Reconfigurada para um casal de criativos e os seus filhos, esta casa vitoriana com 130 anos foi transformada melhorando espaços e relações. As formas curvas unem os interiores, que num jogo de compressão e expansão incentivam o fluxo e a descoberta.
Projeto: Dubbeldam Architecture + Design / Fotografia: Riley Snelling
Possivelmente já todos ouvimos e muitos proferimos a frase: “go with the flow”, que incentiva a deixarmo-nos ir sem oferecer resistência, partindo apenas à descoberta do que está para vir. Pois bem, a ideia virou conceito nesta casa canadiana desenhada pelo escritório Dubbeldam Architecture + Design que a batizou, claro, de ‘Flow House’.
A casa vitoriana e geminada, com 130 anos, foi reconfigurada para um casal criativo e para os seus filhos. E a sua transformação, incluiu a adição de espaço na parte de trás e na parte superior, melhorando as relações com o exterior e atualizando o interior e o quintal para uma vida contemporânea.
A fachada principal tradicional foi mantida, enquanto o interior é agora um reflexo significativo das personalidades únicas, vocações e experiências partilhadas da família.
Embora tenha menos de cinco metros de largura, e uma área adicional de 230 metros quadrados, a casa parece muito maior, e isso, explicam os autores do projeto, deve-se a uma estratégia de compressão e expansão. “Espaços intersticiais estreitos fecham, criando uma sensação de compressão, para depois se abrirem para espaços maiores com tetos altos. E há ainda momentos de surpresa – a fusão de espaços interiores e exteriores, a introdução de luz natural em locais inesperados e a criação de elementos que conferem uma qualidade orgânica à casa”, explicam os arquitetos.
Fazendo referência à profissão de ceramista de um dos proprietários, a noção de tato e artesanato permeia a casa através de materiais, formas, padrões e texturas. Sugerindo um híbrido complementar de influências escandinavas e mediterrâneas, onde os armários de madeira, ou o pavimento em carvalho, são acentuados por elementos em betão e mármore, acessórios de latão antigo e pendentes de argila moldados à mão.
Um pano de fundo limpo de paredes brancas e prateleiras fornece uma tela em branco para mostrar a coleção de arte, tapeçarias e esculturas de artistas locais e da família, juntamente com artefatos colecionados durante viagens e as próprias cerâmicas do proprietário. A cor anima os espaços intersticiais da casa – azulejos de terracota são colocados num padrão de espinha de peixe no hall de entrada,
Sustentados por uma estética de contornos fluidos – um contraste deliberado com a planta retilínea – os elementos interiores da casa parecem esculpidos em vez de construídos. A escada helicoidal que liga todos os quatro andares é um ponto focal que expressa a sensação de fluxo.
“Formas curvilíneas foram colocadas por toda parte”, diz a diretora do escritório, Heather Dubbeldam. “As aberturas em arco entre os quartos estimulam a expectativa, uma vez que emolduram as vistas do que está além, ressoando com paredes curvas, recantos de exposição, ou a ilha da cozinha e a bancada, aprimorando ainda mais o lado escultural e sensível da casa.”
Para além de utilizar os mais modernos sistemas e materiais sustentáveis para promover o bem-estar, grandes janelas e clarabóias fornecem luz abundante, ventilação natural e relações com o exterior. As portas de vidro deslizantes do chão ao teto com estrutura de mogno no terceiro andar, fornecem acesso a um deck na cobertura, enquanto uma porta igualmente elevada na cozinha se abre para o pátio traseiro.
Estratégias espaciais semelhantes continuam no pátio traseiro. Os volumes de painéis de cor carvão que compõem a nova fachada são recuados em vários planos para criar um deck de cobertura e uma entrada rebaixada. No jardim dos fundos, a compressão e a expansão são mais exploradas por meio de canteiros estreitos que se abrem para espaços mais amplos projetados para brincar, jantar e relaxar. A pérgula de madeira, o pavimento de tijolos e os móveis ocres ao ar livre dão resposta aos vários climas temperados que a família experimentou, e o paisagismo foi pensado para ser exuberante o ano todo.