carvalho está bastante presente nos armários da cozinha, nos roupeiros dos quartos e nalguns apontamentos, nomeadamente nos elementos divisórios.  

Os ladrilhos também são importantes no seu trabalho, oferecendo possibilidades ilimitadas de textura, padrão ou cores. New Terracotta, Mutina, Fornace Brioni são os favoritos do momento. Os azulejos portugueses da casa de banho de terracota, feitos à mão, são de Terracota Nova. 

As portas de altura total são também um dos elementos de design favoritos, que esta dupla gosta de incluir nos seus projetos, sempre que possível, para a criação de efeitos de claro / escuro e permitir trazer mais luz aos espaços, mas sem prejuízo da privacidade. Em todos os seus projetos, a iluminação é sempre cuidadosamente estudada e selecionada, misturando-se de forma homogénea com os demais elementos do design – por exemplo, os focos orientáveis ​​montados na superfície preta enfatizam o design do corredor. 

Há 30 anos que o casal coleciona arte e, como tal, Laurence considera que a arte é um dos elementos-chave do design de interiores para definir a personalidade de uma casa, para dar alma a um espaço. Foi, por isso, sua intenção centrar as atenções, principalmente, em artistas portugueses, caso de Jorge Feijão, Daniel Blaufuks ou Jorge Santos. A pintura do mestre de cerimónias é de Philippe Borderieux. 

Contas feitas, a busca saldou-se positiva. O resultado foi ao encontro das suas expectativas e este apartamento reencontrou a sua alma, mas hoje revisitada com outro fulgor, para uma vivência na cidade que se quer confortável, luminosa e arejada. 

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