Esta é uma daquelas casas que, dizem os autores do projeto, não pode ser fotografada, tem de ser vivida. Resultado de várias experiências com o seu material de eleição – o betão -, a casa implanta-se sinuosa no seio de um pomar de mangas ao sul da Índia.
Projeto: Samira Rathod Design Atelier / Área: 5000 m2 / Localização: India / Ano: 2022 / Fotografias: Niveditaa Gupta / texto através da memória descritiva
Todos os projetos são uma resposta a vários parâmetros – físicos, metafísicos, tangíveis e intangíveis. Hoje, a ideia de sustentabilidade é imperativa, mas a sua definição tem muitas interpretações. Uma dessas respostas é esta casa, que foi apelidada de “Casa das Experiências em Betão”.
Qualquer cliente hesitaria em experimentar novas ideias e materiais para a sua casa, mas não o proprietário desta. Um verdadeiro patrono, ele próprio estudante no MIT e uma mente progressista com uma atitude em relação à inovação e uma compreensão de que o fracasso é apenas um dos muitos passos para o sucesso.
A “Casa das Experiências em Betão” é um projeto residencial, localizado no meio de um pomar de mangas, na cidade costeira de Alibaug, perto de Mumbai, na Índia. Foi planeada como um grande estúdio, com apenas um quarto de casal. Num anexo à casa principal existem mais dois quartos de hóspedes.
No início do projeto, foi decidido colocar a casa em torno das árvores sem perturbar nenhuma delas, o que naturalmente levou a uma forma fragmentada e sinuosa. Um poço existente no terreno foi transformado num pátio rebaixado e as árvores cultivadas, quase levam a folhagem verde para dentro da casa.
Paredes e estrutura foram colocadas de forma a tornarem-se elementos escultóricos, para que a casa, livre de colunas, se tornasse um grande espaço livre.
Três grandes saliências inclinadas em balanço desafiam os conceitos de estabilidade estrutural. Mas elas foram meticulosamente projetadas para adicionar uma forma à casa que, de outro modo, seria plana.
As paredes, que variam de 450mm a 1000mm de espessura, funcionam como um isolante natural, tornando o interior da casa muito mais fresco do que o exterior. A espessura, também permite aproveitar o volume das paredes como arrumação e colocar janelas recuadas para melhor impermeabilização.
A casa é fiel a um material: o betão modelado. As paredes táteis são todas moldadas com diferentes experiências em betão que conferem texturas específicas a cada uma delas. As experiências incluíram betão moldado com detritos, betão projetado e betão pigmentado.
As paredes grossas da casa principal são em betão moldado com detritos do local para reduzir o uso de material e dar uma certa textura áspera. Os detritos incluem lascas de pedra, tijolos partidos e, às vezes, grandes pedaços de resíduos de pedra embutidos nas paredes quase como uma relíquia.
No bloco de hóspedes, o betão moldado tem um tom cor-de-rosa, que foi feito ao adicionar pó de tijolo, o que dá uma leve cor de blush em contraste com o cinzento da casa principal.
Em relação aos pavimentos, foram feitos a partir da reciclagem de resíduos. Kadappa preto, mármore branco e mármore rosa, são usados em diferentes áreas e em diferentes formas para fazer do piso uma grande obra de arte. Nos quartos e nas casas-de-banho, o pavimento foi feito com pequenas lascas de azulejos partidos, colocadas no cimento, que assim brilham e refletem a luz do sol, iluminando esses espaços.
A luz é um material de construção importante na casa. Existem várias claraboias, todas de diferentes formas e tamanhos, mas todas estrategicamente posicionadas para captar luz durante o dia. Raios de luz entram zenitalmente e “caem” no chão, criando um jogo de luz e sombras por toda a casa.
Os detalhes incorporados na arquitetura e nos interiores desta casa criam surpresas contínuas, tornando o espaço, de outro modo avassalador, muito íntimo e habitável. Esta casa, é aquela que não pode ser fotografada, mas um espaço que precisa de ser experimentado.